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sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Julietinha e o oficial do vapor . 24

Julieitinha e Pedro viviam a felicidade dos  apaixonados .   Sabiam que ninguém na cidade , e muito menos Paulo , aprovaria aquela vontade intensa de estarem juntos , de se tocarem e até mesmo , de se cheirarem .  Foi quando Paulo recebeu uma carta anônima . Nela dizia , com poucas palavras , que a irmã e o amigo estavam se encontrando às escondidas numa casinha de cor verde , quase uma tapera ,  situada no Povo Novo , do lado esquerdo da igrejinha do João Turco.  Paulo sentiu-se logo traído por ambos ; mais  pela irmã porque ela não ouviu  seus conselhos de continuar tentando encontrar um partido de boa família , pertencente ao mesmo nível social que eles . Paulo achava que que era inaceitável  Julietinha  se entregar a uma pessoa da categoria de Pedro .   Bebeu  copos  de conhaque e quanto mais  a bebida  subia , mais ele pensava nas razões de , havendo tantas moças , tantas  mulheres prontas para casar na cidade ,   Pedro  ter  escolhido logo a sua Julinha , a irmã única que ele cuidava com tanta dedicação .  Claro ,  só podia ser pelo dinheiro  . Um pelado daqueles decidira o caminho  mais fácil  de  livrar-se da miséria :  fazer a corte para a moça,  já madura ,   de uma família bem posta ,  com fortuna originada em trabalho honesto ,  desimpedido de qualquer trampa ; dinheiro limpo que lhe estaria disponível no mesmo momento em que se  amarrasse  com ela .  Paulo não se conformava.  Foi  quando resolveu ir até o que pensava ser o  ninho de amor bastardo do casal.   Subiu  na  Caminhonete Chevrolet recém comprada com o dinheiro entrado pela venda  de uma  boiada carneada  no frigorífico construído pela associação dos estancieiros da região e exportada para a Europa ;  e foi para o Povo Novo .  Chegou e  ficou parado por um bom tempo nas proximidades da igreja do João Turco , mirando a pequeníssima casa verde , e logo  percebeu a possibilidade de que naquele momento o  casal estivesse por lá ,  " talvez  atados por largos momentos como fazem os cachorros " .
Na verdade , Julietinha e Pedro aproveitavam o aconchego das pequenas peças para cochilarem um nos braços do outro .  A felicidade apaixonada foi interrompida por batidas fortes na porta ,  o sobressalto  foi imediato . Como alguém poderia bater numa casa de moradores completamente desconhecidos para todo mundo ?   Paulo esticou o braço , já protegendo Julietinha . " Não te preocupes , fiques aí que eu vou atender "  .  Deve ser o cobrador do aluguel que deve ter vencido ontem , ou hoje .  Beijou rapidamente a mulher , vestiu a calça quando ouviu-se  novas batidas ainda mais ameaçadoras .  Pedro abriu a porta e viu Paulo  já  com o braço esticado , com o revólver há não mais do que meio metro do  seu peito :  Te prepares para morrer , canalha !   A distância era suficiente para que Pedro sentisse o cheiro de álcool   que a boca de Paulo exalava fortemente .  "Não faça isto ! "   gritou em vão Pedro .  O meio-pedido ,  a meia-advertência , não foram ouvidos pelo   já  naquele momento quase assassino ...  Paulo puxou o gatilho duas vezes .  Pá !  Pá !

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Julietinha e o oficial do vapor - 23

No fundo Pedro tinha lá suas certezas de que o oficial do vapor nada fizera daquilo que os homens mais temem que alguém faça à  mulher . Mormente à mulher amada .  De uma forma ou de outra  tranquilizou-se  logo depois  que  leu  as palavras   " eunuco ou hermafrodita ? "   no livro de viagem escrito pela própria Julietinha . Mesmo assim ainda restava a curiosidade de saber como acabara aquela história que , afinal de contas , fora interrompida pelas novas correrias  que sua vida tomou .  Quanto ao dia a dia,  ele continuava  escrevendo  no Correio do Norte ;  que não pagava muito , pelo contrário , seu salário  era quase nada ,  mas o bom convívio com os colegas da redação  compensavam os curtos recebimentos no final do mês .  Além disto,  mandara uma reportagem  de uma entrevista que fez com o futebolista uruguaio que marcou o gol,   contra a nossa seleção nacional em 50 que  teve ótima repercussão , trazendo-lhe um dinheiro extra  além do  pouco  cachê  que as vezes vinha  do  O Cruzeiro .

Pedro , então , perguntou a Julietinha como acabara o namoro com o Giancarlo ....

" Eu descobri a verdade : ele mantinha um botão do lado de baixo da cama que ao ser apertado fazia soar no quarto a sirena de alarme geral no navio .  Era um bom rapaz , mas diziam que ele tinha problemas físicos que o impediam de consumar algo  .  Uma vez chegou às vésperas de se casar com uma moça da alta sociedade , só que o pai dela - gente de muito dinheiro - pôs um detetive que descobriu a deficiência antes do casamento se consumar .  Devolveu o anel nupcial por um portador com um envelope onde tinha os papéis do detive ... falaram  que no cartão só  dizia  ... " o anexo se explica por si só " .
Mas ele não perdeu a mania de se casar , depois disto ele tentou de novo  , também com uma moça de grande fortuna ... viajaram  em Lua de Mel pelo  mundo num cruzeiro , mas nada de acontecer aquilo que tornaria válido o casamento , até que o pai dela descobriu e exigiu a anulação , no casamento civil não foi difícil , mas no religioso tiveram que ir pessoalmente à Roma explicar ao próprio Pio XII  o acontecido , só assim a Igreja consentiu na anulação do casamento religioso ..."

"  sim , a contradição é próprio dos seres humanos ;  mesmo sabendo que não estava apto a  concretizar o casamento - por não poder entrar de verdade no corpo da mulher - ainda assim ele ansiava pelo impossível , casando duas vezes , ou até mais , já que não sabemos se tentou com outras .  Ainda bem que botou  uma sirena salvadora para os dois lados.  Mas afinal ,  "ele  era mesmo um eunuco ... um cara desprovido dos ..."

"... eu  não sei o que era , ou não era ;  mas corria no navio a conversa de que ele jamais tivera um relacionamento verdadeiro com as moças que ;  talvez fosse um desvio da parte dele , ele fazia a corte até elas desejarem entregar-se  a uma pessoa com tantas aparentes qualidades de amante ...  "

"Quer dizer que se o italiano não negasse fogo na última hora nós não estaríamos namorando agora , ou pelo menos namorando sob a ressalva de que tu tinhas te entregado a ele de corpo e alma ..."

" de alma não . "  Disse Julieitinha abrindo um largo sorriso ...  " porque a minha alma sempre foi só tua ... "

" Bom;  então nem de corpo,  nem de alma , porque na hora "h"  ele apertou a campainha e fugiu de raia ... menos mal ... "

" Tudo não passou de conjecturas , eis que eu , também , não sei se estava preparada para o que tu estás pensando ... e , de um jeito ou de outro , eu me guardei para ti ..."

" mas se não fosse a sirena salvadora ... "

" duvido que ,  com ou  sem sirena,   algo  de mais sério  acontecesse  entre eu e o Giancarlo ... mas mudemos de assunto ....  Quita me disse que o Paulo bebeu num dia destes quando eu não estava em casa e esbravejava contra todas as mulheres ... dizendo  nomes , palavras horríveis contra as mulheres ..."

" eu só sei que ele está todos os dias lá na Baixada . "


Julietinha e o oficial do vapor - 18 B

-" Não , lá no meu quarto não entra ninguém .  Ou melhor ,   entra o Roberto  , mas o  Roberto é meu amigo desde guri , e ele jamais faria  algo  contra mim ... "

- "Meu Pedro ,  então somente eu , o Roberto e tu  tivemos  ao alcance destes versos  ... se eu não toquei neles ,  se tú  também não  farias  algo  , só resta mesmo  .. o Roberto  ... "

-  " ....  só se for   no campo da lógica ; mas é impossível que ele tenha feito algo ... "

- "Quem é mesmo este  Roberto  ? "

- "Ele  é  sobrinho  do padre que morreu ... o Landell de Moura ...  este padre era  incrível ,  inventou  nada menos  do que o  rádio ....  escutava  radio com as  pedras de galena que encontrava nos campos  ....
 sim  !    e  descobriu o radio ... e muito mais coisas de comunicação  , era um gaudério que vivia muito na frente de todo mundo ...  "

- "Mas  o mistério permanece , já  que este teu amigo não iria te trair ....  "

- "Além disto ,  o Roberto  é muito ocupado . Foi o único parente do Padre Landell que se interessou pelos estudos , pelas descobertas e pesquisas dele ... mas isto - a absoluta certeza de que as únicas pessoas que sabiam dos meus versos estão livres de qualquer suspeita -  me deixa na mesma  confusão mental ...  como podem meus versos aparecerem no novo livro do Vinicius Gullar  "

"Meu  amado ... é melhor nós esquecermos um pouco esta tormenta e aproveitar o lado bom deste frio  que faz  agora  ... chega mais perto , deixa eu me enrodilhar em ti .... ouvir o teu coração batendo junto com o    meu ...vamos ... diz  aqueles versos que começastes a declamar na  última vez que estivemos aqui ... aqueles do homem que chega diferente em casa .."

"Julietinha , eu fiz estes versos pensando em ti ... na mudança que nossas vidas tiveram depois que nos abrimos um para o outro ... são escritos por  quem quis  esquecer  o passado , e  muda ,  e se entrega a mulher de quem  sempre permaneceu  distante   ....

"Um dia  ele  chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a dum jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida tanto quanto era  seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto , pra seu grande espanto convidou-a para dançar
E então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços como há muito tempo não se ousava dar
E cheios de ternura e graça foram para a praça e começaram a se abraçar
E ali dançaram tanta dança que a vizinhança toda despertou
E foi tanta  felicidade que toda a cidade , se iluminou
E foram tantos beijos loucos , tantos gritos roucos , como não se ouvia mais
Que o mundo compreendeu e o dia amanheceu em paz "

" - Que lindo , Pedro !    Que bonito .... "

- "Eu fiz  no dia 11 .  .. está aqui a data :  11 de novembro de 1957 .  Fica com este original , deixei  uma cópia  no meu quarto ... agora comprei um baú , feito pelo seu Batista , com  um baita  cadeado ...

E  , como  queria  Julietinha ... os dois se enrodilharam de novo .   E se aqueceram  .









segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Julieitinha e o oficial do vapor. 22

" Acorda Paulo ,  Acorda  querido !  Ouve esta : hoje conheci um senhor que disse que só vai lá na Casa para me ver .  Mas que   só hoje ele  teve  coragem de falar comigo . Um tipo  tímido mesmo .   Uma  pessoa madura, parece que tem quase 60  .  Me chamou na mesa e perguntou muito sobre a minha vida .   Eu , que já tinha a historia decorada  ,  só fiz repetir tudo de uma vez , porque  sabíamos que este dia  chegaria .  Só bebia Old Parr ,   tu já vistes uma garrafa de Old Parr ?  É  marrom escura , quadradinha   e a dose  é muito cara .   Não sei , mas tive um pressentimento de que o nosso sonho  estava ali , em carne e osso . Entre tantas fantasias  eu disse a ele  que tinha chegado há  pouco tempo da Serra ; que não tinha   experiência da vida  e notei que ele ficou com pena , mas também  muito  excitado comigo.  Só que a  excitação foi rápida e  tudo acabou logo , sem grandes pedidos .  Estou novinha  para você  .  Quando nos despedimos  ele deixou embaixo do travesseiro duas vezes o cachê e ainda teve que pagar lá embaixo mais uma vez . Vê ."         Paulo folhou as notas , contando e recontado uma a uma .

" , quando foi  embora  o velho disse  que iria pensar numa saída para eu deixar aquela casa . "

 " Bom , se  foi  assim ... vamos agora mesmo para a  o Wily  comemorar "

Na taberna do Wily  a  conversa continuava,  com os dois  torcendo para que aquela fosse a pessoa tão esperada  . Lembraram  que  as as colegas do trabalho diziam  à  Valéria  que a  paixão  nos homens maduros são as mais intensas . E daí ,  para poderem concretizar o plano,  seria um nada,  já que posses  o velho tinha mesmo  , comprovadas  pela  Mercedes  flamante  , com motorista  de boné azul  e tudo mais .


quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Julietinha e o oficial do vapor - 21 .

Deitado , Pedro olhava o teto com o cal branco descascando na madeira do forro em que fora pintado .  Nem que não quisesse era impossível não voltar a  ver  e rever  as figuras que apareciam  pela  tinta caída .  O  urso-panda ,  o barco a vela ,  a cara de Carlos Gardel  com o cabelo empapado de gomalina ... só que assim como surgiam novas silhuetas , algumas velhas  perdiam  o motivo quando um novo pedaço de tinta caia em uma das pontas desfazendo a composição antiga .

Entre uma e outra  olhada  Pedro montava outro quebra cabeças ...o de  como  uma de  suas poesias  foi parar nos livros do Francisco Rosa .  Deu  um alivio para o cérebro ao esticar  o braço  pegando  o livro que comprara há pouco  na Previtalli .  Leu  a primeira poesia e gostou , e foi folheando  a esmo como que numa sondagem do que certamente  leria  mais tarde com toda dedicação porque Vinicius Gullar era um de seus mais admirados poetas .   De repente o mesmo quase tremor na coluna . Meu Deus . Meu  Deus !!

Pior ainda  , o tremor passava-lhe para o corpo ,  acelerando , tudo , tudo acelerado , lágrimas caindo aos borbotões .   Nããããão !  Nããããão !

E os nãos gritados a plenos pulmões repetiam-se ,  e tornavam a repetir-se . Nããããããão pode seeer !

E por um tempo que nem ele sabia quanto só conseguia gritar , berrar  nããão !  Foi quando o alemão  que fazia os ladrilhos de toda a cidade começou a bater com as duas mãos cerradas na porta.

"- Abre a porta  Pedro ,  abre por favor !    Sou eu , o teu amigo  Bubi ! "

Pedro silenciou , dele só se ouvindo soluços  ...

Passados  alguns minutos abriu  a porta mal podendo  firmar-se nas pernas ...

"- Mas o que é isto , meu amigo ... porque estás assim ... o que te deixou assim homem de Deus ? "

" Seu Bubi ,  eu  te agradeço muito . Acho que  sem o seu socorro eu   estaria  louco para sempre ,  eu não sei o que seria de meu corpo . Mas eu tenho que pensar sozinho nas coisas que estão acontecendo comigo ... desculpe-me mas eu não posso fazer confidências , falar alguma coisa  neste momento .  Eu só tenho que pensar e pensar mais e mais sobre o que está se passando comigo ... "

"Bem , se queres ficar sozinho  eu não posso te contrariar .  Mas a hora que quiseres abrir o peito , não te acanhes ... são para estas horas que os amigos existem  , e  tu tens  em mim um amigo ."

" Eu agradeço , seu Bubi ,  só que ainda é cedo para eu falar  ... "


Olhou para cama e  o livro ainda estava aberto na mesma  página  do  verso que ,  agora de novo, fora-lhe copiado ,  vilmente plagiado  mesmo ,   e  por ninguém menos do que Vinicius Gullar .


Pensou em correr para Julietinha .... exigir que ela lhe mostrasse os originais que lhe dera para vigiar ...não , isto também não ...  agora não !

Deitou-se  enrodilhado como um bebê recém nascido e pôs-se  a chorar , ao começo convulsivamente,  o  que aos poucos foi diminuindo  até que adormeceu .





domingo, 2 de dezembro de 2012

Julietinha e o oficial do vapor - 20

" Quita , onde está a Julietinha ? "

"Ela foi ao salão , acho que lavar e pentear os cabelos , Dr. Paulo . "

"Já é a terceira noite que eu janto sozinho nos últimos dias ... "

" É  coisa do acaso ,  mas eu acho que daqui a pouco ela estará por aqui . "

....

"Julinha , ainda bem que tu chegastes ... nós sempre jantamos juntos ... "

" É que eu fui visitar a  Carmem  , fui ajudar na escolha do enxoval  , o casamento será daqui há três  meses e ela está  indecisa no  que falta comprar ...."

" Mas estás com os cabelos molhados , eu pensei que chegavas do salão de beleza ...  ? "

" É que chuviscou meio forte lá para o lado de San Martin ...."

- " Tenho notado que nos últimos tempos tu estás bem mais tranquila , agora vejo que a viagem te fez  muito bem ...

- " Sim , a viagem fez bem para mim ,  mas  estas conversas com o Pedro também ajudaram ,  nós  estamos nos dando muito bem .. "

- " Minha opinião é que tu deves conhecer , apostar mesmo em encontrar alguem do nosso meio ... "

- " Mas eu nunca consegui me dar bem com os tais "do nosso meio"   , os filhos dos  estancieiros ...  tu sabes que todos eles têm as mesmas manias , a mesma  forma de ver o mundo ,  como se eles fossem o centro de tudo ... já o Pedro é uma pessoa sensível .. eu , que  já  desconfiava disto tudo sobre os filhos dos estancieiros ,  agora  -   depois destas  conversas das  quartas-feiras com o Pedro -  tenho certeza de que ele é  a pessoa especial  que  ..."

Paulo não aguentou e interrompeu ...

- " Pessoa especial , Julinha ?  ;    só que não tem um cruzeiro no bolso para botar um cego a cantar ... tu sabes que no frigir dos ovos o que interessa para um  partido é que ele venha  somar ; e não , dividir o que nos foi tão difícil conseguir ... "

- " Eu não  penso assim ,  e  vou ser sincera ...  tenho pensado muito  e  estou certa de que o Pedro é a pessoa  com  eu quero  viver  os meus dias ... "

- " Não , não é possível isto ser verdade Julietinha ... mas  eu  já estranhava  estas intermináveis  conversas  ... ele , com este jeito de songa-monga , de intelectual  de terceira ,  conseguiu se insinuar  e  ,  talvez  , fazer com  para  que caísses de amor  ...  e   traindo a minha  confiança  "

- " Paulo ,  eu estou convencida que ele gosta mesmo de mim de verdade ;   e  esta  maneira de  tu  olhares o Paulo  , de  achar  que ele se aproximou de mim por causa das coisas que temos ...   isto  tudo é  um grande engano teu ..."

- " Julietinha , com o Pedro eu me entendo  , mas quanto a ti , eu te lembro  que  sou o homem desta casa , foi eu quem assumiu tudo quando os pais morreram  ; inclusive , chegando a aumentar  muito o nosso  patrimônio  , enriquecendo a nossa estância ,  comprando outras propriedades ;  abandonei  planos ,  esqueci de mim mesmo  só olhando o objetivo maior que é o nosso progresso ,  sequer  me sobrando  tempo de procurar alguém  ..."

- " Eu sei , a cidade toda conhece a tua preferência pelos cabarés  da baixada ...  todas as gurias te vêm como um  moço  de gênio  duro  ,  intransigente ... sem  modos que levem à  conquista de uma delas "

- " A grande maioria ,  a totalidade , posso dizer , só se acercava  pelo nosso dinheiro ..."

- " Paulo  ,  gostes ou não , o que eu  tenho a  dizer  é que eu estou  namorando o Pedro ,  e  não é mais um sentimento que eu possa esconder  porque  todos me dizem que  estou diferente , que  a felicidade que sinto  agora  é  percebida  ainda que eu nada fale  sobre o porquê  de estar assim ."

- " Quanto a mim , irmã , eu vou fazer tudo que estiver ao meu alcance  para que  nunca sejas mulher  deste  pé  rapado ..."


E Paulo saiu  pisando forte ,  mais forte ainda do que os gaúchos daquelas plagas normalmente já pisam .










quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Julietinha e o oficial do vapor . 19

Paulo , o jovem de dezoito anos , continuava a esconder para Valéria a sua verdadeira situação , que era de menino rico ; levando-a cada vez mais a convencer-se de que tinha encontrado o homem que sonhara .  As vezes , porém , perguntava sobre a sua dedicação aos estudos :  " afinal , a que horas tu estudas , se de dia ficamos os dois aqui no meu quarto ?  "
"Eu sempre estudei à noite . Principalmente agora que fico sozinho .  Estudo até a madrugada . "

Por sua vez , Valéria dedicava-se a Paulo intensamente .   Fazia planos ,  faziam planos  para quando chegasse o momento tão esperado -  e  a intuição dizia que estava perto -  em que encontraria um velho endinheirado que caísse o beiço por ela .  Um  destes ricaços que se apaixonam por lolitas , que haveria de custear-lhe  as suas  necessidades  ; mas , principalmente , as  do Paulo , os estudos a que tanto Paulo se dedicava .  Os dois ( sim , os dois , porque Paulo também embarcou assim no sonho de Valéria e até a incentivava a buscar o velho rico que , tinha certeza - se Deus quisesse - não a exigiria tanto ) sabiam que era só esperar pouco tempo para serem completamente felizes .  Ela , como era trivial nestas ligações , só manteria um teatrinho para o velho , que  - certamente -  teria família comum , esposa e netos para cuidar ; sim , sobraria quase todo o tempo "para nós" . Se outras colegas acharam o seu velho rico , que lhes proporcionavam segurança financeira em troca da juventude por eles perdida , por que com ela seria diferente ?

Lavar roupa , passar e engomar camisas , cozinhar , limpar banheiro e arrumar os quartos ,  tudo isto ela já fazia para o seu amor , com sorriso nos lábios .

De vez em quando , quase sempre , Paulo a surpreendia pegando-a pelas costas ,  sentido que roçava-lhe a  bunda ,  mal dava tempo para apagar o fogo das panelas para ele levá-la esperneando para a cama .  As vezes a colocava com cuidado , mas em outras jogava-a do alto mesmo , pulando logo depois para cima dela .  


sábado, 24 de novembro de 2012

Julieitinha e o oficial do vapor - 18 A

- "Afinal , como é que acabou a história do oficial italiano ?    Por que vocês não chegaram até o final esperado de um casal que está sozinho num  navio em alto mar  ?  "

" Bem ,  para mim  foi  o destino que  me  levou  a que eu fosse só  do homem  para quem nasci .  Só que a parte prática disto foi  muito engraçada  .  Resolvi viajar para a Europa   para tentar  mudar a  história da minha vida ,  eu estava saturada dessa   gente  que  acha  que  não podemos  conviver  com os  pobres ...     te confesso que  ao chegar aos  trinta  resolvi  buscar  novos ares  ..."

" É  com  todo este preconceito  que teremos  que  nos  bater  agora  ...  imagines  tu  ,  a  estancieira ,  casando com um naba ...."

Pedro olhava  a  nudez de Julietinha que , abraçada a ele  ,  falava  com a ternura que só os  novos amantes conseguem ter :  " Não , não  !   tú não és um naba  , isto não !  "

"Julietinha , se me sacudirem  pelas  pernas  não cai  um centavo ...."

" Mas se   falta  dinheiro  ... sobra-te  , e  muito ,  coisas muito  mais importantes do que os outros  possam ter,  Pedro querido."

" Mas  voltando  ao  italiano .  Por outras palavras ...  tu  naquele momento quisestes  mesmo o belo Giancarlo ? "

"Não é bem que eu  o  quisesse - ou não -   ,   porque quem eu queria mesmo era  a  ti  ;  mas  a providência fez com que a minha  falta de vontade de ser do Gian  não chegasse a ser comprovada  ... "

" Sinceramente  não entendi "  -  respondeu Pedro de forma hipócrita ...

" Bom , tu te lembras que na hora em que estávamos abraçados  - eu e o Giancarlo -  tocou uma  sirena de alarme avisando  de  que algo  de perigoso estava acontecendo  no  navio ? "

" A minha  sirena salvadora , não foi ? "    disse Pedro acariciando o corpo da mulher ...

"  as  tuas  ironias  de sempre  ... ;  pois é .... chegamos lá fora  ....  eu tropeçando nos saltos altos  ...  só  que    nada de anormal acontecia no navio .... tudo tranquilo ...   mesmo assim Giancarlo correu para a ponte de comando ... "

"  já vistes   O   Belo Antonio  , com  o  Mastroiani   e  a Cardinalle ?  ...

" Vi sim  ....  e  acho que tu estás querendo  comparar as histórias ...  agradeço por ter sido  para ti  -  naquele  navio  -  a Claudia Cardinalle ... "

" A Cardinalle é uma mulher bonita  ...mas tu és mais do que isto ... tu és linda ... "    ..  e  rolaram na cama  com  Pedro  sussurrando  no  seu ouvido uma poesia feita  para ela   pouco antes  dele chegar ali ,   no esconderijo  que agora  dividiam   ...

... um dia ele chegou diferente do seu jeito de sempre chegar
olhou-a dum jeito mais quente do que sempre costumava olhar
e não maldisse a vida quanto era seu jeito de sempre falar ...

.....





terça-feira, 20 de novembro de 2012

Julietinha e o oficial do vapor . 17

- "Boa tarde Dona Julietinha , tudo bem com a senhora ?"

- "Tudo está bem , Pedro ..."

Neste momento Quita saiu do raio de visão , e também de audição de Pedro , que  recém tinha chegado para mais uma quarta-feira  de anotações .

Pegou  da mão da namorada  .

"- Falastes com o Paulo , sobre o nosso namoro ? "

"- Bom , ainda não houve oportunidade .... é que estou procurando um momento certo ..."

De um momento para o outro Pedro ficou quase irritado por  perceber que a moça não tivera coragem de falar com o irmão .  " Talvez este momento certo não exista Julietinha .  Como explicar ao Paulo que um naba como eu  possa pretender a mão de uma moça da sua classe econômica , não é Julietinha ? "

" Não fales assim ,  naba tú não és , não mesmo !     Pensas que eu não sei .... pois  me contaram que há  uns  anos atrás  fostes aprovado   no concurso do Banco do Brasil e  ao seres  chamado  , com a Dona Almerinda dando pulos de alegria porque agora terias um emprego de grande futuro   ,   tu fostes lá , trabalhastes dois ou três dias e sequer quisestes ser registrado  para valer  no banco .    Disseram-me  que chegando em casa ,   apesar de Dona Almerinda chorar muito pela tua  decisão de não seguires como funcionário em um emprego tão bom , tão seguro ,  tu pegastes as mãos dela e dissestes ..... mãe  olha para as minhas mãos ;  vamos mãe , olha para elas ....  tu não as fizestes para que  elas passassem a vida toda batendo carimbos em fichas infinitas .... as minhas mãos , mãe , foram feitas para criar histórias que meu cérebro hão de produzir , Dona Almerinda  '   ,       ...  é verdade ou não .... ? '

- " Sim , Julieitnha , foi assim mesmo ,  mas eu não me arrependo nem um pouco por  ter feito isto , apesar da pobreza que ainda hoje campeia .... "

- " Então , meu querido , como um homem que age assim pode ser chamado de naba ..... ?    Como ? "

- " Pois é , a natureza não me disse " Não sejas pobre"   ;   ainda menos :  "sejas um rico , Pedro !  " .  Ela grita-me : Sejas uma pessoa independente , "   .   Foi pensando assim que eu mandei uma carta para seu Chatô .  Expliquei a ele que nesta campanha tinha  muita coisa acontecendo .  Ele já me conhecia . Fui eu quem passei por telégrafo  todo o relato da queda do avião .   Expliquei  o  que acontecia  por aqui  - como sabes -  contrabando  de  ouro  vindo de todos os garimpos do país ,  criminosos buscam estas plagas para fugir , mafiosos querendo entrar por aqui  por causa da tradição  desta fronteira  ,  da rede de coureiros ,  passadores de gado ,  juízes corruptos em fuga ,  vinhos do lado de lá  entrando para serem vendidos como os da serra   , o próprio modo de falar  embaraça  quem  contrabandistas  e  policiais  ,   até mesmo os futebolistas que ganharam a copa nas barbas dos brasileiros eu poderia certamente entrevistá-los ..... e sabes  o que aconteceu .... o Chatô ,. o próprio  baixinho em carne e osso me respondeu dizendo que me aceitava como repórter correspondente dos Diários Associados .... estou sendo admitido pela porta da frente ....   em pouco tempo terei que ir ao Rio ... "

" Julietinha  , eu estou prestes a conseguir ;  não , não é a riqueza não ..... !    O que eu   já  quase consegui é que alguém reconhecesse  algum mérito que eu possa ter como jornalista , como literato ... e  , o melhor de tudo,  sem vender a minha alma ao tal Banco do Brasil ou a quem a queira aviltar ,  minha querida ! "

"  .... Bom  , mas agora eu vou deixar contigo  mais uma síntese do que eu andei pensando .... escrevendo .... mas ,   te admires   ou não ... estas palavras já me apareceram  assim ... perfeitas , como  um presente  que  recebo depois de muito e muito pensar ... quero que as guarde como combinamos .... "

Do papel escrito a mão,  Julieitnha leu em voz alta para ela própria o seguinte :   "  Gosto de ficar na sombra das coisas   no segredo delas , gosto  de entranhar  a criação de vagar com as idéias
como a arte que se entranha e , incerto , incorreto renasço a cada dia . "       Pedro , que coisa mais linda tu criastes  .....  "

Foi quando os dois abraçaram-se e beijaram-se como se  por  anos tivessem sem se ver ,   e despediram-se logo depois de Julietinha dizer-lhe que fora convidada para um aniversário de amiga , que seria na capital . Pedro fez um ar moleque de que proibiria a ida , mas , num sorriso só pediu para que confirmasse o dia que iria ,,,,  e despediram-se à entrada de Laurindo ,  o capataz  da estância,  que entrara pelos fundos da casa , não sem antes pedir as devidas licenças à patroa  ,  e cumprimentar Pedro  muito mais cerimoniosamente do que antes costumava fazê-lo .

Pedro  ainda  aduziu : "  Pois é ,  Dona Julietinha , com mais duas reuniões nossas eu acho que completo todas as anotações necessárias ..."

" Para mim , eu acho que duas sessões serão poucas .... mesmo assim .... "




quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Julietinha e o oficial do valor - 16

O jovem Paulo passava por momentos de grande euforia só por olhar  , pelo  buraco da fechadura  da  porta do seu quarto ,   a bela jovem passar para o banheiro  com pouquíssima ( quase  nenhuma ) roupa talvez certa de que ninguém a  mirava .   Valéria , este era o nome dela , era de uma beleza de  enlouquecer qualquer homem .  Jovem , muito jovem ,  seus seios não precisavam de qualquer corpinho para ficarem  apontando  firmes  para frente .  O corpo era de uma perfeição quase impossível de existir .  O rosto ,  se não era  uma Elizabeth Taylor  , tinha o frescor  da menina-moça que Valéria   era  .  E quando ela sorria suas feições ficavam  verdadeiramente muito bonitas .  E Paulo , para enlouquecer completamente ,não precisava de mais nada .

Num dia não resistiu , ficou esperando a moça  com a porta de seu quarto aberta  até  que ela passou  para o banheiro . Foi quando ele a abordou com  um plano mil vezes pensado .

"Tudo bem  ?           Eu sou o Paulo , e moro aqui ao seu lado , como é o teu nome ?
"Meu nome é Valéria ...."
"Pois é , eu vim da fronteira , vim estudar aqui na capital ... minha família é pobre mas estão me ajudando a pagar os estudos . "

" Que bom , você tão jovem , um menino e tanto querendo estudar , progredir ... "

A história era  abem urdida  e funcionou ....  , Valéria caíra prontamente na conversa  insincera de Paulo ... além disto ele fizera uma cara de abandonado na cidade grande que  prontamente tocou o coração dela 

" E onde tu fazes as refeições , Paulo ;  quem cuida da tua roupa ... ?

" Quem cuidava era minha mãe ,  por aqui  eu as vezes aproveito o tanque daí de baixo , no domingo eu desço e lavo o que posso , deixo secar .... as calças eu boto em baixo do colchão para ver se pegam algum vinco .... "

Valéria  se compadeceu  do rapaz  que deveria ser muito estudioso , e dele se despediu ...

Paulo percebeu que seu plano começava a colar e ficou  eufórico ...chegando   a , por vezes ,  pular de alegria  . Mas só quando  longe da casa ,  para que a farsa não ficasse evidente.




quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Julietinha e o oficial do navio - 15

Quarta-feira ,   Pedro bate na porta para a sessão de  colheita de informações do relato da viagem de Julietinha . Ela mesmo vem atender  .

- Pedro , entra ...

- Pedro , que trazia um ramo de  flores do campo  bem  variadas  sorriu  ... Dona Julietinha ... a senhora quer namorar comigo ?

Julietinha ficou séria :  " Tu não achas que é muito cedo " ?

" -  Muito cedo .....  eu estou esperando por este momento há  anos e tu  me  dizes  que é muito cedo ? "

- Por mim eu  daria  o sim  agora , mas antes tenho que falar com o meu irmão  ..

Pedro fechou o rosto ..... " - O que  teu  irmão tem a ver com nós dois ... ? "

"- É que moramos aqui ; desde que  meus pais partiram  o Paulo  assumiu a casa  .... tenho que falar com ele antes de te dar uma resposta "

"- Não Julietinha , não adiantes nada a ele ...  com o Paulo eu falo ... mas eu quero saber é de ti ... aceitas  ter-me como namorado  ? "

"- Não só aceito como sou a pessoa mais feliz  do mundo  por ouvir isto de teus lábios  , só que  quanto ao  Paulo , eu  te peço para que eu mesma fale com ele ...  no mais ,  tudo fica  como antes ...  tá bem ?

Entraram e passaram  à formalidade de sempre .

- Dona Julietinha , em que dia  o vapor aportou em Vigo ?

-  Foi no dia  27 de fevereiro .....

Conversavam  sobre o que agora pareciam  ser  generalidades até que Quita surgiu para perguntar se já poderia ir à feira  da praça do relógio ...

- Sim , Quita , deixei a lista de compras em cima da mesa da cozinha ...


Mal Quita batera a porta  Julietinha  abraçou Pedro com todas as suas forças ...

-  Sim , até que eu tentei  me aproximar de outras moças , mas você sempre aparecia   e  daí para frente nada mais dava certo ....

Ao  ouvir isto lágrimas  praticamente  saltaram  dos olhos  da moça ....  "  não repare ,   eu me contive lá fora ... mas ao ouvir isto ...é que comigo acontecia  o mesmo ,   deves ter percebido a forma que eu olhava para ti  ,   quando  nos aproximávamos  parece que tinhas um imã ao qual  eu tinha  que resistir muito , ainda bem que agora não preciso mais fugir de ti ...  .  desde cedo guris  vinham  conversar  , mas eles eram tão diferentes de ti , todos estancieiros , se bem que nós também somos  proprietários ...  mas é que  eles  desde  meninos  já  se  preocupam  com  o preço da  arroba do boi ...  essas  coisa daqui   .   Mas tu és diferente ... olhas  e falas  o que sempre eu quero ouvir ...  mas vamos mudar de assunto  , eu tenho tanto para  te perguntar ... fiquei preocupada quando contaram que tivestes que ir ao quartel  ... "

" - Sim , foram me buscar e me levaram até  lá  ..."

-  Mas o que eles perguntaram ?   eu nunca soube  que  tinhas  preferências neste assuntos ..

-  São meus escritos no jornal .... eu escrevi no natal uma crônica que eles não gostaram .... foi   A Ceia dos Vira-Latas ....."  ;   em  determinado momento o Bandeira  me perguntou ...  " tu  és  um  dos do contra , não és   ? "    .   Eu respondi ....  "não , e o senhor é ? "    " Ele chegou a levantar  a mão para me dar um tapa , mas o  Orlando segurou-a  já no ar .... "

"- Pedro , por que  responder assim ?     Tu sabes como eles estão .... por qualquer coisa  já  explodem , daí para à  perseguição aberta é um nada ."

.....

"  E  esta camisa  ?    vejo que a tua roupa  é nova ,  um misto do cheiro do corpo com  o do algodão recém    vestido ... "

" -  Consegui  receber  um dinheiro  e aproveitei para comprar duas camisas e mais umas roupas ... afinal  eu vinha te pedir em namoro .... "

" - Mas como estás bonito meu Pedro , ainda mais do que ontem   ...."


Passou um bom tempo ,  ditado  pela  intuição e generosidade de  Quita ,  até que  a porta se abriu .....

- Só não trouxe o mogango , Dona Julietinha   , não me pareceram  estar  bons ....

- Não faz mal Quita ,  espero que tenhas comprado  outra coisa para fazermos o doce ....

- Sim , comprei origones ...


Com Quita por ali  voltou a  conversa sobre a viagem , Pedro  agora fazia  perguntas com duplo sentido , maliciosas mesmo ( pensando que o italiano era mesmo impossibilitado a uma relação mais íntima )  ...

Até que  de repente parou tal assunto  e sua voz  demonstrava  tensão .   Contou  o  que acontecera com seu  caderno ... de suas conclusões sobre uma das suas melhores poesias terem sido publicadas por ninguém menos do que Chico Rosa ...   Julietinha preocupou-se muito .... logo ela que  tanto admirava o príncipe dos poetas .....

" De agora em diante eu preciso  manter um arquivo dos meus escritos em mãos confiáveis ... e quem melhor do que tu para guardá-los ....  ? "

" Sim podes deixar comigo ,   teu trabalho , para mim  valerá tanto como um tesouro ."

" Além disto , eu queria que me ouvisses sobre umas mudanças  acontecidas om o modo de eu escrever  ; é que antes eu  costumava redigir  uma passagem , um texto qualquer e depois sair fazendo aquilo que eu chamo  de catar pulgas ;   revisando-o  até  que ele  me contentasse  totalmente ... "

" Mas isto é assim com  todo mundo ... "

" Mas agora é  diferente .... Julietinha .   Tem determinados escritos que já me vêem prontos à cabeça   sendo inútil tentar melhorá-los .... nesses momentos, não em todos ,  escrevo  num impulso só  ...

Foi quando  chegou Paulo, o que ocasionou  as despedidas do jornalista ...  " eu já estava de saída ... " .

Paulo , que  nas conversas com amigos estancieiros sempre dizia que " o amor pode muito , mas o dinheiro pode tudo "   ,  a  cada  dia se  preocupava mais com aquela aproximação da irmã com um pelado , como  Pedro era  .




sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Julietinha e o oficial do vapor - 14

Pouco a pouco a cabeça de Pedro ia se dividindo .  Agora já existiam nela pelo menos quatro pensamentos  quase independentes ; mas  ao mesmo tempo  . Um só pensava  em Julietinha . O  segundo estava nas tantas contas que teria que pagar mesmo sem ter dinheiro .  O terceiro voltava-se para o trabalho no  Correio do Norte , nas matérias que tinha que  entregar para a linotipia quase que diariamente . E o  quarto... o quarto estava em Francisco Rosa , o Chico Rosa . Como , Deus ?   Como ele  retirou dali , daquela mala velha o mais  belo  dos seus versos ,  com métrica , ritmo  , rima , tudo perfeito  ?   Mas , pouco a pouco  ia se convencendo de que  fora o Jurandir . Aquele baiano sem dinheiro para pagar  hotel ,  que ele abrigara ; sim  o Dida era o olheiro do Chico ... ,  devia até  ter  carteira profissional assinada pelo Chico .
E os olheiros poderiam ser muitos ,  batendo Brasil afora .  E ele, Pedro , sempre com a   boa-fé  dos  Fagundes,  herdara de  Bandido ,  uma das melhores pessoas daquelas plagas .  ... ele , próprio  abriu as portas de seu quarto para o judas .  Agora ,  naquele sufoco todo , mas  sem participar  em um cruzeiro sequer dos lucros que o melhor de sua poesia  proporcionava ao  Chico Rosa .

E  tudo acontecia-lhe  sem ter  um amigo com quem pudesse dividir  a perda daquele  roubo de parte de sua  obra.

Apesar de ter chegado a essa certeza  ;  a de que o ladrão era o Dida ,   um tormento resistia em seu cérebro pleno de racionalidade  :   e a poeira ?   Sim !!   e a poeira   ? !       .. porque  a poeria  em cima da mala era a  mesma ,   a  acumulada  por dez anos  naquela tampa de mala,  de cantos arredondados  encabeçados por uma biqueira de metal enferrujado .... como Dida pode tirar  o caderno ,  devolvendo-o depois  à  mala ,  sem que a poeria de dez anos ficasse sequer marcada na  tampa  ?  Como ??   Bradava Pedro consigo mesmo  ....

Ele queria muito  que daqui para frente isto se reduzisse a uma questão menor em sua vida ...  só que  - apesar  disto -   o horror  voltava sempre à sua cabeça de  cientista das letras ;  .... como  aquilo  poderia  agora ter-se tornado  aquele   monstro dentro da  sua cabeça  ?  

Mas ,  se o pó acumulado  chegasse  a ser   além de alguma evidência , uma  certeza de que nem mesmo o baiano  cometera o furto , aí  tudo poderia enveredar para possibilidades ainda mais sombrias do que a alternativa Dida .

Tanto pensou  ,ora silencioso , ora aos gritos ,  que acabou por dormir .  No sonho parece que chegou a um acordo consigo mesmo .... fora  Dida  quem  levou  o caderno  de  poesias para Chico . E ponto final .

Na  manhã seguinte  outras  fontes de preocupações começaram a diminuir  .  Não é que o Paulo , sim o Paulo , o  irmão da Julietinha ,  amigo que tanto estimara  viera-lhe visitar como nunca  antes fizera , preocupado  com suas aperturas  .  Pegou-lhe do ante-braço , como fazem os daquelas paragens .... "Pedro , te abre ... o que está acontecendo contigo , vivente .....?     Me disseram que tu fostes despejado  da casa que alugavas .... diz Pedro ... o que estás precisando ....?  "

Pedro  confirmou  que estava necessitado  , mas  não sem antes  reafirmar  a velha amizade dos dois ,   só interrompida  pela indiferença do amigo.

" Paulo , como  tu  bem sabes  , agora  as rádios roubam mais e mais anúncios do Correio ... por isto ,  o   Ernesto não tem culpa por  vir  diminuindo  o meu salário .....  é que os anúncios são cada vez menos .... e  foi por isto  que eu fui me apertando cada vez mais e mais ... "

"Bom , mas quanto tu estás necessitando agora ... ? "

"Não fiz as contas , mas com uns  cento e cinquenta contos acho que daria para eu pagar   , botar os  atrasados em dia  ,  dar uma caução numas peças ,   me mudar para lá  , comprar  alguma roupa  que o inverno está aí  ,  tocar o barco ...."

"Mas será que com cento e vinte , ainda que apertando um pouquinho  mais ,  tu não botas a vida nos trilhos ..?"

"Bom , eu  acho que com isto eu poderia pelo menos  comprar   o   mais essencial ,   e  ir  levando .... "

Paulo puxou  uma bolada de notas do bolso , virou as costas para o amigo  ao mesmo tempo que separava  120 contos  entregando-os a Pedro.      " -  Te cuida  tchê  e   fica tranquilo que isto  é para ti  e  dado de coração . Ninguém , além de  nós dois ,  deve ficar sabendo .  "     Pedro abriu-se  e deu um abraço apertado .... " Paulo , mais , muito mais do que este dinheiro  com que tu me socorres  , o que me mais me alegra  é ter você de volta ,  reviver a nossa amizade em toda a sua  intensidade ...  "

Deram as costas indo   cada um  para o seu lado .


quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Julietinha e o oficial do vapor - 13

Paulo Gomes , o irmão ,  era pessoa forjada na dureza de muitos  acasos e adversidades  .  Pituca , seu pai , trocou quase que totalmente a criação de ovelhas pelo gado . Tudo porque logo depois da guerra a invenção e vulgarização de fibras sintéticas , o nylon ,  arrasaram com o preço da lã . Agora , ovelha para tosquiar era pouca .  Quase nada .  O forte mesmo era a produção de gado de corte .  Mesmo  antes de comprar  as terras da fazenda Curunilha  , os pais de Pituca  já tinham uma charqueada na Hulha, que  agora definhava . Tudo porque a conservação da carne com sal  , que vinha de 1860 ,  quase que chegara ao fim de seu ciclo .  Atualmente , a carne  agora poderia ser vendida  enlatada com o nome de corned beef ;  ou , no idioma local : presuntada .   Grande parte dela , também , era  frigorificada seguindo por estrada de ferro até o porto do Rio Grande  e daí  para os mais distantes lugares .  A frigorificação ficou sendo possível por causa  de uma usina elétrica movida a óleo de petróleo .  Assim  era a vida de  Paulo ,  ainda quase um menino - mas  já participante  do dia a dia da propriedade .  Forjava-se  o caráter  da criança ,  dentro dos limites que a vida pastoril  permitiam .  Quando fez dezoito anos Pituca mandou-o para a capital , matriculando-o  num  bem afamado colégio  .  Paulo nunca deu maior atenção aos estudos , variando  entre  aproveitamentos  escolares  medíocres  e outros  ainda piores do que esta classificação  . Desentendeu-se logo com os familiares  -  um tio distante -  que Pituca  pediu  para com eles morarem ,  e logo procurou um lugar totalmente diferente  onde podia respirar - ainda que cedo demais - os ares da independência .  Buscou  com cuidado um lugar para morar  , já demonstrando  -  desde aquela idade -  que  tinha algum  conhecimento de  negociação .  A  dona da casa , de nome Flora , Dona Flora ,  caiu  na história  do menino :   "  vim  desde a fronteira estudar aqui na capital , posso adiantar uns dois meses de aluguel  desde que a senhora me dê  um bom desconto ,  meu pai me manda dinheiro todos os meses , vem pelo ônibus , a senhora pode ficar tranquila " .  O quartinho era nos altos da casa  numa  rua mal afamada ;  duas pessoas , em dois  pequenos  - mas independentes -  cubículos  dividindo  um pequeno banheiro .  O  quarto do  Paulo  era o do  lado do banheiro e surpreendeu-se com o bom estado de sua  limpeza .  Como o contrato  fosse sem  mobília ,  comprou  ali  por perto  uma  cama  com  colchão  e um guarda roupa . Tudo sem gastar  muito da boa  mesada  que Pituca mandava  religiosamente.  Já estava na segunda noite que dormia no quartinho e não aparecera o vizinho do quarto ao lado .  A noite fechava-se a chave , mas na última  ouviu por mais de uma vez alguém subindo  e descendo a escada . Na verdade  subiam duas pessoas , para depois  descer  uma só.  Na manhã do terceiro dia ,  por acaso  ou curiosidade , deixara  entre-aberta a porta de seu quarto , que era no pequeníssimo - uns dois passos -  corredor   .  Dava mais de dez horas da manhã quando ouviu os passos  como  pés quase saltitando.  Vinha  do vizinho  a  visão  que o fez tremer muito , da cabeça aos pés :  mas não era vizinho não , era  sim uma vizinha ,  loira bem alta ; muito ,  muito jovem ,  cabelo meio cor de fogo ,  que  passara  para o banheiro vestida apenas de uma camisa  de  pijama  bege,  para voltar daí a poucos minutos .  O menino  rescém chegado da fronteira nunca tivera - nem de longe - uma visão como aquela  e não sabia o que fazer . Se corria para o quarto dela ( mas ela poderia ser casada e só ter saído com o casaco do pijama por um descuido , eis que Paulo só estava ali há dois dias ) .    O melhor , o mais sensato era fechar a porta  , respirar bem fundo  e dedicar-se de corpo e alma a única alternativa a qual poderia  se  entregar  num momento daqueles  .



segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Julieitinha e o oficial do vapor - 12

Como em toda quarta-feira , Pedro chegou  .   Emagrecido pela vida que vinha levando , mesmo assim estava mais confiante do que nunca . A leitura do sub-título "Eunuco ou Hermafrodita ? "  foi o suficiente para que confiasse totalmente que Julietinha tinha-lhe sido fiel , ainda que por caminhos tortuosos .  Nem de longe Pedro duvidava que a sua cliente pudesse ter mesmo escapado das  temidas garras do italiano.

 Pedro ,  ainda que desconsiderasse que as aparências as vezes enganam , agora estava convencido que , apesar  de existirem tantos jovens e  belos  e disponíveis  italianos ,  franceses  ou  espanhóis  .... apesar  de estar  evidente que Julietinha  queria   novas  amizades  ...  ainda assim Pedro achava que o risco era somente  Giancarlo .  E , tendo como certo que Giancarlo gravitava entre ser  eunuco , ou então hermafrodita , Pedro sentiu-se senhor da situação .

A fixação do jornalista pela  grande proprietária de terras  era conhecida por muitos .  O  obstáculo para que  ele confessasse  o misto de  paixão e  amor era  a diferença  do dinheiro que cada um tinha .  Certa vez Pedro fez uma sondagem junto a Paulo para saber se ele - como chefe da casa , portanto detentor do  poder familiar -  aceitaria um marido pobre para a irmã .  Um amigo comum jogou um verde ...
fez uma pergunta que parecesse meio sem sentido :  e se a sua irmã quisesse casar com um pobre , você aceitaria ?   Paulo não vacilou : só com separação de bens .

O filho de Pituca Gomes  adotara  um tradicionalismo de lá de trás , do século dezoito,  quando começou  a ser formado o pensamento dos fazendeiros .   Dentre as questões fechadas estava  a repulsa  a caçadores de dotes ,  O que castrava Pedro era o  risco  de que o seu amor por Julietinha   fosse tomado por interesse à  grande  fortuna dos dois Gomes ,  Paulo e Julietinha  .

Julietinha era graduada em Ciências Humanas , com especialização em História .  Escrevera uma interessante tese acadêmica sobre o chamado ciclo do charque  que  determinou  conflitos , guerras mesmo , na região .

Julietinha ,  se não sabia em todos os detalhes ,  percebia  a fixação que Pedro tinha por ela , mas  sabia que Paulo desprezava todas as pessoas , ou mesmo famílias , que não conseguissem fazer fortuna .  Não foram poucas as vezes que a morena excitou-se ao pensar em Pedro ao ponto de quase ir procurá-lo para deixar  de lado qualquer limite .

E não foi apenas o  físico de Pedro - que era o que mais perturbava Julietinha  -  mas  a pessoa sensível  que ele era num  lugar em que os homens tinham como única alternativa a de impor-se pela dureza que  a distância de tudo impunha à sobrevivência.

Foi quando  ficou claro  que  a  melhor saída seria a  comum  aos ricaços ; que ,  quando  suas  filhas   não se contentavam com as alternativas naturais dos casamentos  arranjados dentro do círculo de estancieiros ,  despachavam-nas  para uma longa viagem pela  Europa  ; sendo certo , para  eles ,  que diante de tantas alternativas novas voltaria curada da recaída quase sempre ,  de  afeiçoar-se por proletários .

Com Julietinha a saída não resolveu o problema ;  que não chegava a ser dela , mas sim , de Paulo .

Com o fracasso da tentativa européia ,  eles estavam de novo ali ,  sentados  um a frente do outro ,  cada vez  mais  presos  às teias tecidas pelos outros .

A energia elétrica da cidadezinha era instável naquela quarta-feira em que , por compromissos diurnos , Pedro veio à noite .  Estavam sózinhos quando faltou a luz ;  os dois levantaram-se ao mesmo tempo e  se chocaram no escuro . Pedro  , que tinha as mãos a frente como que tentando buscar alguma lamparina ou lampião ainda que não soubesse se , e onde,  poderia encontrar tal socorro ,  na verdade encontrou o vestido  , o corpo de Julietinha e  foi impossível  evitar    que , primeiramente os dedos tateassem-na de forma cada vez mais intensa,  até que se abraçaram  como quem não pretende nunca mais se soltar . Foi Julietinha quem ficou na ponta dos pés para que sua boca colasse de forma absoluta na de Pedro com uma intensidade de quem quer recuperar uma joia rara perdida no mar .... mas  a luz voltou repentinamente , e pior , por duas vias :  Quita entrou na sala com um lampião a querosene na mão direita ,  ao mesmo tempo que a energia elétrica voltara , iluminando a sala como se o sol nascesse as nove horas da noite .  A mesma força que unira os dois na escuridão , repelia um corpo do outro parecendo que nenhum dos dois admitia que a  sociedade soubesse não só que se amavam ,  mas , principalmente , que  já era sabido que não poderiam jamais se aproximar .

Pedro virou o corpo para a janela , olhando a esmo e Julietinha disfarçou mostrando à Quita que , na verdade estaria sentada sozinha no sofá esperando que a luz voltasse .

Pedro  saiu , dando por terminada a sessão daquele dia  e , sem perceber ,  deixou cair  algo com  certa aparência de recentemente  escrito :  O que não conseguem os costumes sociais !  Apenas uma teia de aranha estendida sobre o vulcão , mas ele se contém .



terça-feira, 2 de outubro de 2012

Uma de papagaio !

Prezados 19 !

Lá em Portugal Joaquim muito ouvira falar de uma ave que falava como gente , o papagaio .

Imigrando para o Rio de Janeiro , na década dos cinquentas ,  Joaquim abriu uma quitanda .

Um malandro carioca soube que o gajo estava curioso e disposto a adquirir a ave exótica.

O malandro não deixou por menos :  - Seu Joaquim eu tenho um papagaio para vender , o senhor está interessado ? 

J : - Mas este bicho fala mesmo ?

M : Sim , ele ainda é muito novo , mas logo , logo ele falará .


Na verdade o malandro não tinha um papagaio , mas uma coruja , a qual vendeu por bom preço ao Joaquim.

Passado um ano o malandro lembrou-se e foi à quitanda do Joaquim :

M :  - E aí seu Joaquim , o papagaio tá falando muito ?

J : - Falar ainda  não fala .... mas presta uma atenção ..... !!

sábado, 29 de setembro de 2012

Uma de baixinho .

Prezados 9 perseguidores !

Esta é longa , mas .... também é boa  , principalmente porque é de baixinho .



Um baixinho vinha andando na rua  quando viu , do outro lado  , um cara grandão assobiando fininho .

Nisto o grandão atravessou a rua e ficou do lado do baixinho .

-  Baixinho ... baixiiinho !       Vamos até ali , no meu quarto.....

-  Eu logo vi ,  você  é grandão  mas  .... não sei não .

-  Vamos ali baixinho , você vai gostar .....

Tanto assediou,  que o baixinho topou .....  "tudo bem ,  eu vou .... mas não vou do seu lado ... vai você na frente ....."

O baixinho entrou no quarto que tinha pouco mais de uma cama ,  o grandão deu duas voltas na chave , dizendo para o baixinho :  sinto muito , mas voce tá ferrado .  O meu negócio é faturar baixinhos .....

O baixinho correu prá cá .... correu prá lá  , esperneou  ,  chorou  ,  mas o grandão  não perdoou .....

Logo depois o baixinho choramingava   ..... e agora , o que eu vou dizer lá na turma dos baixinhos .... e passou a chorar ainda mais forte .

- Baixinho ... se este é o  problema  .... façamos o seguinte :  diz lá na tua turma que foi você que me comeu ....  eu não tenho  mais  estas preocupações   .....

- Então eu  posso contar que foi eu que te comi ???

- Tudo bem , baixinho , eu não me importo , não .....

No outro dia o baixinho vinha andando com outro baixinho na mesma rua  viu o grandão do outro lado da rua .

- Tá vendo aquele grandão lá do outro lado ..... comi ele ontem ....

E o outro baixinho .....

- E eu , ante-ontem !

Julietinha e o Oficial - 6

-  Onde tu andavas , Quita  ?

- Dona Julietinha , eu fui  na ponte do Guilain , fui ver a enchente ... á água já tá a mais de metro do vau .

- Há dois dias que não vejo o Paulo ,  você sabe onde ele foi ?

-  Pela galena  o Salustiano disse que tem uma vaca que não consegue parir ... parece que o terneiro já tá morto .... ele tá lá ja faz dois dias , levou o Doutor ..

- Hoje não é dia do Pedro vir ?

- É sim , Dona Julietinha ,

- Você sabe como ele se arrumou .....

- Não , ninguém mais viu ele por lá  .... até o Boleto que ele nunca  largavam ele deixou com a Dona Marica , que ele sabe que gosta muito de cachorro ...

......

Pedro chegou e , ao contrário do  que pensava Julietinha , veio com  o olhar distante  , como quem  mira  um  cerro  no horizonte .

- "Bom dia Dona Julietinha ..."

"- Bom dia Pedro .... tu me pareces tão tranquilo .....`"

"-  Embora não pareça ,  eu procuro ser profissional ,  não posso trazer sentimentos pessoais para o trabalho ..."


Julietinha vestia-se ainda mais comportadamente . A única coisa diferente de antes foi que ela neste dia ousou cruzar as pernas deixando à mostra , de vez em quando , uns dez centímetros para cima dos joelhos .
A simples mirada de tais dez centímetros  já  era o bastante para quebrar a determinação de  Pedro de tratá-la  com  a maior distância  possível .

Outra coisa deixou Pedro com a pulga atrás da orelha ..... em cima da mesinha que aparava copos ao lado do sofá  estava nada mais , nada menos do que um livro de Jorge Luis Borges .....  Jorge Luis Borges ..... logo Borges ....  Não havia a menor possibilidade de Paulo ler Borges ..... além de Paulo só Julietinha ..... não , não é possível que ela estivesse lendo aquele volume .... mas ..

"- Dona Julietinha , quem está lendo este livro ....

" - Sou eu , Pedro , comprei  em Madri , eu já tinha lido do  Borges    A História da Infâmia .... "

 Mas como ?  Eu só via por lá  fotonovelas ..... que mistério é este .  .... Julietinha lendo Borges ... ?

"Dona Julietinha .... Jorge Luis Borges ...? "

"Comprei porque gostei da capa ...... "

Pedro virou o olhar para a mesinha .... o incrível livro de Borges ,  mas logo  voltou  os olhos para frente ,  as coxas de Julietinha  parece que cresciam , que tomavam o espaço de toda a sala .... mas como eram  lindas ...

 " Começamos ?  ....   "        " Sim , começamos , Pedro "

"Estávamos no momento em que a senhora percebera que estava cada vez  mais atraída pelo tal italiano ..."


Julietinha sabia o quanto Pedro estava sofrendo  com tantas necessidades de dinheiro  ... sabe lá  em que desvão de escada dormira .... por dentro aquela enorme vontade de abraçá-lo em seu colo até  que  ficasse  calmo  ...    Mas ela não poderia mentir ;  e  não sabia enganar que estivera pronta para Giancarlo ...

" Pedro , naquele momento eu pensei .... o navio vai atracar em Vigo .... doze dias perto dele , perto do seu corpo , do seu cheiro  , mas nada acontecera ..... eu  , já na Europa , com trinta anos , e do mesmo jeito que nasci ....  era demais ...  Quando parecia que estávamos a ponto de nos unirmos .... ele escapava como água , pelo meio dos dedos ...   Foi assim que planejei  , para antes de chegarmos a Vigo , uma surpresa .  Vigiei até quando ele ficou no comando na torre e fiquei certa , convencida de que se eu fosse a cabine dele as nove da manhã ele estaria só , totalmente sozinho ...  Comprei  , na loja do navio  uma garrafa de Moet Chandon que coube exatamente no pequeno congelador da geladeira do camarote ,  o perfume era Chanel  número cinco , Pedro ,  mas meu corpo - confesso -  rescendia a um outro perfume muito mais acre , natural  , pleno  de ansiedades ...  de necessidades ...  Botei meu vestido mais bonito , os sapatos de salto bem altos que eu já planejara para aquele momento ...  estudei cada passo dos camareiros para que eles não me flagrassem quase assaltando a cabine de Gian ,  eu tremia  , mas acho que não era de medo , não ...  Bati na porta  , uma duas , diversas vezes .. até que ele apareceu muito mais lindo do que Adonis ...

Primeiramente ficou sem saber o que estava acontecendo , mas logo pegou  o champanhe , as duas flutes  , pegou-me pela cintura colando-me a ele ....  e aí ,  aí  Pedro  o inesperado , o que era impossível de acontecer  ....  aconteceu .....





quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Também é bom !

Prezados !

Meu Pai tinha um grande amigo , de nome Dorzílio .  Seu Dorzílio era uma pessoa extremamente cortês , fino , educado .  Soube que um certo dia ele encontrou na rua  o  Marcondes ( outro amigo )  com o semblante , o rosto extremamente entristecido .

D : - O que foi que aconteceu , querido  amigo Marcondes ?

M : - pois é , meu irmão se suicidou ....

D : - Coitado , Marcondes ... foi tiro ?

M : - Não , veneno ...

D :  - ahhh ....  também é bom ...

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Mas que baita tesão , tchê .

Caríssimos 25 !      ( começou bem ! )

Esta também é velhíssima ,  o que salva é que é de gaúcho .



Gaudêncio era um gauchão , de bombacha e chapéu tapeado ,   e tinha ido na padaria . Chegando lá comprou um pão ( que , pelo que  me contaram , por lá chamam de cacete )  cacete .

Como a padaria não desse mais sacola plástica Gaudêncio botou o pão no bolso ( que sempre é grande porque gaúcho que é gaúcho sempre tem muitas coisas para por no bolso .... )  .   Só que o pão escorregou para o fundo do bolso e ficou assim .... um volume avantajado .

Gaudêncio homenageava sua genitora , que tinha o nome de Teresa  ( e que já partira desta vida )  com um "T "     bem grande ,  bordado na camisa ; enfim , na lapela .

Um amigo ,  de nome Tibúrcio ,  ao ver o  "T"   bordado na camisa estranhou as dimensões do bordado  e comentou   de pronto  ...     "  más báhh , Tchê    !   ..... que baita tesão  !!  "

Gaudêncio , que  esquecera-se  do bordado ,   não deixou sem resposta : ...  "Não é tesão não , Tchê ..... é um pão. " .

Honestidade à lusitana .

Prezados 25 !       ( Sim , ! )       O  "Com Chaveco"  já tem , nada mais , nada menos , do que 25 perseguidores !

Nesta terça-feira , 25 de setembro   ,  passo os olhos nos jornais para ver se encontra algo com chaveco para contar para voces .   E não é que vi uma foto de Dilma Roussef , em Nova Iorque ,  sendo cumprimentada pelo José Manuel Durão Barroso , presidente da Comissão  Européia .  Pois não é que o gajo declarou que a crise na Europa  ..... " honestamente vai durar algum tempo  " .

Ora pois , pois ,   que bela descoberta .. o Zé Manél  ..... a de que   "a crise vai durar algum tempo "  .... o pá !

O difícil , o raro e quase impossível seria a crise não durar tempo algum .

domingo, 23 de setembro de 2012

Julietinha e o oficial do vapor - Capítulo 5

Quita ,  esbaforida ,  foi à Julietinha .....

"  Dona Julietinha ! ..... Dona Julietinhaaaa !! "

"   O que é , Quita ?  Que jeito é este de falar gritando . "

 " Desculpa  , mas lá na vila o pessoal tá comentando que o Pedro  está  mal .... " 

"  Mal do que  ?  ... ainda ontem ele esteve aqui e pareceu-me meio nervoso mesmo ...."

 [ Caros 60 !   .....  Não  é raro que as coisas aconteçam assim como se vê agora entre a Julietinha e o Pedro :  o homem certo de que vai tirar uma com a cara  da mulher mas  ... pouco a pouco .... o poder passa  para as mãos da mulher .....  Mas um acontecimento vai equlibrar de novo  a  relação  , fazendo que  a maré reflua em favor de Pedro .  Vamos lá !  ]

"É que um tal de oficial foi lá na casa do Pedro , Dona Julietinha ... "  

"Oficial ... mas oficial de que ? "

" Disseram que era o oficial da justiça .... sabe quem é .... o  Dionísio , aquele lá do foro . "

"O Dinonísio ....  o do forum ,  mas o que ele foi fazer lá , Quita ? "

" Eu não sei se devo contar ... mas vá lá .   Dizem que o Pedro é o maior caloteiro do bairro ... de há muito que ele não paga aluguel para o Seu Salim ;  ...parece  que  antes do fim do mês vão tirar as coisa do Pedro de lá para por  ele  no olho da rua . "

Sem que Quita percebesse uma lágrima saiu de mansinho do olho esquerdo de Julietinha  , que virou-se  para  a janela .

"Quita , vê se não vai espalhar isto por aí. O Pedro é nosso amigo. Além disto, é um homem de coragem .  Não é caloteiro , não . Caloteiro é quem tem dinheiro mas mesmo assim não paga as dívidas. Mesmo com esta situação ele vem aqui sem deixar escapar um lamento , uma reclamação , mesmo eu sabendo que estes trabalhos de  Jornal  demoram muito para serem  pagos. Vê se fica de bico calado , Quita.  Olha lá , hein ? "

" Da minha boca não sai um pio ... "

Quita , que não era nada boba , sentiu que algo mudou no rosto da patroa .  Ficou até  surpresa ao ver que  Pedro o constrangimento que Pedro sofrera causasse um efeito tão imediato em Julietinha , prometendo a si mesmo ficar ainda mais atenta .

De noite , à mesa ,  Julietinha perguntou ...  " Paulo , você está pagando o jornalista ? "

 " ... sabe como eu sou ... pagamento só depois da  entrega do serviço  ..."

" Mas esta foi uma viagem mais demorada , mais distante , o  que  me  obriga   a ir lembrando pouco a pouco as visitas ,  as paisagens ,,,, "  

"Pelo tempo que vocês estão nessa conversa a coisa deve estar no fim , não é ? "

"'É que alem do que vai ser publicado no jornal , Pedro também está selecionando acontecimentos para quando um dia  , se eu quiser ,  editar algo sobre mim mesma .... "

"Tá certo ...  Tá certo ... eu vou conversar com o Pedro , você sabe como eu gosto dele ,  nós dos estudamos com o Professor Pery , só que ele tinha mais gosto e partiu para estas coisas de poetas , de escritores , mui bonitinhas mas dinheiro que é bom .... néris de pitibiriba  .... "

Pedro tinha 26 anos , e faria 27  daí  a  um mês e meio .

Julietinha e o Oficial do vapor .



Nesta sessão Julietinha viera de banho recém tomado . De cabelos molhados penteados junto à cabeça ; mas , como sempre , de saia ( esta era plissada )  com altura respeitosa  e de blusa quase que totalmente abotoada .  A única coisa que mudara é que naquele dia ela viera de sandálias que deixavam boa parte dos pés a  mostra  fazendo  com que  Pedro se fixasse neles ainda que em luta íntima para não fazê-lo .  Bom , pensou Pedro , tenho que manter-me como o profissional que sou , um  memorialista , um biógrafo  do interior.  "Chega de olhar tanto para os pés da balzaquiana !  ". Balzaquiana eram todas as que passassem ( um dia que fosse ) dos trinta anos .  Julietinha fizera trinta há dois meses , a viagem á Europa fora presente do irmão Paulo pelos trinta .  Começou  a narrativa  contando  a aproximação do navio ao porto de Vigo na Espanha .  Só a aproximação , não chegando  a  falar do desembarque . Contou que muitas pessoas  no navio começaram -  ali mesmo -  namoros , até mesmo envolvimentos mais sérios  .  Depois das particularidades do dia  ( shows de piano e mágicos ,  longos drinques , para ela sempre de frutas com um pouquinho de algum licor )  Julietinha  jantou e  foi para o convés pegar o vento do mar. Foi  quando se aproximou o Oficial .  Neste momento Pedro perguntou  se ele era inglês , talvez alemão , ou sueco ...  estas nacionalidades têm tradição no moderno transporte  marítimo ;  "não é Dona Julietinha ?"          " Não"  , respondeu ;    " Giancarlo é  italiano , Pedro"  ,  que deu uma tossida mais forte . "O que foi  ? "  , perguntou ela .  " Não , eu acho que estou com a garganta irritada , Dona Julietinha " .  Neste momento Pedro , como de outras vezes , pediu para ir ao banheiro e foi avisado de que hoje deveria usar o banheiro da alcova ( assim eram denominados os quartos de casas de gente com dinheiro )  da moça porque o banheiro da sala estava sendo arrumado por Quita .  Julietinha acompanhou-o  e Pedro ao fechar a porta olhou  e  ficou  extasiado vendo a  calça de baixo  estendida num porta-toalhas  ( sim naquela época era " calça de baixo "  a peça mais íntima das mulheres ).   Pedro olhava por longos momentos  apoiado na parede  . Chegou mesmo  a esquecer-se do que viera fazer no banheiro .  A calça de baixo  era de um branco muito alvo , com delicadíssimas rendas branquinhas nos locais mais mais adequados para tanto  .  Pensou rápido   "...   a renda é de Sevilha , ela pode ter parado nas Canárias , sei lá ; e comprou a calça de baixo com rendas de Sevilha " . E ele,  que sempre pensara que Nelson Gonçalves quando cantava "tinha rendas de Sevilha a pequena maravilha que seu corpinho adornava " mencionava Sevilha  só  para  conseguir uma boa  rima para maravilha .... quanto engano ... ali  estava ele frente a frente - já não tinha dúvidas - alem de existirem mesmo, eram lindas  as rendas  Sevilha  !    Pedro continuava muito mais do que sufocado , ele tremia por dentro e por fora quando ; sem saber porque ,  seu nariz passou perto , mais do que perto da tal "pequena maravilha  que seu corpinho adornara " .   Só que - ainda bem - foi despertado pelo forte cheiro de sabão , que   deveria ser da UFE  carioca .  Pedro  detestava qualquer cheiro vindo de sabão de côco .  Enfim desperto , deu uma falsa descarga no vaso e lavou as  mãos . Já na sala , de novo  reflexivamente  olhou para os pés de Julietinha .   Pensou ... meu Deus , porque isto agora ....   Despertou com  a pergunta : tudo bem Pedro ?   Sim , Dona Julietinha , vamos continuar ?

" Bem ....  acho que o Gian obedecia a  regras rígidas , próprias da marinha  porque  ........   ( " Pedro , tal já  é a nossa fraternal convivência ,  já me acostumei tanto com você  que  vou confidenciar-te  , ainda que pedindo que isto não seja  colocado no jornal " )  ... ele  nunca chegava a passar  o tempo que eu ansiava .... que eu precisava que ele ficasse comigo .... "  . Novamente Pedro tossiu , agora ainda mais nervosamente que antes .      "  Eu  estava cada vez mais apaixonada pelo Giancarlo e , ainda  mais .  pelo distanciamento de todos estes limites que temos por aqui ;  minha cabeça girava , girava só de pensar nele ,  e não  pelos longos  drinques  que eu tomava cada vez mais frequentemente ".    

Pedro ainda quis atravessar um pensamento , uma palavra  que se opusesse aquilo que achava ser uma  insensatez  própria da  idade de Julietinha ... " mas ele era italiano Dona Julietinha ,  italianos ....  assim como estes colonos italianos que andam pelas ruas em farrapos ,  fedendo  " .   " Não !  Mas não mesmo , Pedro !  "   Giancarlo é alto e esbelto como um toureiro espanhol . E tinha os olhos mais azuis do que as águas do Mediterrâneo , tinha a  cara do Mastroiani .... rescendia  a campos de  outono  na Toscana .... "



Julietinha e o tenente do vapor - Terceiro ato

Pedro cada vez insistia mais ... ' afinal Julietinha , o que aconteceu entre a senhora e o tenente .   Eu vim aqui    com um encargo , uma missão mesmo ... que é a de retratar o que em verdade aconteceu na sua viagem a Europa mas você .... a senhora não conclui , não vai ao ponto importante de sua viagem .   Neste ponto , Julietinha retrocede ... " não  eu tive outros fatos importantes . Conheci Lisboa , Londres , Paris ... " . Mas Dona Julietinha ... apesar de todas estas viagens serem importantes , eu , como um agora quase seu biógrafo , tenho - pelas responsabilidades que são próprias , são da honra do biógrafo ... !       de  mostrar  o que de fato aconteceu ....

Neste momento sem que os dois percebessem as suas pernas estavam mais do que simplesmente se tocando uma na outra  , Pedro contou-me depois que , mesmo sem que ele tivesse percebido,  sem que quisesse   ,  sua perna quase pressionava a de Julietinha . Só que , por cinfusào ,  não dava para perceber se a pressão vinha da perna dele ou dela . Ou de ambas , eu concluo .

Neste momento Paulo ( quase um mecenas para o literato da cidadezinha ) , o irmão,  chegou  à sala  e , instantaneamente ,  as  pernas retrocederam a uma distância digamos , normal.

Paulo pergunta se as sessões de coleta de lembranças estavam acontecendo normalmente e ambos respondem que tudo estava indo muito bem , só que demorava um pouco mais  em razão de as emoções , as alegrias vividas na Europa terem sido muitas e,  quase sempre , de arrepiar .


Prezadíssimos 60 s .   Tenho que extrair as lembranças que estão esmaecidas na memória .  Na verdade vou montando o quebra-cabeças de Pedro e Julietinha pouco a pouco , principalmente porque tenho que transcrever o que de fato pintou ... o que verdadeiramente rolou entre Julietinha e o tenente .  Mas prometo que  - ainda que tenha que falar com Pedro , ou com o Sapiran , que também foi confidente do Pedro , para
evitar qualquer equívoco .  Não percam os próximos capítulos !


Julietinha e o tenente do vapor . Segunda parte.

Pedro foi notando que  as atitudes de Julietinha eram contraditórias .Num momento seu rosto iluminava-se e ela deixava ver que algo havia acontecido entre os dois . Num momento de descontração contou um fato  que parecia ter-lhe marcado o coração . " numa noite ; fomos cear nas mesas do convés , foi quando a minha bolsa caiu no chão .  Ele logo abaixou-se e reçou os lábios em meu joelho .  Senti  meu corpo tremer por dentro , mas por fora fiquei  impassível  como se nada tivesse percebido " .   Neste ponto Pedro pensou que estava perto de seu objetivo : fazer com que Julietinha abrisse a alma , mostrasse a todos que , enfim .... bem ,  enfim ......
Só que  aí ela cortou para as histórias clássicas das baleias que seguiam o navio ,  a ameaça de tempestade ,  as estrelas  que apareciam no céu ao cruzarem o equador ,  a quantia que perdeu na roleta do cassino ...
E Pedro :     e o tenente , Dona Julietinha .... o tenente , que fim levou .... ?

Julietinha não só desconversou como fechou a cara .  Parece que  alguma lembrança ruim atravessava seu cérebro no justo momento em que entraria nos finalmentes . Novo sorriso , novas confissões :  "bem , o tenente era uma pessoa muito , muito ocupada . A noite ele tinha que permanecer no comando do novio , no timão .   Quando a champanhe começava a fervilhar em mim ele tinha que ir para a ponte de comando "

Não percam os próximos capítulos .





Julietinha e o Oficial do vapor - Primeira parte .

Eu  naquela época  tinha cinco anos ,  e estas memórias estão entre as coisas mais remotas que tenho registrado na mente .   Paulo era um rico estancieiro ,  formado como advogado e  candidato invicto à  vereador : nunca conseguira  se eleger.  Tinha uma irmã  de nome Julietinha ,   no diminutivo mesmo , como não era incomum naqueles anos idos.  Se Paulo era um estancieiro e candidato a vereador encalhado , Julietinha  - por sua vez -  nunca conseguira casar .  Com meios, com dinheiro  para viajar  o quanto quizesse ,  Paulo  ofertou à irmã  uma  passagem de navio ( que chamavam  de  vapor )  para a Europa. Nestes casos , ao voltarem  da viagem ,  os ricaços  da época ,  como Julietinha  e Pulo Becerra  ,  botavam no jornal da cidade algo como "O diário de bordo" .  O  certo é que  Julietinha  chamou Pedro ( o primeiro ghost writer de que  ouvi falar ) -  para por no papel  as  suas aventuras européias  .   Pedro - além de pretender  conseguir com tal trabalho por os aluguéis atrasados em dia  também  comungava da  curiosidade da cidadezinha  que era a de  saber se Julietinha tinha  - enfim -  se  entregado aos jogos de Eros . Para poder publicar  o diário de bordo , Julietinha teria que se confessar à Pedro  .  Assim foi ...  ela  no começo falou ...  falou ...  mas  nada  de  contar  algo na direção ansiada ;  sobre  se  teria  se entregue  aos jogos de Eros  .   Pedro perguntava , sugeria ,  tentava  cercar Julietinha  , mas ela ... nada . Sem que Pedro soubesse o porque , num belo dia  ela começou  a tangenciar o assunto  por dizer que  " .... conheci o oficial "  .   Pedro aos poucos  descobriu  que se tratava  do  marujo  de patente  inferior  ao Comandante  do navio .  É que o jornalista  já  era   mestre no  ( para ele )   nascente gênero de fantasma escrevedor  ,  dando  corda : - fale  mais , Dona Julietinha ,  fale do tenente  .... do tenente  do navio  , como ele era Dona Julietinha .....

Apresentação

Prezados seguidores .

Como vos prometi no blog "Sem Chaveco" , aqui está a antítese dele : o "Com Chaveco" . Como vocês sabem , se no Sem Chaveco o obejetivo sempre foi o de gritar contra o Chaveco - a mentira embrulhada para presente -    ou  a realidade sem limites .... neste  "Com Chaveco"  lançado  neste exato momento o alvo  é dar asas à imaginação , sem os limites da lógica ou mesmo dos costumes .  Apertem os cintos que o "Com Chaveco vai partir" .  Como dizia o Joaquim , transmontano de fartos bigodes ..... prtiu !!
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