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quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Julietinha e o oficial do vapor . 19

Paulo , o jovem de dezoito anos , continuava a esconder para Valéria a sua verdadeira situação , que era de menino rico ; levando-a cada vez mais a convencer-se de que tinha encontrado o homem que sonhara .  As vezes , porém , perguntava sobre a sua dedicação aos estudos :  " afinal , a que horas tu estudas , se de dia ficamos os dois aqui no meu quarto ?  "
"Eu sempre estudei à noite . Principalmente agora que fico sozinho .  Estudo até a madrugada . "

Por sua vez , Valéria dedicava-se a Paulo intensamente .   Fazia planos ,  faziam planos  para quando chegasse o momento tão esperado -  e  a intuição dizia que estava perto -  em que encontraria um velho endinheirado que caísse o beiço por ela .  Um  destes ricaços que se apaixonam por lolitas , que haveria de custear-lhe  as suas  necessidades  ; mas , principalmente , as  do Paulo , os estudos a que tanto Paulo se dedicava .  Os dois ( sim , os dois , porque Paulo também embarcou assim no sonho de Valéria e até a incentivava a buscar o velho rico que , tinha certeza - se Deus quisesse - não a exigiria tanto ) sabiam que era só esperar pouco tempo para serem completamente felizes .  Ela , como era trivial nestas ligações , só manteria um teatrinho para o velho , que  - certamente -  teria família comum , esposa e netos para cuidar ; sim , sobraria quase todo o tempo "para nós" . Se outras colegas acharam o seu velho rico , que lhes proporcionavam segurança financeira em troca da juventude por eles perdida , por que com ela seria diferente ?

Lavar roupa , passar e engomar camisas , cozinhar , limpar banheiro e arrumar os quartos ,  tudo isto ela já fazia para o seu amor , com sorriso nos lábios .

De vez em quando , quase sempre , Paulo a surpreendia pegando-a pelas costas ,  sentido que roçava-lhe a  bunda ,  mal dava tempo para apagar o fogo das panelas para ele levá-la esperneando para a cama .  As vezes a colocava com cuidado , mas em outras jogava-a do alto mesmo , pulando logo depois para cima dela .  


sábado, 24 de novembro de 2012

Julieitinha e o oficial do vapor - 18 A

- "Afinal , como é que acabou a história do oficial italiano ?    Por que vocês não chegaram até o final esperado de um casal que está sozinho num  navio em alto mar  ?  "

" Bem ,  para mim  foi  o destino que  me  levou  a que eu fosse só  do homem  para quem nasci .  Só que a parte prática disto foi  muito engraçada  .  Resolvi viajar para a Europa   para tentar  mudar a  história da minha vida ,  eu estava saturada dessa   gente  que  acha  que  não podemos  conviver  com os  pobres ...     te confesso que  ao chegar aos  trinta  resolvi  buscar  novos ares  ..."

" É  com  todo este preconceito  que teremos  que  nos  bater  agora  ...  imagines  tu  ,  a  estancieira ,  casando com um naba ...."

Pedro olhava  a  nudez de Julietinha que , abraçada a ele  ,  falava  com a ternura que só os  novos amantes conseguem ter :  " Não , não  !   tú não és um naba  , isto não !  "

"Julietinha , se me sacudirem  pelas  pernas  não cai  um centavo ...."

" Mas se   falta  dinheiro  ... sobra-te  , e  muito ,  coisas muito  mais importantes do que os outros  possam ter,  Pedro querido."

" Mas  voltando  ao  italiano .  Por outras palavras ...  tu  naquele momento quisestes  mesmo o belo Giancarlo ? "

"Não é bem que eu  o  quisesse - ou não -   ,   porque quem eu queria mesmo era  a  ti  ;  mas  a providência fez com que a minha  falta de vontade de ser do Gian  não chegasse a ser comprovada  ... "

" Sinceramente  não entendi "  -  respondeu Pedro de forma hipócrita ...

" Bom , tu te lembras que na hora em que estávamos abraçados  - eu e o Giancarlo -  tocou uma  sirena de alarme avisando  de  que algo  de perigoso estava acontecendo  no  navio ? "

" A minha  sirena salvadora , não foi ? "    disse Pedro acariciando o corpo da mulher ...

"  as  tuas  ironias  de sempre  ... ;  pois é .... chegamos lá fora  ....  eu tropeçando nos saltos altos  ...  só  que    nada de anormal acontecia no navio .... tudo tranquilo ...   mesmo assim Giancarlo correu para a ponte de comando ... "

"  já vistes   O   Belo Antonio  , com  o  Mastroiani   e  a Cardinalle ?  ...

" Vi sim  ....  e  acho que tu estás querendo  comparar as histórias ...  agradeço por ter sido  para ti  -  naquele  navio  -  a Claudia Cardinalle ... "

" A Cardinalle é uma mulher bonita  ...mas tu és mais do que isto ... tu és linda ... "    ..  e  rolaram na cama  com  Pedro  sussurrando  no  seu ouvido uma poesia feita  para ela   pouco antes  dele chegar ali ,   no esconderijo  que agora  dividiam   ...

... um dia ele chegou diferente do seu jeito de sempre chegar
olhou-a dum jeito mais quente do que sempre costumava olhar
e não maldisse a vida quanto era seu jeito de sempre falar ...

.....





terça-feira, 20 de novembro de 2012

Julietinha e o oficial do vapor . 17

- "Boa tarde Dona Julietinha , tudo bem com a senhora ?"

- "Tudo está bem , Pedro ..."

Neste momento Quita saiu do raio de visão , e também de audição de Pedro , que  recém tinha chegado para mais uma quarta-feira  de anotações .

Pegou  da mão da namorada  .

"- Falastes com o Paulo , sobre o nosso namoro ? "

"- Bom , ainda não houve oportunidade .... é que estou procurando um momento certo ..."

De um momento para o outro Pedro ficou quase irritado por  perceber que a moça não tivera coragem de falar com o irmão .  " Talvez este momento certo não exista Julietinha .  Como explicar ao Paulo que um naba como eu  possa pretender a mão de uma moça da sua classe econômica , não é Julietinha ? "

" Não fales assim ,  naba tú não és , não mesmo !     Pensas que eu não sei .... pois  me contaram que há  uns  anos atrás  fostes aprovado   no concurso do Banco do Brasil e  ao seres  chamado  , com a Dona Almerinda dando pulos de alegria porque agora terias um emprego de grande futuro   ,   tu fostes lá , trabalhastes dois ou três dias e sequer quisestes ser registrado  para valer  no banco .    Disseram-me  que chegando em casa ,   apesar de Dona Almerinda chorar muito pela tua  decisão de não seguires como funcionário em um emprego tão bom , tão seguro ,  tu pegastes as mãos dela e dissestes ..... mãe  olha para as minhas mãos ;  vamos mãe , olha para elas ....  tu não as fizestes para que  elas passassem a vida toda batendo carimbos em fichas infinitas .... as minhas mãos , mãe , foram feitas para criar histórias que meu cérebro hão de produzir , Dona Almerinda  '   ,       ...  é verdade ou não .... ? '

- " Sim , Julieitnha , foi assim mesmo ,  mas eu não me arrependo nem um pouco por  ter feito isto , apesar da pobreza que ainda hoje campeia .... "

- " Então , meu querido , como um homem que age assim pode ser chamado de naba ..... ?    Como ? "

- " Pois é , a natureza não me disse " Não sejas pobre"   ;   ainda menos :  "sejas um rico , Pedro !  " .  Ela grita-me : Sejas uma pessoa independente , "   .   Foi pensando assim que eu mandei uma carta para seu Chatô .  Expliquei a ele que nesta campanha tinha  muita coisa acontecendo .  Ele já me conhecia . Fui eu quem passei por telégrafo  todo o relato da queda do avião .   Expliquei  o  que acontecia  por aqui  - como sabes -  contrabando  de  ouro  vindo de todos os garimpos do país ,  criminosos buscam estas plagas para fugir , mafiosos querendo entrar por aqui  por causa da tradição  desta fronteira  ,  da rede de coureiros ,  passadores de gado ,  juízes corruptos em fuga ,  vinhos do lado de lá  entrando para serem vendidos como os da serra   , o próprio modo de falar  embaraça  quem  contrabandistas  e  policiais  ,   até mesmo os futebolistas que ganharam a copa nas barbas dos brasileiros eu poderia certamente entrevistá-los ..... e sabes  o que aconteceu .... o Chatô ,. o próprio  baixinho em carne e osso me respondeu dizendo que me aceitava como repórter correspondente dos Diários Associados .... estou sendo admitido pela porta da frente ....   em pouco tempo terei que ir ao Rio ... "

" Julietinha  , eu estou prestes a conseguir ;  não , não é a riqueza não ..... !    O que eu   já  quase consegui é que alguém reconhecesse  algum mérito que eu possa ter como jornalista , como literato ... e  , o melhor de tudo,  sem vender a minha alma ao tal Banco do Brasil ou a quem a queira aviltar ,  minha querida ! "

"  .... Bom  , mas agora eu vou deixar contigo  mais uma síntese do que eu andei pensando .... escrevendo .... mas ,   te admires   ou não ... estas palavras já me apareceram  assim ... perfeitas , como  um presente  que  recebo depois de muito e muito pensar ... quero que as guarde como combinamos .... "

Do papel escrito a mão,  Julieitnha leu em voz alta para ela própria o seguinte :   "  Gosto de ficar na sombra das coisas   no segredo delas , gosto  de entranhar  a criação de vagar com as idéias
como a arte que se entranha e , incerto , incorreto renasço a cada dia . "       Pedro , que coisa mais linda tu criastes  .....  "

Foi quando os dois abraçaram-se e beijaram-se como se  por  anos tivessem sem se ver ,   e despediram-se logo depois de Julietinha dizer-lhe que fora convidada para um aniversário de amiga , que seria na capital . Pedro fez um ar moleque de que proibiria a ida , mas , num sorriso só pediu para que confirmasse o dia que iria ,,,,  e despediram-se à entrada de Laurindo ,  o capataz  da estância,  que entrara pelos fundos da casa , não sem antes pedir as devidas licenças à patroa  ,  e cumprimentar Pedro  muito mais cerimoniosamente do que antes costumava fazê-lo .

Pedro  ainda  aduziu : "  Pois é ,  Dona Julietinha , com mais duas reuniões nossas eu acho que completo todas as anotações necessárias ..."

" Para mim , eu acho que duas sessões serão poucas .... mesmo assim .... "




quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Julietinha e o oficial do valor - 16

O jovem Paulo passava por momentos de grande euforia só por olhar  , pelo  buraco da fechadura  da  porta do seu quarto ,   a bela jovem passar para o banheiro  com pouquíssima ( quase  nenhuma ) roupa talvez certa de que ninguém a  mirava .   Valéria , este era o nome dela , era de uma beleza de  enlouquecer qualquer homem .  Jovem , muito jovem ,  seus seios não precisavam de qualquer corpinho para ficarem  apontando  firmes  para frente .  O corpo era de uma perfeição quase impossível de existir .  O rosto ,  se não era  uma Elizabeth Taylor  , tinha o frescor  da menina-moça que Valéria   era  .  E quando ela sorria suas feições ficavam  verdadeiramente muito bonitas .  E Paulo , para enlouquecer completamente ,não precisava de mais nada .

Num dia não resistiu , ficou esperando a moça  com a porta de seu quarto aberta  até  que ela passou  para o banheiro . Foi quando ele a abordou com  um plano mil vezes pensado .

"Tudo bem  ?           Eu sou o Paulo , e moro aqui ao seu lado , como é o teu nome ?
"Meu nome é Valéria ...."
"Pois é , eu vim da fronteira , vim estudar aqui na capital ... minha família é pobre mas estão me ajudando a pagar os estudos . "

" Que bom , você tão jovem , um menino e tanto querendo estudar , progredir ... "

A história era  abem urdida  e funcionou ....  , Valéria caíra prontamente na conversa  insincera de Paulo ... além disto ele fizera uma cara de abandonado na cidade grande que  prontamente tocou o coração dela 

" E onde tu fazes as refeições , Paulo ;  quem cuida da tua roupa ... ?

" Quem cuidava era minha mãe ,  por aqui  eu as vezes aproveito o tanque daí de baixo , no domingo eu desço e lavo o que posso , deixo secar .... as calças eu boto em baixo do colchão para ver se pegam algum vinco .... "

Valéria  se compadeceu  do rapaz  que deveria ser muito estudioso , e dele se despediu ...

Paulo percebeu que seu plano começava a colar e ficou  eufórico ...chegando   a , por vezes ,  pular de alegria  . Mas só quando  longe da casa ,  para que a farsa não ficasse evidente.




quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Julietinha e o oficial do navio - 15

Quarta-feira ,   Pedro bate na porta para a sessão de  colheita de informações do relato da viagem de Julietinha . Ela mesmo vem atender  .

- Pedro , entra ...

- Pedro , que trazia um ramo de  flores do campo  bem  variadas  sorriu  ... Dona Julietinha ... a senhora quer namorar comigo ?

Julietinha ficou séria :  " Tu não achas que é muito cedo " ?

" -  Muito cedo .....  eu estou esperando por este momento há  anos e tu  me  dizes  que é muito cedo ? "

- Por mim eu  daria  o sim  agora , mas antes tenho que falar com o meu irmão  ..

Pedro fechou o rosto ..... " - O que  teu  irmão tem a ver com nós dois ... ? "

"- É que moramos aqui ; desde que  meus pais partiram  o Paulo  assumiu a casa  .... tenho que falar com ele antes de te dar uma resposta "

"- Não Julietinha , não adiantes nada a ele ...  com o Paulo eu falo ... mas eu quero saber é de ti ... aceitas  ter-me como namorado  ? "

"- Não só aceito como sou a pessoa mais feliz  do mundo  por ouvir isto de teus lábios  , só que  quanto ao  Paulo , eu  te peço para que eu mesma fale com ele ...  no mais ,  tudo fica  como antes ...  tá bem ?

Entraram e passaram  à formalidade de sempre .

- Dona Julietinha , em que dia  o vapor aportou em Vigo ?

-  Foi no dia  27 de fevereiro .....

Conversavam  sobre o que agora pareciam  ser  generalidades até que Quita surgiu para perguntar se já poderia ir à feira  da praça do relógio ...

- Sim , Quita , deixei a lista de compras em cima da mesa da cozinha ...


Mal Quita batera a porta  Julietinha  abraçou Pedro com todas as suas forças ...

-  Sim , até que eu tentei  me aproximar de outras moças , mas você sempre aparecia   e  daí para frente nada mais dava certo ....

Ao  ouvir isto lágrimas  praticamente  saltaram  dos olhos  da moça ....  "  não repare ,   eu me contive lá fora ... mas ao ouvir isto ...é que comigo acontecia  o mesmo ,   deves ter percebido a forma que eu olhava para ti  ,   quando  nos aproximávamos  parece que tinhas um imã ao qual  eu tinha  que resistir muito , ainda bem que agora não preciso mais fugir de ti ...  .  desde cedo guris  vinham  conversar  , mas eles eram tão diferentes de ti , todos estancieiros , se bem que nós também somos  proprietários ...  mas é que  eles  desde  meninos  já  se  preocupam  com  o preço da  arroba do boi ...  essas  coisa daqui   .   Mas tu és diferente ... olhas  e falas  o que sempre eu quero ouvir ...  mas vamos mudar de assunto  , eu tenho tanto para  te perguntar ... fiquei preocupada quando contaram que tivestes que ir ao quartel  ... "

" - Sim , foram me buscar e me levaram até  lá  ..."

-  Mas o que eles perguntaram ?   eu nunca soube  que  tinhas  preferências neste assuntos ..

-  São meus escritos no jornal .... eu escrevi no natal uma crônica que eles não gostaram .... foi   A Ceia dos Vira-Latas ....."  ;   em  determinado momento o Bandeira  me perguntou ...  " tu  és  um  dos do contra , não és   ? "    .   Eu respondi ....  "não , e o senhor é ? "    " Ele chegou a levantar  a mão para me dar um tapa , mas o  Orlando segurou-a  já no ar .... "

"- Pedro , por que  responder assim ?     Tu sabes como eles estão .... por qualquer coisa  já  explodem , daí para à  perseguição aberta é um nada ."

.....

"  E  esta camisa  ?    vejo que a tua roupa  é nova ,  um misto do cheiro do corpo com  o do algodão recém    vestido ... "

" -  Consegui  receber  um dinheiro  e aproveitei para comprar duas camisas e mais umas roupas ... afinal  eu vinha te pedir em namoro .... "

" - Mas como estás bonito meu Pedro , ainda mais do que ontem   ...."


Passou um bom tempo ,  ditado  pela  intuição e generosidade de  Quita ,  até que  a porta se abriu .....

- Só não trouxe o mogango , Dona Julietinha   , não me pareceram  estar  bons ....

- Não faz mal Quita ,  espero que tenhas comprado  outra coisa para fazermos o doce ....

- Sim , comprei origones ...


Com Quita por ali  voltou a  conversa sobre a viagem , Pedro  agora fazia  perguntas com duplo sentido , maliciosas mesmo ( pensando que o italiano era mesmo impossibilitado a uma relação mais íntima )  ...

Até que  de repente parou tal assunto  e sua voz  demonstrava  tensão .   Contou  o  que acontecera com seu  caderno ... de suas conclusões sobre uma das suas melhores poesias terem sido publicadas por ninguém menos do que Chico Rosa ...   Julietinha preocupou-se muito .... logo ela que  tanto admirava o príncipe dos poetas .....

" De agora em diante eu preciso  manter um arquivo dos meus escritos em mãos confiáveis ... e quem melhor do que tu para guardá-los ....  ? "

" Sim podes deixar comigo ,   teu trabalho , para mim  valerá tanto como um tesouro ."

" Além disto , eu queria que me ouvisses sobre umas mudanças  acontecidas om o modo de eu escrever  ; é que antes eu  costumava redigir  uma passagem , um texto qualquer e depois sair fazendo aquilo que eu chamo  de catar pulgas ;   revisando-o  até  que ele  me contentasse  totalmente ... "

" Mas isto é assim com  todo mundo ... "

" Mas agora é  diferente .... Julietinha .   Tem determinados escritos que já me vêem prontos à cabeça   sendo inútil tentar melhorá-los .... nesses momentos, não em todos ,  escrevo  num impulso só  ...

Foi quando  chegou Paulo, o que ocasionou  as despedidas do jornalista ...  " eu já estava de saída ... " .

Paulo , que  nas conversas com amigos estancieiros sempre dizia que " o amor pode muito , mas o dinheiro pode tudo "   ,  a  cada  dia se  preocupava mais com aquela aproximação da irmã com um pelado , como  Pedro era  .




sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Julietinha e o oficial do vapor - 14

Pouco a pouco a cabeça de Pedro ia se dividindo .  Agora já existiam nela pelo menos quatro pensamentos  quase independentes ; mas  ao mesmo tempo  . Um só pensava  em Julietinha . O  segundo estava nas tantas contas que teria que pagar mesmo sem ter dinheiro .  O terceiro voltava-se para o trabalho no  Correio do Norte , nas matérias que tinha que  entregar para a linotipia quase que diariamente . E o  quarto... o quarto estava em Francisco Rosa , o Chico Rosa . Como , Deus ?   Como ele  retirou dali , daquela mala velha o mais  belo  dos seus versos ,  com métrica , ritmo  , rima , tudo perfeito  ?   Mas , pouco a pouco  ia se convencendo de que  fora o Jurandir . Aquele baiano sem dinheiro para pagar  hotel ,  que ele abrigara ; sim  o Dida era o olheiro do Chico ... ,  devia até  ter  carteira profissional assinada pelo Chico .
E os olheiros poderiam ser muitos ,  batendo Brasil afora .  E ele, Pedro , sempre com a   boa-fé  dos  Fagundes,  herdara de  Bandido ,  uma das melhores pessoas daquelas plagas .  ... ele , próprio  abriu as portas de seu quarto para o judas .  Agora ,  naquele sufoco todo , mas  sem participar  em um cruzeiro sequer dos lucros que o melhor de sua poesia  proporcionava ao  Chico Rosa .

E  tudo acontecia-lhe  sem ter  um amigo com quem pudesse dividir  a perda daquele  roubo de parte de sua  obra.

Apesar de ter chegado a essa certeza  ;  a de que o ladrão era o Dida ,   um tormento resistia em seu cérebro pleno de racionalidade  :   e a poeira ?   Sim !!   e a poeira   ? !       .. porque  a poeria  em cima da mala era a  mesma ,   a  acumulada  por dez anos  naquela tampa de mala,  de cantos arredondados  encabeçados por uma biqueira de metal enferrujado .... como Dida pode tirar  o caderno ,  devolvendo-o depois  à  mala ,  sem que a poeria de dez anos ficasse sequer marcada na  tampa  ?  Como ??   Bradava Pedro consigo mesmo  ....

Ele queria muito  que daqui para frente isto se reduzisse a uma questão menor em sua vida ...  só que  - apesar  disto -   o horror  voltava sempre à sua cabeça de  cientista das letras ;  .... como  aquilo  poderia  agora ter-se tornado  aquele   monstro dentro da  sua cabeça  ?  

Mas ,  se o pó acumulado  chegasse  a ser   além de alguma evidência , uma  certeza de que nem mesmo o baiano  cometera o furto , aí  tudo poderia enveredar para possibilidades ainda mais sombrias do que a alternativa Dida .

Tanto pensou  ,ora silencioso , ora aos gritos ,  que acabou por dormir .  No sonho parece que chegou a um acordo consigo mesmo .... fora  Dida  quem  levou  o caderno  de  poesias para Chico . E ponto final .

Na  manhã seguinte  outras  fontes de preocupações começaram a diminuir  .  Não é que o Paulo , sim o Paulo , o  irmão da Julietinha ,  amigo que tanto estimara  viera-lhe visitar como nunca  antes fizera , preocupado  com suas aperturas  .  Pegou-lhe do ante-braço , como fazem os daquelas paragens .... "Pedro , te abre ... o que está acontecendo contigo , vivente .....?     Me disseram que tu fostes despejado  da casa que alugavas .... diz Pedro ... o que estás precisando ....?  "

Pedro  confirmou  que estava necessitado  , mas  não sem antes  reafirmar  a velha amizade dos dois ,   só interrompida  pela indiferença do amigo.

" Paulo , como  tu  bem sabes  , agora  as rádios roubam mais e mais anúncios do Correio ... por isto ,  o   Ernesto não tem culpa por  vir  diminuindo  o meu salário .....  é que os anúncios são cada vez menos .... e  foi por isto  que eu fui me apertando cada vez mais e mais ... "

"Bom , mas quanto tu estás necessitando agora ... ? "

"Não fiz as contas , mas com uns  cento e cinquenta contos acho que daria para eu pagar   , botar os  atrasados em dia  ,  dar uma caução numas peças ,   me mudar para lá  , comprar  alguma roupa  que o inverno está aí  ,  tocar o barco ...."

"Mas será que com cento e vinte , ainda que apertando um pouquinho  mais ,  tu não botas a vida nos trilhos ..?"

"Bom , eu  acho que com isto eu poderia pelo menos  comprar   o   mais essencial ,   e  ir  levando .... "

Paulo puxou  uma bolada de notas do bolso , virou as costas para o amigo  ao mesmo tempo que separava  120 contos  entregando-os a Pedro.      " -  Te cuida  tchê  e   fica tranquilo que isto  é para ti  e  dado de coração . Ninguém , além de  nós dois ,  deve ficar sabendo .  "     Pedro abriu-se  e deu um abraço apertado .... " Paulo , mais , muito mais do que este dinheiro  com que tu me socorres  , o que me mais me alegra  é ter você de volta ,  reviver a nossa amizade em toda a sua  intensidade ...  "

Deram as costas indo   cada um  para o seu lado .


quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Julietinha e o oficial do vapor - 13

Paulo Gomes , o irmão ,  era pessoa forjada na dureza de muitos  acasos e adversidades  .  Pituca , seu pai , trocou quase que totalmente a criação de ovelhas pelo gado . Tudo porque logo depois da guerra a invenção e vulgarização de fibras sintéticas , o nylon ,  arrasaram com o preço da lã . Agora , ovelha para tosquiar era pouca .  Quase nada .  O forte mesmo era a produção de gado de corte .  Mesmo  antes de comprar  as terras da fazenda Curunilha  , os pais de Pituca  já tinham uma charqueada na Hulha, que  agora definhava . Tudo porque a conservação da carne com sal  , que vinha de 1860 ,  quase que chegara ao fim de seu ciclo .  Atualmente , a carne  agora poderia ser vendida  enlatada com o nome de corned beef ;  ou , no idioma local : presuntada .   Grande parte dela , também , era  frigorificada seguindo por estrada de ferro até o porto do Rio Grande  e daí  para os mais distantes lugares .  A frigorificação ficou sendo possível por causa  de uma usina elétrica movida a óleo de petróleo .  Assim  era a vida de  Paulo ,  ainda quase um menino - mas  já participante  do dia a dia da propriedade .  Forjava-se  o caráter  da criança ,  dentro dos limites que a vida pastoril  permitiam .  Quando fez dezoito anos Pituca mandou-o para a capital , matriculando-o  num  bem afamado colégio  .  Paulo nunca deu maior atenção aos estudos , variando  entre  aproveitamentos  escolares  medíocres  e outros  ainda piores do que esta classificação  . Desentendeu-se logo com os familiares  -  um tio distante -  que Pituca  pediu  para com eles morarem ,  e logo procurou um lugar totalmente diferente  onde podia respirar - ainda que cedo demais - os ares da independência .  Buscou  com cuidado um lugar para morar  , já demonstrando  -  desde aquela idade -  que  tinha algum  conhecimento de  negociação .  A  dona da casa , de nome Flora , Dona Flora ,  caiu  na história  do menino :   "  vim  desde a fronteira estudar aqui na capital , posso adiantar uns dois meses de aluguel  desde que a senhora me dê  um bom desconto ,  meu pai me manda dinheiro todos os meses , vem pelo ônibus , a senhora pode ficar tranquila " .  O quartinho era nos altos da casa  numa  rua mal afamada ;  duas pessoas , em dois  pequenos  - mas independentes -  cubículos  dividindo  um pequeno banheiro .  O  quarto do  Paulo  era o do  lado do banheiro e surpreendeu-se com o bom estado de sua  limpeza .  Como o contrato  fosse sem  mobília ,  comprou  ali  por perto  uma  cama  com  colchão  e um guarda roupa . Tudo sem gastar  muito da boa  mesada  que Pituca mandava  religiosamente.  Já estava na segunda noite que dormia no quartinho e não aparecera o vizinho do quarto ao lado .  A noite fechava-se a chave , mas na última  ouviu por mais de uma vez alguém subindo  e descendo a escada . Na verdade  subiam duas pessoas , para depois  descer  uma só.  Na manhã do terceiro dia ,  por acaso  ou curiosidade , deixara  entre-aberta a porta de seu quarto , que era no pequeníssimo - uns dois passos -  corredor   .  Dava mais de dez horas da manhã quando ouviu os passos  como  pés quase saltitando.  Vinha  do vizinho  a  visão  que o fez tremer muito , da cabeça aos pés :  mas não era vizinho não , era  sim uma vizinha ,  loira bem alta ; muito ,  muito jovem ,  cabelo meio cor de fogo ,  que  passara  para o banheiro vestida apenas de uma camisa  de  pijama  bege,  para voltar daí a poucos minutos .  O menino  rescém chegado da fronteira nunca tivera - nem de longe - uma visão como aquela  e não sabia o que fazer . Se corria para o quarto dela ( mas ela poderia ser casada e só ter saído com o casaco do pijama por um descuido , eis que Paulo só estava ali há dois dias ) .    O melhor , o mais sensato era fechar a porta  , respirar bem fundo  e dedicar-se de corpo e alma a única alternativa a qual poderia  se  entregar  num momento daqueles  .



segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Julieitinha e o oficial do vapor - 12

Como em toda quarta-feira , Pedro chegou  .   Emagrecido pela vida que vinha levando , mesmo assim estava mais confiante do que nunca . A leitura do sub-título "Eunuco ou Hermafrodita ? "  foi o suficiente para que confiasse totalmente que Julietinha tinha-lhe sido fiel , ainda que por caminhos tortuosos .  Nem de longe Pedro duvidava que a sua cliente pudesse ter mesmo escapado das  temidas garras do italiano.

 Pedro ,  ainda que desconsiderasse que as aparências as vezes enganam , agora estava convencido que , apesar  de existirem tantos jovens e  belos  e disponíveis  italianos ,  franceses  ou  espanhóis  .... apesar  de estar  evidente que Julietinha  queria   novas  amizades  ...  ainda assim Pedro achava que o risco era somente  Giancarlo .  E , tendo como certo que Giancarlo gravitava entre ser  eunuco , ou então hermafrodita , Pedro sentiu-se senhor da situação .

A fixação do jornalista pela  grande proprietária de terras  era conhecida por muitos .  O  obstáculo para que  ele confessasse  o misto de  paixão e  amor era  a diferença  do dinheiro que cada um tinha .  Certa vez Pedro fez uma sondagem junto a Paulo para saber se ele - como chefe da casa , portanto detentor do  poder familiar -  aceitaria um marido pobre para a irmã .  Um amigo comum jogou um verde ...
fez uma pergunta que parecesse meio sem sentido :  e se a sua irmã quisesse casar com um pobre , você aceitaria ?   Paulo não vacilou : só com separação de bens .

O filho de Pituca Gomes  adotara  um tradicionalismo de lá de trás , do século dezoito,  quando começou  a ser formado o pensamento dos fazendeiros .   Dentre as questões fechadas estava  a repulsa  a caçadores de dotes ,  O que castrava Pedro era o  risco  de que o seu amor por Julietinha   fosse tomado por interesse à  grande  fortuna dos dois Gomes ,  Paulo e Julietinha  .

Julietinha era graduada em Ciências Humanas , com especialização em História .  Escrevera uma interessante tese acadêmica sobre o chamado ciclo do charque  que  determinou  conflitos , guerras mesmo , na região .

Julietinha ,  se não sabia em todos os detalhes ,  percebia  a fixação que Pedro tinha por ela , mas  sabia que Paulo desprezava todas as pessoas , ou mesmo famílias , que não conseguissem fazer fortuna .  Não foram poucas as vezes que a morena excitou-se ao pensar em Pedro ao ponto de quase ir procurá-lo para deixar  de lado qualquer limite .

E não foi apenas o  físico de Pedro - que era o que mais perturbava Julietinha  -  mas  a pessoa sensível  que ele era num  lugar em que os homens tinham como única alternativa a de impor-se pela dureza que  a distância de tudo impunha à sobrevivência.

Foi quando  ficou claro  que  a  melhor saída seria a  comum  aos ricaços ; que ,  quando  suas  filhas   não se contentavam com as alternativas naturais dos casamentos  arranjados dentro do círculo de estancieiros ,  despachavam-nas  para uma longa viagem pela  Europa  ; sendo certo , para  eles ,  que diante de tantas alternativas novas voltaria curada da recaída quase sempre ,  de  afeiçoar-se por proletários .

Com Julietinha a saída não resolveu o problema ;  que não chegava a ser dela , mas sim , de Paulo .

Com o fracasso da tentativa européia ,  eles estavam de novo ali ,  sentados  um a frente do outro ,  cada vez  mais  presos  às teias tecidas pelos outros .

A energia elétrica da cidadezinha era instável naquela quarta-feira em que , por compromissos diurnos , Pedro veio à noite .  Estavam sózinhos quando faltou a luz ;  os dois levantaram-se ao mesmo tempo e  se chocaram no escuro . Pedro  , que tinha as mãos a frente como que tentando buscar alguma lamparina ou lampião ainda que não soubesse se , e onde,  poderia encontrar tal socorro ,  na verdade encontrou o vestido  , o corpo de Julietinha e  foi impossível  evitar    que , primeiramente os dedos tateassem-na de forma cada vez mais intensa,  até que se abraçaram  como quem não pretende nunca mais se soltar . Foi Julietinha quem ficou na ponta dos pés para que sua boca colasse de forma absoluta na de Pedro com uma intensidade de quem quer recuperar uma joia rara perdida no mar .... mas  a luz voltou repentinamente , e pior , por duas vias :  Quita entrou na sala com um lampião a querosene na mão direita ,  ao mesmo tempo que a energia elétrica voltara , iluminando a sala como se o sol nascesse as nove horas da noite .  A mesma força que unira os dois na escuridão , repelia um corpo do outro parecendo que nenhum dos dois admitia que a  sociedade soubesse não só que se amavam ,  mas , principalmente , que  já era sabido que não poderiam jamais se aproximar .

Pedro virou o corpo para a janela , olhando a esmo e Julietinha disfarçou mostrando à Quita que , na verdade estaria sentada sozinha no sofá esperando que a luz voltasse .

Pedro  saiu , dando por terminada a sessão daquele dia  e , sem perceber ,  deixou cair  algo com  certa aparência de recentemente  escrito :  O que não conseguem os costumes sociais !  Apenas uma teia de aranha estendida sobre o vulcão , mas ele se contém .



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