Os olhares dos amigos foram ficando ternos. Sinal de que não tinham se esquecido totalmente. Foi quando Silvia entregou-lhe uma carta para a pessoa que, segundo ela, era quem organizava a escolha do premio. Para, logo depois, perguntar por quanto tempo ele ficaria em Estocolmo.
"Tudo depende de como as coisas acontecerem . Poderei ficar uns dois ... três meses; ou - quem sabe ? - a vida toda. O certo é que - por minha vontade - não voltarei ao Brasil sem pelo menos saber os motivos do ostracismo vindo da Academia Sueca de Ciências para o meu país." Respondeu com um sorriso nos lábios.
"Lembro que estse quixotismo vem de longe. Lembra quando na descida para o estádio do Pacaembu você entrou numa briga de garotos para defender um deles que sequer conhecia, acabou com um olho roxo ? " Recordou Silvia .
"Lembro até a rua em que isto aconteceu: era a Edgar de Souza. Mas agora não é uma questão de eu ser, ou não, uma pessoa contestadora. A meu ver não podemos continuar sendo o único país com nossas dimensão sem a láurea de um - de pelo menos um - Premio Nobel ... "
"Vejo que isto parece ser algo importante, talvez doloroso; mas só para você. Eu, com a origem que tenho, nunca dei conta de tal lacuna na premiação ... "
"E se você tivesse se dado conta, teria tentado fazer algo para mudar a injustiça ? "
"Bom, aqui não é como no Brasil ... não existe a possibilidade de dar-se um jeito. Assim, ainda que eu até pudesse entristecer-me, nada poderia fazer, eis que o assunto pertence à Fundação do Nobel. "
Neste momento entrou na sala a secretária de Silvia. Foi quando os amigos se despediram com um aperto de mãos, mas combinaram que voltariam a conversar. Ildefonso percebeu que o aperto de mão de Silvia ganhou mais emoção, fazendo com que seu coração batesse mais rápido.
terça-feira, 22 de abril de 2014
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