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quarta-feira, 29 de julho de 2015

O Monastério de Bodedalma - 35

Ainda noite aberta as luzes das celas de Mondongo e Manduca se acenderam . Não queriam atrasar-se  naquela que seria a reunião mais importante para o futuro do Monastério .

Vestiram os seus hábitos , tomaram o frugal desjejum de sempre e encaminharam-se para o Grande Salão . Pouco depois , já não mais de capa preta esvoaçante , mas de calças jeans carcomidas pelo tempo , entrou Sua Sapiência ,  o Bodão , ou melhor , Bodedalma em carne e osso .  Muito mais carne do que ossos porque  a sereníssima pessoa era ultra obesa .

Bodedalma apontou para Manduca , dando a ordem gestual para que ele fosse o primeiro a transmitir sua sugestão  para a nova campanha de pesquisas do Monastério .

"Para ser breve , concluí que deveríamos nos voltar para o sagrado.  Sim , deveríamos fazer um levantamento , uma contagem mundial sobre quem sejam os  crentes neste planeta ; enfim , quem de fato crê , e - do outro lado -   que , por consequência ,  o número dos ateus ,  dos agnósticos ,  ... "

Bodedalma e Mondongo foram acometidos do silêncio dos surpresos , até que Mondongo recobrou os  sentidos de ambos: " Manduca ,  não vejo como uma contagem que separe  quem creia ,  dos incréus,  poderia nos diferenciar nesta crise interminável ... "

Bodedalma aparteou : " Não seja tão apressado , Mondongo ... sinto que neste feijão tem linguiça ... vá em frente cupim de excrementos dos  vermes ... "

E Manduca : " Para mim é claro .  A batalha final , o Armagedon  - também na economia e nos negócios - será  entre  quem acredita em algo maior ,  versus  quem afirma que  somos  fruto de um mero  acaso físico/químico ...

"Continuo sem perceber as consequências  econômicas de tal hipotético conflito ... "  aparteou Mondongo.

Bodedalma não se conteve : " Cala a boca , reles bastardo . Pela primeira vez, em dezenas de anos de convivência , percebo que Manduca pensa ; que ele pode   existir  para o mundo do intelecto , ...   Fala , conclui ; desembucha  Manduca ! ... onde você quer chegar com esta  parolagem toda ? "

Neste momento soou  o sino que badala quando alguém lá embaixo chega ao granito que sustenta o Monastério , e em horário diverso do entregador de víveres.  Como o acontecimento era de uma raridade quase única , a adrenalina dos três monges disparou .  Mecanicamente  Manduca levantou-se e dirigiu-se até a atalaia da qual tudo abaixo era visto .

Obviamente que a resposta de Manduca sobre a possível utilidade econômica de separar-se  quem acreditava ,  dos ateus em geral , ficara para outra oportunidade . Para depois de que se soubesse a que vinha o forasteiro que o sino badalara.  

terça-feira, 28 de julho de 2015

No Monastério de Bodedalma - 34

Bodedalma foi franco .

"Se vocês melhorarem muito as suas idéias elas estarão prontas para ir para o lixo .  Controle de cliques não consiste novidade .  Todo mundo já  faz isto .  Quanto a controlar os saldos das contas bancárias , qualquer banquinho de quinta categoria faz isto todos os dias através de seus funcionários , seus gerentes . O que me deixa mais pasmo é a falta de criatividade a que chegamos . Nada de realmente novo ocorre em nossas cabeças . "

" Possivelmente seja um caso de senilidade precoce coletiva ,  Eminência Suprema . "

"Talvez ...   temos  oxigenar  o nosso Monastério .   Sendo assim está aberta , para nós três , Eu , Mondongo e Manduca , um concurso para que se descubra a ideia que nos fará atravessar este momento de crise,  até que ela passe , se é que um dia vai passar.  Não podemos esquecer que existem epidemias que não passam jamais . Sugiro que cada um de nós reflita o quanto for necessário para chegar a gerar uma ideia nova . Instituo desde já  o prêmio da ideia vencedora ,  a que nos fará transpor a crise sem  mais sofrimentos .  Amanhã , ao nascer do sol , nos reuniremos aqui mesmo para que cada um  ponha  a sua tese na mesa . "

Bodedalma levantou-se do trono e andou resolutamente para a grande porta celestial .  Sua capa preta , com bordados dourados esvoaçou com os movimentos firmes da deidade das mantiqueiras , tal como esvoaçam as capas pretas dos Maiorais do Supremo ,  do Grande Acaiaca.


sábado, 25 de julho de 2015

No Monastério de Bodedalma - 33.

Com sua voz de baixo de coral alemão Bodedalma instiga Manduca,

" - E você , verme dos vermes pensantes ; não lhe ocorre ideia alguma ?  Será que nossa cinquentenária convivência nada gerou em teu cérebro quase desprovido de neurônios ? "

Manduca sem exitar :

" Sim ,  Excelsa Figura  ,  seria  totalmente impossível que a convivência com um ser tão brilhante quanto Vossa Deidade Primeira e Única não ocasionasse em meu espírito consequência alguma ... sim eu tenho uma sugestão a fazer ... "

"Desembucha ... "  respondeu  Bodedalma .

" Contrariando o que sugere Mondongo ,  eu acho que deveríamos voltar nossas baterias para uma apuração ainda mais acurada ,  ainda mais refinada , ainda mais específica ... "

" Chega de rapapés ,  Manduca ...  vai  logo ao ponto ou eu vou fazer a tua desova  com o Dalmata Mor de minha matilha  ...  e agora mesmo ! "

" Mil perdões , oh inefável figura ...  eu sugiro  que , ao contrário da ampliação infinita do controle de cliques  proposta por Mondongo ,  eu sugiro que nos dediquemos  a aferição pente fíno  do quem é quem graneiro . "

" Quem é quem graneiro ?   O que queres dizer com este "quem é quem graneiro ? "

"Quem é quem graneiro  consiste numa aferição  em tempo real  do percurso  percorrido pela grana mundial . "

" Bom , a resposta me parece óbvia ... "   comentou o Bodão .   " ... mas qual a utilidade maior de tal aferição  em tempo real ? "

Manduca não se fez de rogado : " As utilidades são muitas ,   a principal delas é  a venda para a banca internacional , sempre em tempo real ,  de onde a cada momento a grana está . Em que mãos , em que bolsos . "

" E daí ,  e daí ? "   Insistiu  o Bodão .

" E daí  que  a banca  não perderia  tempo  em implorar  genericamente os capitais  ;  para que ,  genericamente como é feito hoje ,  os detentores de alguma grana ceda-lhes  o tutú a leite de pato , para que ela , a banca internacional ,  venda  o tutú  aos  enforcados com os altíssimos  spreads  de sempre ... "

 " Huummm  ... até que você não é tão burro quanto parece ,  operário Manduca . "

"  Se cheguei até aqui foi por mera osmose convivencial com Vossa  Iluminescência Total  . "


Não percam amanhã  mais um capítulo de " No Mosteiro de Bodedalma . "

sexta-feira, 24 de julho de 2015

No Monastério de Bodedalma - 32

Bodedalma convocou os demais habitantes de seu Castelo para uma reunião de crise :

" A coisa não está fácil !   Tá de cagar e sentar em cima !   O cancelamento de serviços  de  clientes tidos como perpétuos  é cada vez maior .  Vamos então ao  óbvio : se  crise é mesmo perigo e oportunidade , onde estariam agora as oportunidades ?  Para qual dos nossos novos projetos temos que dedicar a atenção  maior  neste momento crucial  da sobrevivência desta civilização Acaiaca ? "

A resposta veio de Mondongo :  " O melhor projeto  é o dos cliques . "

Foi quando Manduca  entrou na conversa :  " O dos cliques ... ?    Mas a última contagem feita pela sapiência  Bodedalma I ,  o quartius da trindade , aponta para que uma diminuição do cliques já esteja em curso desde o começo  desta infinita crise ... "

 Bodedalma ,   que ronronava  atentamente , só fazia ouvir , foi  quando  Mondongo  voltou à carga .

" Nada pode ,  neste momento, ser  mais importante  do que um aprofundamento amplo,  geral e irrestrito do controle dos cliques .  Devemos  voltar nossas baterias dos contadores de última geração ,  entranhados que estão nestes maciços  da Mantiqueira ,  para a contagem  não só dos cliques  gugú. Mas ,   de todos os cliques ,  venham de onde vier ; tenham a  origem que tiverem ."

" Até os chings ? "   aduziu Manduca .

" Principalmente os chings . Você bem sabe que não é de hoje que traduzimos o ching-linguês  em tempo real . "

Bodedalma não se conteve : " Tudo bem ,  só nós - neste planeta - dispomos concomitantemente do  duro  e do mole  necessários  a tal  contagem  tendente ao infinito .  Mas o que eu não consigo identificar é qual seja   a utilidade ;  qual o benefício que  -  em meio a este quebra-cú geral  -  nós poderíamos colher de tal  onisciente controle de cliques ?



Não percam amanhã :  Se o  Monastério de Bodedalma vai mesmo produzir o  controle  universal de cliques .

terça-feira, 7 de julho de 2015

A mesa de roxinho.

Roxinho .

Foram  duas as toneladas  de  objetos sem serventia que, praticamente ,  jogou no lixo .

Agora chegou o Pinheiro , o mesmo amigo que lhe vendera muitas das coisas sem serventia que tivera que desprezar  para - in extremis -  não ser abandonado pela mulher :  "   as tranqueiras ou eu "  foi o veredito .  Ainda que sem muita confiança , optou por ela.

Pinheiro jogou  o sarrafo de uns trinta centímetros na mesa e disse em tom desafiador : " O senhor conhece isso  ? "

O "isso" era  um pedaço de madeira de cor absolutamente roxa , certamente pintada de anilina ;  mesmo assim era de uma tonalidade incrivelmente  bonita .

" É um pedaço de madeira colorida por anilina roxa "  respondeu .

Não era .

" A madeira não é pintada , doutor .  A cor roxa é dela mesma ...  "

E em, tom quase ameaçador ?  " É natural dela mesma , doutor ! "

A resposta foi um choque.  Como poderia existir na natureza uma madeira naturalmente com aquela cor   maravilhosa ... ?

Pinheiro , um marceneiro de mão cheia , não era homem de mentiras. Comprara dele irresistíveis ofertas , quase sempre  mesas e estantes , mas também cálices torneados ,  colheres  de pau ,  alguidares ,  coisas  que ele sempre acabava comprando pela beleza da forma dada pelo Pinheiro às madeiras . O certo é que  comprava  mesmo sem saber bem qual utilidade que depois daria à peça.

Pouco a pouco foi recordando-se  que vira , mundo afora , belas peças de roxinho , todas com aquela cor única  .  Uma delas , achava , fora  no Palácio de Buckingan , certamente .   "Sim , aquela mesinha era de roxinho ... "

Pinheiro voltou à carga :  "  Doutor ,  eu era criança quando vi  o último  pedaço de roxinho . Para mim  é madeira que já não existe mais , nem no Brasil , nem em qualquer lugar do mundo .  Pois não é que eu desmontei a carroceria de um velho caminhão  e  ela era de roxinho doutor ! ? "

"E daí ?  "

" E daí  que eu fiz uma mesa de roxinho com dois metros de comprimento , por  um e vinte de largura ...  é a única que existe agora no mundo , posso garantir .  Coisa mais linda , doutor ! "

"Onde ela está ? "   Perguntou  já ansioso , quase trêmulo.

" Tá  na minha oficina . Acabei ela  há pouco tempo . "

Não resistiu ,   ficou  com a mesa de roxinho por mil reais . Uma pechincha .







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