A noite ajudava na retirada do furgão que , verdadeiramente , estava com o tesouro . Nem a lua apareceu no céu . Pouco antes da escapada de D ´ Artagnan e Aramis , Athos , serviu-lhes de batedor . Tudo na tentativa de afastar o mais do que improvável risco de que alguém percebesse o automóvel que ia com a dinheirama . Também por isto , fizeram um caminho muito mais longo . Na verdade atravessaram - pelo campos - a Serra de Caçapava , um lugar absolutamente despovoado , e ainda sem arames farpados . Aliás , sobre arames farpados os pobres do lugar diziam , como outros tantos , que "Deus criou a terra e o diabo o arame farpado. "
Até que D ´Artagnan chegou ao silo pelo lado contrário à única estrada de acesso para quem ali pudesse chegar . Só assim conseguiram que na estrada normal , no caminho comum a todos , não restasse qualquer rastro dos seus automóveis . Os que , enfim , chegaram no fim do mundo onde ficava o silo .
D Ártagnan e Athos levaram em conta que a região é de árvores esparsas , e baixas , entremeadas de grama , que também é vegetação nativa naqueles campos que vão do Sul do país , atravessam o Uruguai todo , e entram na Argentina, tudo praticamente com a mesma topografia ; de planície imensa , os chamados pampas . Por ser um quase infinito gramado , naquele ponto só interrompido por árvores de pequeno porte ; é comum aos que conhecem seus segredos que - desde que tenham boa orientação - atravessem-na de carro , que segue sempre costeando a mata que - aqui e ali - compõe a natureza viva que só existe naquele lugar . Foi assim que D ´Artagnan chegou ao galpão em que o furgão viria a ser inteiramente coberto de soja . O silo estava no pé da serra , no seu limite onde começa a planura total . Dali em diante já encontrariam tão somente fazendas . Ou , como chamavam os nativos dali , as estâncias . Este era o termo mais indicado , talvez em razão de ser comum a ambos idiomas : espanhol e português . Já o vocábulo "fazenda" era um pouco diferente em espanhol : hacienda .
Estância , estancieiros ... tudo igual , dos dois lados da fronteira .
D Ártagnan e Athos levaram em conta que a região é de árvores esparsas , e baixas , entremeadas de grama , que também é vegetação nativa naqueles campos que vão do Sul do país , atravessam o Uruguai todo , e entram na Argentina, tudo praticamente com a mesma topografia ; de planície imensa , os chamados pampas . Por ser um quase infinito gramado , naquele ponto só interrompido por árvores de pequeno porte ; é comum aos que conhecem seus segredos que - desde que tenham boa orientação - atravessem-na de carro , que segue sempre costeando a mata que - aqui e ali - compõe a natureza viva que só existe naquele lugar . Foi assim que D ´Artagnan chegou ao galpão em que o furgão viria a ser inteiramente coberto de soja . O silo estava no pé da serra , no seu limite onde começa a planura total . Dali em diante já encontrariam tão somente fazendas . Ou , como chamavam os nativos dali , as estâncias . Este era o termo mais indicado , talvez em razão de ser comum a ambos idiomas : espanhol e português . Já o vocábulo "fazenda" era um pouco diferente em espanhol : hacienda .
Estância , estancieiros ... tudo igual , dos dois lados da fronteira .
D ´ Artagnan tinha ido atrás - e conseguiu - de um novo cadeado para o portão do silo . Seu problema foi encontrar um cadeado novo em seu segredo , mas igualmente velho na sua aparência , eis que um cadeado totalmente novo poderia evidenciar que algo ocorrera de diferente no galpão , que era quase abandonado . E usar o mesmo cadeado de antes , o cadeado velho , traria um risco a mais : o de que alguém , que também tivesse a chave velha e , por razões desconhecidas , até mesmo o de ir procurar uma enchada , poderia descobrir o carro bilionário . O fato é que Mas D ´Artagnan achou um velho cadeado numa cidadezinha do Uruguai de nome estranho : Treinta e tres . Mui provavelmente , trintra e três foram os espanhóis que resistiram bravamente aos portugueses . É comum que nestes casos , digam as lendas que os trinta e três heróis enfrentaram - e venceram ! - centenas de inimigos . Neste caso hipotético , portugueses . Não é a toa que o hino da República Cisplatina , depois República Oriental do Uruguai , diz " orientales , o la pátria o la tumba " . Mas esta escolha , entre a hipotética honra e a morte , é um mote comum a quase todos os hinos daquelas paragens tordesilhanas .
O furgão foi estacionado , e fechado a chave , exatamente embaixo da bica , que com soja , na segunda-feira de manhã inundaria o carro transformando-o numa montanha de soja totalmente recheada de notas de cem dólares . Tudo levava a crer que a soja só voltaria a ser solicitada na próxima safra . E mesmo assim , se esta resultasse em uma colheita ruim . Ao contrário , se as safras permanecessem favoráveis , a soja sequer seria lembrada. Ficaria ali mesmo , como estoque regulador do governo
Mas restava um problema : D Ártagnan ; ou melhor , um seu bem- mandado , deveria vigiar para que durante todo o tempo não fosse aceso o secador de grãos . Os motivos eram óbvios : o calor que serviria para secar a soja poderia danificar os muito prováveis vinte milhões de dólares .
E aqui tem-se que lembrar do que representa o dólar do norteamericano naquele ponto do planeta .
Pelas condições especialíssimas de ser a região carente de algum outro meio de reserva efetiva - e fungível - de valor ; por ali o dólar era de garantia e praticidade únicas .
Sim , o dólar que , se não tinha o antigo brilho das libras esterlinas , consistia numa libra de papel tão aceita com a inglesa um dia foi e , por motivos de que em sua essência ser tão somente um papel , tornava-o muito mais fácil de ser internacionalizado . Principalmente porque ele trazia uma jura , tão solene como podem sera as juras americanas , a de que qualquer um poderia exigir o seu valor em ouro. Ou , por outra , um papel filosofal fungível em ouro 999,99 % .
Além de tantos cuidados , mais um eles tomaram : Athos ficou encarregado de , já no dia seguinte - um domingo , passar um fecho de chirca nas prováveis , ou hipotéticas , marcas que os pneus poderiam ter deixado , na terra do solo que - porventura - estivesse sem pasto ( assim é denominada a grama naqueles confins ) .
Nenhum rastro poderia ser percebido , ainda que por um gaudério desgarrado - destes que conhecem as pegadas como a palma da própria mão - que porventura andasse a esmo como eles tanto gostam de vadear .
A distância dos dez últimos quilômetros seria no outro dia batida pelo próprio Athos que , no último dia do feriadão de fim de ano , com um vassourão de chirca , varreria os lugares que tivessem sido em algo modificados pelos carros ; a menos chovesse . Aí as hipotéticas pegadas seriam apagadas pela chuva mesmo .
E aqui tem-se que lembrar do que representa o dólar do norteamericano naquele ponto do planeta .
Pelas condições especialíssimas de ser a região carente de algum outro meio de reserva efetiva - e fungível - de valor ; por ali o dólar era de garantia e praticidade únicas .
Sim , o dólar que , se não tinha o antigo brilho das libras esterlinas , consistia numa libra de papel tão aceita com a inglesa um dia foi e , por motivos de que em sua essência ser tão somente um papel , tornava-o muito mais fácil de ser internacionalizado . Principalmente porque ele trazia uma jura , tão solene como podem sera as juras americanas , a de que qualquer um poderia exigir o seu valor em ouro. Ou , por outra , um papel filosofal fungível em ouro 999,99 % .
Além de tantos cuidados , mais um eles tomaram : Athos ficou encarregado de , já no dia seguinte - um domingo , passar um fecho de chirca nas prováveis , ou hipotéticas , marcas que os pneus poderiam ter deixado , na terra do solo que - porventura - estivesse sem pasto ( assim é denominada a grama naqueles confins ) .
Nenhum rastro poderia ser percebido , ainda que por um gaudério desgarrado - destes que conhecem as pegadas como a palma da própria mão - que porventura andasse a esmo como eles tanto gostam de vadear .
A distância dos dez últimos quilômetros seria no outro dia batida pelo próprio Athos que , no último dia do feriadão de fim de ano , com um vassourão de chirca , varreria os lugares que tivessem sido em algo modificados pelos carros ; a menos chovesse . Aí as hipotéticas pegadas seriam apagadas pela chuva mesmo .
O cuidado era mesmo extremo : mesmo sendo certo que o caminho comumente não seria usado por quem quer que fosse ; mesmo assim eventuais rastros deveriam ser apagados . Este seriam , daí para frente os cuidados próprios d ´ Os novos Mosqueteiros .
Somente a título de curiosidade , no dia em que Athos passava a vassoura de chirca apareceu , já a uns três quilômetros do lugar onde entrara o furgão , que muito estranhou a atitude de Athos .
Era um cavaleiro que por acaso pegara aquele atalho , que depois dos cumprimentos de praxe perguntou :
- Que pasa ? Por que estás hoje aqui pelas Palmas ?
- Te olvidastes de que é no primeiro do ano que nós , lá de Camaquã , viemos para os campos para pegar as ervas que usaremos nas nossas macacoas , nas enxaquecas ?
- Pois eu te juro que não me lembrava disto . É que nós , lá das Palmas , pegamos as ervas na Semana Santa ... sendo assim ... buenas tardes indio velho !
- Buenas ! Respondeu Athos para o cavaleiro que começava a se afastar .