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sábado, 20 de dezembro de 2014

Outra vez : Julietinha , de Boca do Monte para o mundo .



Acreditem !  Não consegui esquecer  . É  como no Molambo ,   o mais  célebre dos sambas-canções : " ... que depois de tudo que ela me fez , eu jamais poderia aceitá-la outra vez !"

Sim , com no Molambo , eu não consigo esquecer de Julietinha um minuto sequer !

Aqueles cabelos negros ... aqueles pésinhos ardendo o desejo ... confesso-lhes  que em breve  voltaremos todos , como um sonho que volta. Sempre  .  Ou  um pesadelo recorrente . Esperem só mais um pouco ,  voltaremos logo no início de 2015.

Se aspirarem fundo  perceberão o Chanel número 5  , rescém espargido ,dela para o nosso ar .  É ela  já se fazendo  sentir .

Em 2015 , logo no início ... Julietinha e todos ,  aqui e agora .

Abraços   , e um Feliz Natal a todos , do amigo de sempre

Pedro  ,  o gost-writer de Boca do Monte .


domingo, 2 de novembro de 2014

O pão deles .

Prezados Leitores .

Não raramente  penso  na angústia  dos que tem que ,  obrigatoriamente , escrever  algo que  permita  ganhar o pão deles  de cada dia  .  Os que ,  dispostos ou não  ,  a fim de - ou não , tenham  que escrever como se muito inspirados estivessem . Neste dia de finados , minha eterna gratidão a eles por  conseguirem  ultrapassar  a  falta de inspiração  para que ,  sem falta ,  desfrutemos  das suas pontuais criações literárias    .  Digo isto porque  mesmo tendo  só  uma dúzia de leitores ;   ainda assim ,  posso  sentir  o drama que é ter que escrever   - como tenho estado ultimamente -   sob o jugo  daquele  "fiquei burro de vez "  que  , também  de vez em quando ,  baixam em nós assim  como baixam os encostos  nas adolescentes .  Só que , enquanto com as adolescentes os encostos sãos em seus corpos ,   em nós - literatos -  ele  se instala  no  nosso próprio  cérebro .

Aproveito  esse dia de Finados para  agradecer a todos os  anjos   pela graça de eu  ter somente doze  leitores  .   Só uma dúzia  de  fiéis , digamos ,  seguidores .  Sabendo-se que  este "digamos"  origina-se em que alguns deles não sejam assim tão fiéis, porque cada vez menos raramente ,  a medição do google cai  a níveis nunca antes ; assim  como  tem caído o das represas de água de São Paulo ;  no meu caso  as vezes  raspando a dead line definitiva  desse mais do que despretensioso  blog . Mas agradeço mais ainda por todos eles , Zuenir  Ventura talvez ,   não me culparem pelos muitos períodos em que quase fiquei  burro ( ainda que muitos discordem do  "fiquei" )  para sempre E  por isso ,  impossibilitado de escrever-lhes  uma linha sequer .  A  todos os anjos do céu ;  e , por que não ?   os do Purgatório  também  , o meu perpétuo  "muito obrigado"  por  não ter sido desta vez que fiquei  burro para sempre  .

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Bem vindos , leitores " Marroquinos" !

Prezados fiéis perseguidores !


Acreditem !   Agora  somos  lidos  também  no  Marrocos .   E eu que pensei que de Marrocos só cus-cus .  Não , agora - com muita honra ... também leitores de Marrocos .


Não é para qualquer um ser  lido em todo o planeta Terra ...  do jeito que vai , em breve seremos lidos em  Bongo ... aquele planeta que gira na volta  da estrela  Cutitampê  , da Galáxia Klincas .


Como agora somos 14 .... e como eu declarei que quero ter um bilhão de amigos , agora só faltam 999.999.986  leitores .  O que nem de longe me desanima a chegar  o bilhão .


Bem Vindos amigos Marroquinos  , junte-se à nossa grande comunidade de  14 pessoas   .   E  não esqueçamos nunca do nosso lema :  " A massa ( ainda que seja  de  somente  quatorze pessoas )  quer crescer ! "


Pessoal : por aqui - hoje 21 de outubro de 2014 - Dilma Roussef  com  52  %   , contra  Aécio - obviamente - com  48  %  .  Para  esquecer , achei  melhor ir ao cinema e assistir um filem de terror .  Búlgaro . Até !



terça-feira, 14 de outubro de 2014

Brzil . A volta .

Estimados Leitores

Ontem fui tomar uma cerveja com Brzil . Ou melhor , Ildefonso de Alencar .

Brzil disse-me que tinha como certo que ganharíamos agora , em 2014 , outro Nobel para o nosso país .  Mais um ,  além do que ele   ganhou pelo único livro que escreveu ... " Obrigado por não ter dito adeus. "

Respondi para o meu amigo : " Mas então , por que você não volta à Suécia ?  A Noruega ?   Se  passando um tempo lá você já conseguiu trazer um Premio para o nosso País ... por que não voltar e obrigá-los de novo  - ainda que moralmente - a reconhecerem outra vez  seus próprios erros ? "

Neste momento senti que os olhos de Ildefonso voltaram a brilhar com aquela intensidade que só olhos das crianças possuem .

" Não sei ... o tempo passa e acho que já estou velho para novos sonhos e responsabilidades comigo mesmo .  Bom , mas pelo menos desta vez eu teria recursos . Ainda tenho boa parte do prêmio que ganhei .  Vou pensar , depois te falo sobre o que eu decidi ... obrigado pelo conselho . "

Então ...  esperemos pela decisão do cara . 

domingo, 12 de outubro de 2014

Proibida !

Prezadíssimos Leitores ( perdão , mas tenho esquecido do nosso placar , que - pela leitura de vocês - faz-me o mais honrados dos blogueiros :  believe or not !   somos agora 29 ! )  . Como dizia ... quem mesmo dizia isto ?  ... Arquimedes ... não Arquimedes não foi , mas deve ter sido pelo menos um primo do  Arquimedes ( não , eu não vou jogar isto no Google ) ... vou deixar assim mesmo ...  Como  dizia o primo do Arquimedes ... dêm-me um ponto de apoio e eu moverei o mundo !

Já comigo é : " Deem-me 29 leitores e eu mudo o mundo ! " .

Bom , mil perdões por eu ter entrado assim , sem mais nem  menos ... de sola !

É que todo este rodeio é para conseguir um sorriso , já não digo uma gargalhada , dos meus hoje  29 estimadíssimos leitores . Vamos ao trabalho , que enobrece o peão e enriquece o patrão .

Mas esta é probidíssima para menores de 21 anos . Não nos responsabilizamos pelas consequências da inobesrvância  ( gostaram ? ) deste aviso . Chega de rapapés ... vamos lá .

Dois homens perderam-se na mais inóspita das caatingas nordestinas .  Perdidos ,  prestes a morrer de sede  , acharam um jegue ( daqueles que tem a cruz no lombo )  e - ambos encarapitados em cima do burrico seguiram assim,  certos que suas horas tinham chegado ( dos dois e do jegue ) .

Foi quando , lá longe , apareceu um verdadeiro oásis .  Uma lagoa mais ou menos límpida , que por sinal tinha uma mulher na outra extremidade da lagoa lavando roupa .

Os dois saltaram do jegue e precipitaram-se até a margem , fartando-se de água .

Voltaram  até o jegue e levaram-no para também saciar a sede .

Subiram de novo no animal para reiniciar a marcha , até que achassem o caminho de volta .

Foi quando o mais afoito dos dois disse : " Cumpadre ... dá um tempo ! "

Desceu do jegue , andou até onde estava a mulher agachada em posição de ... em posição de quem lava roupa na beira de uma lagoa ,  esgueirou-se por trás e aproveitando-se da pobre mulher comprovou ali uma verdade medieva : " A carne é fraca . "

Voltou para o burrico sob a inquisição do amigo : " A moça reclamou ... o que ela disse de você ter usado ela " .

"Calada estava , calada ficou . "

O segundo homem animou-se e repetiu a trajetória , planejando supreender a mulher da mesma forma do outro .

Saciado , voltou  para  onde estava o jegue ,  montaram nele ,  quando o animal tinha andado  uma dezena de metros estancaram :

" Cumpadre ,  este burrico salvou nossas vidas .  E sendo assim , vamos deixá-lo na saudade ? "

" Nada disso ... vamos levar o jegue até lá . "

Lá chegando acoplaram o animal na pobre senhora ... trabalho feito  voltaram para a estrada .

Foi quando o remorso abateu-lhes : " Compadre , nós somos uns canalhas !   Aproveitamos  da  pobre moça ... uma coitadinha ... certamente lavando roupa para ganhar alguns trocados ..."

Tiraram a sorte para ver qual deles iria desculpar-se em nome dos três .

E lá foi o malfeitor .. o tarado escolhido para pedir perdão .

" Senhora ... perdõe-nos ... o sol deste deserto deve ter cozinhado os nossos cérebros , só assim poderíamos ter perpetrado ato tão ignóbil ... perdõe- nos ! "

A mulher foi brevíssima : " Deixa o celular do terceiro . "!

domingo, 28 de setembro de 2014

Eu quero ter um bilhão de amigos !

Prezados Leitores .

Mais uma boa notícia : temos agora leitores em um novo País  :  no Vietnã . Bem vindo amigos "vietnamitas" !  Um abraço daqui deste país tropical abençoado por Deus para vocês .

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Bem-vindos os romenos .

Caros leitores !

Uma boa notícia para mim ,  e para vocês todos -  que são meus Amigos .

O " Com Chaveco" está  sendo lido agora também na Romenia .  A Romenia que tem um idioma próximo do português !

Bem-vindos , amigos romenos !

A minha rosebud .

Estimadíssimos Leitores ,

Tem mais coisas entre o Céu e a Terra do que a nossa vã filosofia pode supor  .  Pois é , acredite se quiser ,  a minha rosebud é mãos nos pés .

Não está entendendo nada ?  Tudo bem ;  como sempre, eu explico .  Lembro-me de  quando meu avô morreu  .  Nós , as crianças , brincávamos na sala , passávamos debaixo do caixão que continha , nada menos , o  cadáver de meu avô . Todos que chegavam abraçavam minha avó e diziam-lhe ,  em separado , mas unanimemente   : mão nos pés . Mão nos pés . Mão nos pés .

O tempo passou e aquelas poucas palavras não saim da minha cabeça : "mão nos pés" .

Anos , muitos anos depois achei que tinha decifrado  o funéreo mistério . Achei que não era "mãos nos pés"  coisa nenhuma . Pelo menos foi o que concluí . O que diziam à minha Vó Izaura , concluí emocionado e - talvez  equivocado - , era "meus pêsames" .

Respirei aliviado , mas só por pouco  tempo .  Andando numa  compridíssima  esteira rolante  de aeroporto ( acho que era em Frankfurt )  o  "mão nos pés " voltou com tudo . A esteira andando e , de tempos em tempos o inexorável "mão nos pés ",  que eu pensava ser "meus pêsames " ,  era  repetido nestes ouvidos para a minha mais completa humilhação ... "mão nos pés " ... " mão nos pés " .

Entrei no avião com o "mãos nos pés"  nos ouvidos ,  dentro do cérebro mesmo .

Desci  no Schipol , em   Amsterdan  e quem estava lá ,  na esteira  holandesa ?   ... ninguém mais , ninguem menos do que o "mão nos pés " .   "Mão nos pés" . "Mão nos pés"  .

Como diz Dona Marta Suplicy , quando o estupro é inexorável  relaxa  e  .....   .   Desisti  . Não me preocupo mais .  "Mão nos pés"  é a minha rosebud .

sábado, 20 de setembro de 2014

Que seio !

Uma de gaúcho .

Ou melhor , mais uma .

O Rio Grande do Sul tem duas topografias  dominantes : o pampa no sul ,  e a serra ( a região montanhosa ) no Norte .

O norte foi colonizado por europeus , principalmente italianos ( chegaram primeiro ) , e alemães.

Muitos  dos italianos vieram de Veneza .  E  adaptaram ( como em todo o mundo ) o novo idioma  a dicção e suas possibilidades linguísticas  .

Assim é que  o fonema reproduzido pelo "ch"  ( chave  ,  cachaça ,  achar )  recebeu a pronúncia  de  save ( para chave )  ;  cassaça  ( para cachaça )   e  assar ( para achar ) .

Conta-se que um "italianinho"  ( um descendente de vênetos )  esperava o ônibus urbano na região da Serra .  O ônibus parou , ele entrou e percebeu que o  veículo estava absolutamente lotado .

A sorte   destinou-lhe ficar com a cara a pouquíssimos centímetros de uma belíssima moça que nada ficava a dever no que relativo  ao par de atributos conhecidos na  bela atriz italiana Sophia Loren .  Sendo a moça mais alta  do que o nosso herói , seu rosto ficava quase junto daquela visão - para ele - paradisíaca .

La pelas tantas  o  vêneto  não se aguentou : " Que seio ! !  "

A mocinha não  titubeou : " Seu atrevido , seu sem vergonha ! "

O italianinho não perdeu a classe  ...   " que seio tá o ônibus ! "  

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

( Saga of the Prize ) "O Premio" in the Amazon .

Dear readers of the five continents, which, let's face it, may not be a large number of readers: but having five of them, one on each continent, I obviously have readers in all the five continents!

Why in weekly chapters ?  

I respond it myself: Because I'm experiencing problems making the translation from Portuguese into English which is linguistic process that I'm not fully fluent in a literary level. I can guarantee - at least for now - that I'll be posting one chapter a week.

As I always say "the crowd always wants to grow" (Elias Canetti). And , if the "The Prize" goes well (meaning... if it pays itself - paper and ink spent on its making), then my other books will come along to play: "At the Monastery of Bodedalma", "Julietinha and the steam officer", and "The blue ball padlock". Or ...

Only bestsellers! Verifiable, none of these books have less than 14 readers ...

Notice: Amazon requires that the text should be exclusive and original, so I won't be able to include the closing chapter of "The Prize" (O Prêmio) in my blog. Doing so would be a breach of contract with Amazon. But my concern with you, dear readers, will not end!

E-mail me and I will repay you with only exciting final moments of "The Prize". Those final moments, modesty aside, are sensational (but remember that "self praise a half slander" - in fact, I've never looked the dictionary up to find the real meaning of slander, but - by logic - it should be the antonym of "praise".)

As for my other literary experiments ( Julietinha , Bodedalma, The Padlock and so forth, they will continue on my blog: Com Chaveco).

My sincere wishes of good luck to all of you. 

José Amaral

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Pode vir quente que eu estou fervendo .

Acreditem se quiser ... voltamos à Tuvalú !

Não dava mais para suportar ... seca ...  eleições ... Tiririca  cantando Roberto Carlos ...  Dona Dilma virando diabo ...  Aécinho  de cara lavada ... foi demais .

O avião  deu uma volta em cima do aeroporto , praias selvangens  ao alcance da mão .

Eu mesmo peguei a mochila  , cheguei  ao resort seis estrelas e fui atendido por uma nativa , de sarong  na parte de baixo .  De matar  ( de novo )   o  Gauguin  do coração.  Mas me mantive na linha . Sem baixar meu olhar dos olhos dela .  Na moral .

Sozinho fui para meu chateau .  Sem saber se estava acordado ou dormindo ouvi um canto ao longe .

"Eu prefiro ser  uma metamorfose  ambulante . "     " Eu prefiro ser  uma metamorfose ambulante ...  do que ter aquela velha opinião formada sobre quase tudo . "

Olhei e não vi viva alma .  Resolvi então procurar pelo entorno , pelos nichos da vegetação .

"Será que é ele de novo ? "

E se fosse ?    Se fosse eu teria que procurar com olhar de águia . Ou de lince ... sei lá .  Tudo porque se fosse ele  , o cumpanhero estava mimetizado como uma bandeira da causa gay .

Mas de repente , não mais do que de repente , eis que algo se mexe .  Ainda que mimetizado , eu não tinha mais dúvidas ... era o Camaleão petista .  Sim , o Camaleão  que mandava  no PT  .  O partido dos trabalhadores de Tuvalú .

"E aí  Camaleão petista ?    sempre pensando que é borboleta ? "   foi o que eu disse a ele .

" Pensando o caralho !    Eu sou mesmo uma borboleta , uma metamorfose ambulante ... "

"Tudo bem camaleão ... não precisava baixar o nivel ... "

" Não me interessa o que vem de você ... não  me interessa o que vem da zelite . "

"Bom , mas agora te puseram  em xeque .   E se  a Dona Redonda não ganhar ? "

" Veja como voceis da zelite são uns idiotas .  Não perceberam que eu ganho com qualquer uma .  Se der a magrinha eu ganho .  E se der a gordinha eu ganho também ... "

" E 2018 ?  "

" Para mim ,  2018  está onde sempre esteve .  É na base do Tremendão : " Pode vir quente que eu estou fervendo .   "

" Se é assim , eu tô dando o fora .  Não sem antes repetir : você é um camaleão ; nunca jamais poderá ser uma borboleta ...  Você é , e sempre foi , um mimetismo estático . "

Foi quando ouvi o camaleão petista ( de Tuvalu ) continuar cantarolando ..." eu mesmo sendo um mimetismo estático prefiro seeeeeer ... uma metamorfose ambulante .  "




quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Da Patagonia , novamente .

Estimados Perseguidores !

Informo que estou em breve período de descanso , longe das eleicoes que assolam muitos países .  Brasil e Escócia  sao dois bons exemplos .

Aproveito para matar a saudade . Uma do Doutor Ulysses Guimaraes , sobre eleicoes .

" Politicos enfrentam  tres  grandes perigos .  Bebado  , fogos de artificios  e pasteis . "

Embora desnecessario , explico o obvio . Os bebados costumam ser inconvenientes quando encontram candidatos  pela falta momentanea do alter-ego .  Os fogos de artificios  costumam explodir onde menos se espera .  E os pasteis -  prova de fogo para os politicos brasileiros por terem que ser ingeridos a qualquer custo  , costumam  ocasionar as mais intensas diarreias .

PS . Estou num computador de um hotel nos confins da Patagonia , sem  todo os sinais graficos da lingua portuguesa .  Mil desculpas !

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Saga of the prize .

Estimados leitores ,

O nosso "O Premio " tem agora a sua versão em Inglês  :  Saga of the prize .

É assim que está na Amazon Book . Se gostarem , recomendem ao amigos . Se não gostarem , aos inimigos .

Banzai !

Estimadíssimos Leitores

Abro um parêntesis para dar uma notícia importante . Estas poucas e mal traçadas linhas viram agora um romance , uma novela .

Sim , decidi que iria por meu material na rede .  Mais precisamente , na Amazon .

Resolvi que  - para poder dar continuidade nas histórias    [ Julietinha , Bodedalma , O Cadeado de Bolinha Azul ( why not ? )  e O Premio    ]   eu teria que ter algum retorno que me permita continuar disponibilizando tais  ideias .

Assim  ,  O Premio  já está - em portugues -  na  Amazon Book . Completo , de cabo a rabo . Se não postei o final  aqui é porque a Amazon exige originalidade e exclusividade .

Mas , para quem não quer adquirir  por uns  poucos dólares ( ou reais ,  se estiver no pais tropical abençoado por Deus )  eu - num cumprimento de minha vontade de dar-lhes de maneira privativa o sensacional final ( modéstia a parte , ele está maravilhoso , espetacular , surpreendente ... não percam ! )  : basta que me mandem o seu e.mail para   clepsidra8@gmail.com  que receberão particularmente os capítulos do térmnio ( vai até o capítulo 54 - The end ) .

Quanto à novas histórias , as velhas e todas mais , eu continuarei antecipando-as aqui nese "Com Chaveco " .

Concluo dizendo-lhes que foi para mim uma grande honra trocar estas idéias , principalmente as de "O Premio " .

Em português  é  o livro  " O Prêmio " .  assim mesmo , é claro.

Em Inglês eu só consegui postar os 10 primeiros capítulos : tenho problemas para traduzir .

Título em Ingles :   Saga of the prize .

Todos os domingos juntarei um novo capítulo  na versão em Inglês  . O próximo  ( o  décimo primeiro ) -  será juntado no dia 7 de setembro , domingo . Caso eu consiga traduzir  mais de um capitulo por semana ... eles irão entrando com maior velocidade . Até que chegue o 54 .  Enjoy  it !



Longa vida , com muita saúde ,  boa sorte  ,  grandes realizações , Banzai !

 José Amaral

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

No Monastério de Bodedalma - 30


Foi difícil  , mas  Bodedalma  foi  ressuscitado  em Santa Bárbara , na  Califórnia .  Só que  a sua decepção com Manduca crescia ,  eis que o  Bodão  percebeu que seu servo cada vez se distanciava mais de seus mandamentos . O mais terrível é que Manduca já  não lhe prestava contas e ; certamente embolsando toda a grana ; traindo - assim - Sua Bodência , Primeira e Única - como se fosse  um camaleão  dentro de sua bota.  O reles  abjeto  passou a  insinuar-se ante à  freguesia de pareceres bodísticos , de informes econômicos e político que pela hierarquia  itatiana  - só poderiam ser exarados em nome do Inefável .
É claro que Manduca fez muito bem em tentar manter a clientela . Mas o fato de ter mudado a originalidade de Bodedalma  em tais relatórios  foi uma traição digna de mineiros .

Assumir a titularidade dos serviços , com Bodedalma vivo , consistia numa afronta imperdoável . Tudo bem que Manduca , de tanto vadear nas proximidades  da quase-deidade aprendera muito ,  passando a dispor de um mínimo de  competência  para poder  avaliar , ponderar ,  relacionar e emitir -  ainda que com boa chance de erro  - as informações que eram fornecidas diariamente pelos milhões de contadores implantados por Bodedalma nas entranhas do Itatiaia .

Se Bodedalma  , ao perceber clara e psico-osmoticamente  a revolta  da criatura  face ao seu  criador  ,  antes já  contava os dias para voltar e assumir o seu Mosteiro ; agora a contagem já era de segundos ,  e logo  seria  de décimos .

Quanto à Mondongo ,  este  também conseguiu escapar  , ainda que com sequelas .  Mas a análise da persona "Mondongo"  , por ser de complexidade ainda mais dramática , será analisado a posteriori.

Por uma destas  coincidências tão próprias da física quântica  as três figuras tinham - um pela outra -  a sede de vingança que costuma animar seres unidos indissoluvelmente pelo destino . Na verdade , os três , onde cada um deles  estivesse , afiava as unhas para um confronto tão esperado quanto   inexorável . E , novamente , ele seria para matar ou morrer .

Quanto  Sua Bodencia ,  ele   que  sabia estar prestes  a receber alta , já pedirá as condições e preços para ser devolvido ao Itatiaia  pelo mesmo meio que de lá fora trazido para Santa Bárbara : de drone .


terça-feira, 12 de agosto de 2014

O sol nasce para todos . 23

Prezados Leitores !

Como era de se esperar , os financiamentos do BNDES ( o banco estatal brasileiro ) para a captação de energia solar com células fotovoltaicas direcionou-se muito prioritariamente para projetos com escala muito maior do que o aproveitamento caseiro , em domicílios residenciais .

Desde muito tempo que a Presidenta Dilma Roussef vem referindo-se à captação domiciliar como algo utópico ,  embora nem de longe o seja.

A bem da verdade , há de se reconhecer que o único estado brasileiro socialmente bem-intencionado quanto a este aproveitamento energético é Minas Gerais , que diminuiu os impostos a serem pagos pelas pessoas que valem-se de tal meio de gerar energia .

O que vem por aí é conhecido : grandes projetos , grandes negócios , grandes propinas para as pessoas , que dispõem do poder de aprovação das usinas .

Aliás ,  é bom que se diga que também neste ramo o cálculo do custo está sendo feito pela economicidade padrão do capitalismo :  os "inteligentes "  comparam o rendimento do capital do interessado numa "aplicação normal " ( digamos , 8 % ao ano )  e  "permitem-lhe "  uma economia sobre o capital de 10 %  ao ano .  Ou seja  , calculam uma lucratividade medíocre face a potencialidade do bem que está em jogo : a fonte energética sem custos que não sejam assumidos pelos "usineiro caseiro " .

Quanto aos grandes projetos , estes vão lucrar  os 20 % por cento ao ano só permitidos ao grande capital .

Como dizem os espanhóis ... quien tiene  , por algo tiene .  

sábado, 2 de agosto de 2014

Capítulo 51

Um grave incidente acontecido ainda no aeroporto de Estocolmo mudou a direção dos ventos . Ao ser revistado , um cachorro aproximou-se de sua  mochila e começou a dar pulos e,  balançar freneticamente o rabo .  Foi quando ele foi convidado a dirigir-se a uma pequena sala . Aquilo mudou a sua vida .

O cérebro de Brizl quase explodiu : " Aqui tem o dedo de Robben ! "

domingo, 27 de julho de 2014

Capítulo - 50

Ao chegar à porta da agência bancária  nas Perdizes ; Ildefonso abriu a mochila para que o guarda constatasse que nada de metal trazia dentro dela .  Entrada permitida,  Ildefonso, com sua mochila ,  dirigiu-se até o  sofá próximo da mesa do gerente . Cinco minutos depois o gerente convidou-o a sentar-se na cadeira à sua frente . Ildefonso abriu um envelope , tirando dele um ticket , perguntando ao gerente se o crédito ali mencionado poderia ser pago naquela agência .

" O senhor poderia repetir o seu nome , por favor . "

" Sou Ildefonso de Alencar . Há tempos atrás os meus salários eram pagos aqui , nesta agência . Antes de voltar  da Europa  , depois de sete meses por lá  ,  fiz uma aposta na Lad Brokers , que é uma casa de apostas , de Londres . " 

" Quando chegou de Londres ,  senhor Alencar ? "

" Ontem , cheguei  ontem à noite em Guarulhos . "

Neste momento o gerente pediu licença e foi até um telefone há uns cinco  metros de onde estavam ; passando a falar e gesticular  . 

Voltou ;  dizendo à Ildefonso:  " Não estou entendendo; o que esta agência bancária pode ter a ver com sua aposta na Lad Brokers de Londres , cavalheiro ? 

" Nos meses que tive na Europa  percebi que por lá os computadores estão quase todos interligados . Sendo esta uma agência de um banco tão importante na Inglaterra ; e sendo fácil conferir  que minha pule é vencedora ; por um momento pensei que havia chance desta agência do HSBC , mediante comissão , pagasse o jogo que fiz na Inglaterra . "

Ao dizer isto , Ildefonso olhou para fora da agência e notou  que ali se formava um aglomerado de fotógrafos ,  pessoas com aparência de repórteres , jornalistas ... 

Foi quando o gerente levantou-se , foi à porta e , com um sinal de mão , orientou o guarda para eu mantivesse o grupo do lado de fora da agência . 

Só que quando voltou à mesa , ela já estava vazia de gentes . Ildefonso simplesmente desaparecera .

Tudo porque percebeu que , de alguma forma , os jornalistas souberam que ali , naquela agência bancária , estava ninguém menos do que o deportado de Estocolmo .

Foi para o banheiro , tirou o spray holandês da mochila,  jogou-o nos cabelos transformando-se num deles : num holandês. Vestiu o casaco florido , botou os grandes óculos escuros no rosto,  completando o disfarce . Enquanto isto o gerente , junto à porta por onde Ildefonso já saia , tentava acalmar os repórteres. Ildefonso ganhou calmamente a rua , sem que percebessem que , aquele falso holandês ,  era - de verdade - o brasileiro recém extraditado da Suécia para o Brasil .      

domingo, 13 de julho de 2014

O premio - 49

Enfim ele conseguiu entrar no assunto : 

" Afinal , Dr. Robben  ,  a que vem o seu convite ? "

" Já que insiste  , vamos lá .  Por  diversas pessoas fui informado que você está perplexo com o fato do Brasil nunca ter ganhado um só Premio Nobel ... "

" Perplexidade já não tenho mais. Perplexidade é  um sentimento fugaz. Ninguém fica perplexo por anos a fio. E eu estou nisto há anos, Dr. Robben. Perplexidades a parte, o que preciso agora é  saber o motivo de um país com a inteligência  que tem o  Brasil  não tenha, até hoje, recebido o premio. Este é o ponto: saber o motivo de sermos os Nobel-less do planeta"  

Foi quando ambos sorriram muito. Tudo porque Brzil, naquela Ilha de Ormoya, ter acabado de cunhar uma expressão que sintetizava o sentimento de desprezo enfrentado pelos brasileiros : "Nobel less" . Os "sem-Nobel". Os que não têm direito à honraria. Em meio às risadas tragi-cômicas, Robben e Brzil aproveitaram para renovar o  brinde inicial, só que o de agora foi mais espontâneo, e serviu para aproximar , para valer , os rescém conhecidos; risadas e álcool fizeram com que Robben começasse a abrir o bico sobre o que sabia do Nobel, no começo de maneira comedida, para logo depois, totalmente .   

"Não quero ser precipitado, mas posso garantir que tenho meios de melhorar as chances de determinadas candidaturas ao Nobel.  Mesmo assim  não posso saber com exatidão quais sejam os motivos de  um determinado país, qualquer um, jamais ter ganhado o premio. Sinceramente, acho  que isto é impossível de se descobrir.  Mas, seguindo caminhos lógicos, posso esclarecer este assunto por outros meios lógicos: se a alguém é dada a possibilidade de influenciar num processo  - e disto tenho certeza - é claro que, até por mera  objeção, os que não dispõem de qualquer tipo de influência pró -  (  permita-me definir  assim a possibilidade de um barco vencer tendo a seu favor um vento forte na direção certa que os demais concorrentes não  tiveram) permaneçam para sempre esquecidos. Mas, reitero que essa minha conclusão nasce somente da lógica, eis que jamais eu  soube de que se tenha feito, de uma forma direta, algo para impedir que "a" ou "b" fossem os escolhidos. "

"Não estou sofismando, nem equivocado quando penso que só restam duas alternativas, quanto tais pessoas que concedem o Premio Nobel jamais terem-no outorgado ao Brasil; ou melhor, aos intelectuais brasileiros: Ou os juízes são desinformados; ou comem milho na mão de pessoas influentes. Como eu sei que tais pessoas  não podem ser desinformadas ... "


" Seu raciocínio é lógico, mas lembro-lhe que - a meu ver -  ninguém amou mais a lógica possível do que Shakspeare  ; e mesmo assim por aqui ele não ficou só na Física ,  quando admitiu que aqui pela Escandinávia, existiam, entre o céu e a terra , muito mais coisas ,  Dr . De Alencar , do que pode sonhar a sua vã filosofia .  " 

" Se  vamos por aí , lembro  que  ele mesmo também disse que não era raro existir algo de podre  nos reinos  destas latitudes ,  com suas  respectivas  longitudes . "


Robben sorriu,  ainda que  o brasileiro  estivesse  sério;  o que fez Robben, quando voltou a falar, o fizesse com seriedade semelhante a  estampada no rosto de Ildefonso.  Quando Ildefonso  atropelou :

"Dr. Robben, sejamos diretos. Se o senhor quer dinheiro para fazer lobby para o meu país desde já adianto que o trabalho que faço é  solitário, independente e carente de quaisquer recursos econômicos. Dá-se por minha conta e risco. E mais; não disponho de verba de representação, ou qualquer outra, tenha o título que tiver .    "

Embora essas firulas só parecessem palavras soltas ao vento ; o certo é que  com elas Brzil quis incentivar Robben a falar mais sobre o tipo de  influência  que ele  tinha  quanto às premiações ; fazendo ,  porém ,  questão absoluta de não contrariá-lo .  Pior ainda para Robben : procurando demonstrar que só não contratava o Lobby pela sua falta de dinheiro .  Todavia, sempre deixou a porta bem aberta para Robben oferecer seus serviços a leite de pato . De graça , portanto .

Tudo porque  Brzil já tinha conhecimento de que  alguns premiados tinham sido beneficiados  por determinado tipo de amizades,  que no fundo consistiam no que é denominado comumente de "lobby" . 

O que Robben  não sabia é que Ildefonso já desconfiava de  que aquela forma de aparelhamento do colegiado (  que  era  feita  de graça  e em prol de amigos do lobista ,  ou de amigos dos seus amigos ) , de alguma forma  já fazia parte  da tradição .

E o empresário holandês foi em frente :

Como, Sr.  De Alencar ; como uma pessoa com a fortuna que eu honestamente amealhei poderia  solicitar  alguma recompensa financeira de  você ,  meu novo amigo  ;  você  que  -  ainda que eu possa estar enganado -  evidencia ser uma pessoa de poucos recursos financeiros ?   Sinto muito ,  mas o que o senhor está  mencionando não é lógico ,  nem pode parecer  verdadeiro . "

Pelas  contas  de Brzil , Robben  engolira  o anzol .  E ele sabia que tinha que aproveitar  o momento ,  dando ainda mais linha ao peixe .

E Brizl aprofundou seu ataques contra as peças de Robben: 
"Confesso que não entendi. Se não é por dinheiro, então por qual motivo o senhor poderia gastar seu precioso tempo em articulações para a premiação   ?  "  

"É simples; mas vocês, sul-americanos em geral, desconhecem algo que muitas vezes chega a ser maior do que a própria pecúnia - ou - como dizem os franceses; l ´argent. É a amizade, o desejo de fazer que as pessoas do meu próprio clã sejam-me gratas para sempre. Depois que se conquista certa grandeza de valores fungíveis, daquilo que vocês no Brasil chamam de grana; deste ponto em diante a moeda é outra. Trata-se de valorizar-se aqueles que elegeram-se mutuamente amigos. Estruturar uma sociedade de pessoas que pensam igualmente. Viver-se dentro dos limites possíveis que o termo "sociedade" possa atingir. E é isto que estou agora oferecendo-lhe: que faça parte do meu rol de amigos. Esteja certo de que tal oferta é algo de valor inestimável. Lembro agora de quando aluguei uma plataforma à Petrobrás escutei um provérbio bem brasileiro, que reconhece o valor de uma verdadeira amizade: " Mais vale amigo na praça do que dinheiro na Caixa " .  Pois bem, a oferta que agora faço, de que seja mesmo meu amigo, nasceu das notícias a mim contadas pela Srta. Kari Kristiensen. Foi ela quem percebeu os seus méritos, a lealdade que tem a uma causa;  e garantiu que o senhor dispõe das virtudes necessárias para ser um dos nossos.  E além disto, convenhamos, saber-se que em pleno ano de 2014, com a agenda que a Escandinávia tem com o Brasil, vocês não terem um - pelo menos um - Premio Nobel, é algo que chega às raias do impossível ... "

E, bem próximo ao ouvido de Brzil - disse algo inaudível a quem não fosse um dos interlocutores. Tendo  como resposta de Ildefonso algo como ...  "Sr. Robben , temos um ditado bastante simplório no Brasil que diz que "uma coisa é uma coisa, e outra coisa é outra coisa " . Mudando de assunto: eu gostaria de saber mais sobre a Srta. Kari  Kristiensen, ela pareceu-me ser uma pessoa  de espírito inexpugnável  ... "  

"Por detrás daquele distanciamento todo esconde-se uma personalidade muito sensível; Kari é uma boa pessoa.
E ela sabe muito bem que existem muitas pessoas fissuradas por ter um Nobel. Posso garantir que esta fixação não chega a ser um privilégio seu. "

Neste ponto Brzil sorriu , eis que - ainda que não fosse dizê-lo para Robben - na verdade ele não era "uma pessoa fissurada por ter um Nobel "  .  O que ele era  mesmo encanado era por saber o motivo de nunca terem dado um premio para um brasileiro .  " Uma coisa é uma coisa , outra coisa é outra coisa ! "

Mas Robben prosseguiu :  " Não fique pensando que é o único que encasquetou em querer um Premio Nobel para si , para seu país. Ano após ano, muitas são as pessoas que vêm aqui; todos com lindos  curriculuns, com belos trabalhos;  mas , também , conscientes de que somente a sua obra, somente seu  currículo,  não  serão suficientes para ganhar o  premio . "

"Mas se são muitos que vêm ao senhor ,  como escolhe para quem o seu  lobby vai ser feito , caso haja duplicidade  ? "

"Brzil, creio que chegamos ao nosso point of no return . Minha experiência diz que você vai ser um dos nossos. Então, já o tendo  como um irmão de fé , camarada ;  acredite que eu mantenho um conselho particular de informantes graduados - a denominação correta é : " graduados plenos "  - que, em havendo empate nos níveis das  amizades, eles - os "graduados plenos" - auxiliam-me  a escolher  dentre os meus amigos - como já somos ;  ou entre  os amigos dos meus amigos,  qual é o mais  estão mais apto . Ou seja , neste ponto tem-se uma análise técnica  dos trabalhos , a qual apontará sobre quem nossos esforços recairão . " 

Brizl continuava achando que ainda era muito cedo para repelir a oferta de Robben . E continuou ... 

"Perdão, estes  graduados plenos funcionam como seus assessores, estou certo ? "

"É isto mesmo, os graduados plenos vem a ser meus assessores diretos. E são eles, nos quais confio de forma absoluta,  que vão me dizer qual a obra, dentre as que me são trazidas pelos amigos , e pelos amigos dos meus amigo , que deve ser assumida por nós .  É óbvio que , por uma questão de ética , somente trabalhamos para um em cada categoria . "

" Pela experiência que tenho com estas situações ,  também acho que o senhor corre riscos de ser escutado por terceiros indesejados , que queiram interceptar  suas conversas , suas orientações  ... "

"Este risco não acontece comigo,  Brzil .  E não acontece porque - para tais feitos ,  nós ainda estamos  na era pré -postal  . "

" Era pré-postal ? "

"Explico: como você sabe, aqui na Escandinávia todos são fans, adeptos de saunas; banhos públicos em que as pessoas só entram despidos, tenham o sexo que tiverem. Foi por isto que re-entronizei o costume que chamo "boca no ouvido". Ou seja: quando eu quero falar algo para um "graduado pleno" eu - simplesmente - marco uma reunião numa determina sauna;  onde - evidentemente - ninguém pode trazer um gravador escondido, simplesmente por não ter onde esconde-lo. E , se por absurdo , admitirmos um gravador tão pequeno que possa ser trazido por uma pessoa desnuda . Ou seja: toda a comunicação é feita da boca para o ouvido ,  e - assim mesmo - num volume bem baixo , chegando ao detalhe de observar-se se o ouvinte tem algum objeto intra-auricular , fato que impediria que ele estivesse dentre os  meus  graduados plenos . Daí  quase chegar a ser absoluta a impossibilidade de um graduado pleno obter - se o quisesse - uma prova de minhas instruções .
Veja , Dr Alencar , foi por estas e outras que o Francis nunca conseguiu provar uma vírgula sobre nós . "

"Bom, mas isto seria factível em Oslo, e seus arredores . Mas , nos tempos de hoje, na maioria das vezes as pessoas estão em distâncias que não podem ser vencidas assim, facilmente ...  é aí que entra a necessidade da telefonia, dos e.mails ... "

"Também sempre pensei nisto. Estás vendo aquele helicóptero ali estacionado. Na época do Nobel trago-o em regime de alerta total, pronto para a qualquer momento partir para um lugar, na Escandinávia - região onde exerço meu  trabalho solidário - para seguir a qualquer ponto onde as reuniões de sauna possam acontecer. Ou seja, quanto à comunicação sobre isto tudo, não só estamos numa era pré- Graham Bell; mas, também, numa era anterior ao correio postal propriamente dito; aquela do homem a cavalo anunciando sua passagem pela vila para entregar cartas escritas a mão. Brzil, nisto tudo, só existe comunicação oral, e ao vivo. Nem mesmo telefone feito com duas latas e barbante são admitidos". Foi quando Robben deu uma boa gargalhada. Mas Ildefonso apenas sorriu.

"Sinceramente, jamais eu pensei que isto pudesse ainda acontecer ..."  Emendou.  "Mas ainda tenho uma séria dúvida,  Sr. Rodden: Parece-me evidente que, ao não dar conta de fazer você mesmo a avaliação pessoal - aquela que deveria ser feita pela sua própria pessoa - das muitas teses que participam dessa pré escolha, o senhor está transferindo para terceiros o poder real de tal esquema. Mesmo com os cuidados  em não ser pego fazendo explicitamente seu lobby, mesmo assim estamos diante da possibilidade de que os seus "graduados plenos " venham a se corromper, eis que se o senhor não precisa mais de dinheiro, é quase certo que eles ainda  necessitem do vil metal."

"Sobre isto, a minha opinião é que  em todas as relações humanas   chega-se a um ponto em que só nos resta confiar - ainda que nem sempre o queiramos - em outras pessoas. Nem todos os cuidados do mundo  podem evitar que - em algum momento - sejamos obrigados a confiar em outro ser humano. E eu, sabendo disto, faço sempre uma triagem ultra cuidadosa dos meus graduados plenos, além de promover reavaliações de rotina sobre como andam suas vidas. É o máximo que posso fazer. Mas fique tranquilo Brzil, em muito anos de atuação, nunca tive uma só traição. Pelo menos que viesse dos meus assessores de lobby. "

E , de novo ,  gargalhou .






O premio - 48


" Doutor  Robben  , a que vem  tão gentil  oferta  ? "

" Já que insiste  , vamos lá .  Por  diversas pessoas fui informado que você está perplexo com o fato do Brasil nunca ter ganhado um só Prêmio Nobel ... "

" Perplexidade já não tenho mais. Perplexidade é  um sentimento fugaz. Ninguém fica perplexo por anos a fio. E eu estou nisto há anos, Dr. Robben. Perplexidades a parte, o que preciso agora é  saber o motivo de um país com a inteligência ,  e a criatividade  existentes no Brasil ,  nunca ter recebido o prêmio. Este é o ponto: saber o motivo de sermos os Nobel-less do planeta "  

Foi quando ambos  passaram a rir  mais e mais . Tudo aquilo por   Ildefoso ter acabado de criar  uma nova expressão idiomática que sintetizava a percepção dos brasileiros pelo esquecimento dos suecos e dos noruegueses: " Nobel-less".  Os "sem- Nobel ".  Os que não têm direito à  honrarias. Em meio às risadas  -  sendo que as de Robben eram para valer, mas as de Brzil no máximo cautelosas , os novos amigos aproveitaram para - com mais um brinde -  festejar o encontro. Com o álcool fazendo com que anfitrião  abrisse  o bico sobre o que sabia do Nobel.  No começo de maneira comedida, para  logo depois abrir-se de vez .

"Não quero ser precipitado, mas posso garantir que tenho meios de melhorar, e muito, as chances de determinadas candidaturas ao Nobel. Mesmo assim, ressalvo que não posso saber com exatidão quais sejam os motivos  de um determinado país, qualquer um, jamais ter ganhado  o prêmio. Sinceramente, acho que isto é impossível de se descobrir. Mas, seguindo caminhos óbvios, posso esclarecer este assunto por outros meios : o de que a alguém seja  dada a possibilidade de influenciar no processo - e disto tenho certeza -  é claro que, até  por mera objeção, os que não dispõem de qualquer tipo de  influência  pró  ficam para trás. Permita-me explicar : é assim como  um barco receber  vento forte e na direção certa , com os demais permanecendo  na calmaria .  Mas, repito ,  que essa  conclusão nasce somente da minha lógica, eis que - objetivamente - eu jamais soube que se tenha  feito, de uma forma direta e oficializada, algo para impedir que "a" ou "b" fossem os escolhidos."

"No caso brasileiro, só restam duas alternativas ao juri do Nobel:  Ou os juízes são desinformados; ou, comem milho na mão de pessoas influentes."  Disse Ildefonso quase perdendo a calma de que tanto precisava naquele momento.

Mas  , aos poucos , Brzil chegava onde queria :


"Dr. Robben, sejamos diretos. Se o senhor quer dinheiro  para fazer lobby para o meu país, desde já adianto-lhe que o trabalho que faço é solitário, independente e carente de quaisquer recursos econômicos. Dá-se por minha conta e risco. E mais; não disponho de verba de representação, ou qualquer outra, tenha o título que tiver."

Embora essas afirmações pareçam  desinteressadas; o certo é que com elas Brzil quis incentivar Robben a falar mais sobre o tipo de  influência  que ele  tinha  quanto  às  premiações. Com elas
Brzil fez questão de limitar sua impossibilidade de contratar o lobby, somente  por não ter dinheiro para pagar. Todavia,  deixou a porta aberta para Robben  oferecer seus serviços a leite de pato .

Tudo porque já  tinha conhecimento de que  alguns premiados foram beneficiados  por determinado tipo de amizades, que no fundo consistiam no que  é  denominado comumente  de "lobby" . 

O que Robben  não sabia é que Ildefonso já desconfiava de  que aquela forma de aparelhamento do colegiado (que era feita de graça e em prol de amigos do lobista, ou de amigos dos seus amigos ) , de alguma forma já fazia parte da tradição.

E  o  empresário  holandês  foi em frente :

" Como, Sr. De Alencar; como uma pessoa com a fortuna que eu honestamente amealhei poderia  solicitar  alguma recompensa financeira de  você, meu novo amigo; você que  - ainda que eu possa estar enganado -  evidencia ser uma pessoa de poucos recursos financeiros ?   Sinto muito, mas o que o senhor está mencionando não é lógico, nem pode parecer verdadeiro. "

Pelas contas de Brzil, o holandês engolira o anzol. E ele sabia que tinha que aproveitar o momento, dando ainda mais linha ao peixe .

Foi quando Ildefonso  aprofundou  seus ataques contra às peças de Robben:  " Confesso que não entendi. Se não é por dinheiro, então por qual motivo o senhor poderia gastar seu precioso tempo com as articulações da premiação   ?  

"É que vocês, latinos sul-americanos, desconhecem algo que muitas vezes tem mais valor do que a própria grana. É a amizade, o desejo de fazer que as pessoas do meu próprio clã sejam-me gratas para sempre. Depois que se conquista certa grandeza de valores fungíveis, daquilo que vocês no Brasil chamam de grana; deste ponto em diante a moeda é outra. Trata-se de valorizar aqueles que elegeram-se mutuamente amigos. Estruturar uma sociedade de pessoas que pensam igualmente. Viver-se  dentro dos limites possíveis que o termo "sociedade" possa atingir. E é isto que estou agora oferecendo-lhe: que faça parte do meu rol de amigos. Esteja certo de que tal oferta é algo de valor inestimável. Lembro agora de quando aluguei uma plataforma à Petrobrás escutei um provérbio bem brasileiro, que reconhece o valor de uma verdadeira amizade: "Mais vale amigo na praça do que dinheiro na Caixa". O certo é que quando eu simpatizo com uma pessoa chego as raias de fazer-lhe o bem até mesmo à sua revelia. Certa vez um amigo explicou que estava decepcionado pelo seu trabalho não ter sido agraciado. Ao dizer das possibilidades do lobby que eu poderia incrementar em seu favor o cara respondeu que não queria ser premiado em razão de uma intervenção externa à organização do Nobel. Mesmo assim, foi premiado no ano seguinte ! Pois bem, a oferta que lhe faço agora; de que nós sejamos verdadeiramente amigos, nasceu das notícias a mim contadas pela Srta. Kari Kristiensen; - que, por sua vez foi informada pelo Doutor Björn B. Foram eles que  perceberam os seus méritos, Brzil; e a lealdade que tem à sua causa. Foi o que me garantiu que o senhor dispõe das virtudes necessárias para ser um dos meus amigos. " 


" E por falar na  Srta . Kari  Kristiensen,  ela parece que é a rocha mais alta dos fiordes noruegueses ...  "  

"Por detrás daquele distanciamento todo esconde-se uma personalidade muito sensível. Acredite,  Kari é uma bela pessoa.
E ela sabe muito bem que existem muitas pessoas fissuradas por ter um Nobel. Posso garantir que esta  fixação no prêmio não chega a ser um privilégio seu. Não fique pensando que é o único que encasquetou  em querer um Prêmio Nobel para seu país. Ano após ano muitas  são as pessoas que vêm aqui; todos com belíssimas folhas de trabalhos, belíssimas teses, mas certos de que somente a sua obra, somente o seu currículo, podem não ser  suficientes para vencer a premiação . "

"Mas se são muitos, qual seria o escolhido para a sua atividade lobista ? "

"Brzil, creio que chegamos ao "point of no return"; minha experiência diz que você vai ser um dos nossos. Então, já o tenho como um irmão. Pois bem, saiba que eu mantenho um conselho particular de informantes graduados -  a denominação correta é: " graduados plenos "  - que, em havendo empate nos níveis de amizade, eles - os "graduados plenos" - auxiliam-me a escolher  dentre os amigos, ou dos amigos dos amigos, quais estão mais aptos a receber os benefícios de nossa influência . "

Brzil continuava achando que era muito cedo para repelir a oferta de Robben. E jogou mais uma casca de banana .

"Perdão, estes  "graduados plenos" funcionam como seus assessores ,  estou certo ? "

"É isto mesmo, os "graduados plenos" vêm a ser meus assessores diretos. E são eles, nos quais confio de forma absoluta, que vão me dizer qual a obra, dentre as que me são trazidas, que deve ser  assumida por nós . "

" Pela experiência que tenho com estas situações ,  também acho que o senhor corre riscos de ser escutado por terceiros indesejados , de ter seus e.mails interceptados ... "

"Este risco não acontece comigo, Brzil .  E não acontece porque - para tais assuntos  -   eu ainda estou na era pré -postal  . "

" Ainda estou na era  pré-postal ? "

"Explico: como você sabe, aqui na Escandinávia todos vão à saunas; banhos públicos onde as pessoas só entram despidas , tenham o sexo que tiverem. Foi por aí que re- entronizei o costume que chamo "boca no ouvido ". Ou seja: quando eu quero falar algo para um "graduado pleno" eu - simplesmente - marco uma reunião numa sauna, onde - evidentemente - ninguém pode trazer um gravador escondido, simplesmente por não ter onde esconde-lo. Ou seja: toda a comunicação é feita "boca ao ouvido" , inexistindo qualquer chance de que as orientações dadas aos meus assessores sejam gravadas para uma hipotética e futura comprovação."

"Bom, mas isto seria factível em Oslo, em seus arredores. Mas, nos tempos de hoje  as pessoas estão em distâncias que não podem ser vencidas assim, facilmente ...  é aí que entra a necessidade da telefonia, dos e.mails ... "

"Também pensei nisto. Estás vendo aquele helicóptero ali estacionado. Na época do Nobel trago-o em regime de alerta total, pronto para, a qualquer momento, partir para um lugar, da Escandinavia -  região onde exerço meu trabalho solidário -  em qualquer ponto onde as reuniões  de sauna possam acontecer.  Ou seja, quanto à comunicação , não só estamos numa era pré- Graham Bell; mas, também, numa era anterior ao correio postal propriamente dito, aquela do homem a cavalo anunciando sua passagem pela vila para entregar cartas escritas a mão. Brzil, nisto tudo, só existe comunicação oral, e ao vivo. Nem mesmo telefone feito com  barbante  e duas  latas . "

Foi quando Robben  deu mais uma boa gargalhada .  Mas Ildefonso apenas sorriu .

"Sinceramente, jamais eu pensei que isto pudesse ainda estar acontecendo ... "  Emendou.  "Mas ainda tenho uma séria dúvida, Doutor  Hansen: Parece-me evidente que, ao não dar conta de fazer você mesmo a avaliação pessoal  - aquela que deveria ser feita pela sua própria pessoa - das muitas teses que participam dessa pré escolha, o senhor está transferindo para terceiros o poder real de tal, digamos  esquema. Mesmo com os cuidados em não ser pego fazendo explicitamente seu lobby, mesmo assim  estamos diante da possibilidade de que os seus  "graduados plenos " venham a se corromper, eis que se o senhor não precisa mais de dinheiro , os " graduados plenos "  certamente anseiam pelo  vil metal . "

"Sobre isto, a minha opinião é que em todas as relações humanas   chega-se a um ponto em que só nos resta confiar no outro - ainda que nem sempre o queiramos - em outras pessoas. Nem todos os cuidados do mundo  podem evitar que - em algum momento - sejamos obrigados a confiar em outro ser humano. E eu, sabendo disto, faço sempre uma triagem ultra cuidadosa dos meus graduados plenos,  além  de promover reavaliações de rotina sobre como  andam suas vidas. É o máximo que posso fazer. Mas fique  tranquilo Brzil, em muito anos de atuação, nunca tive uma só traição. Pelo menos que viesse dos meus assessores de lobby. " E deu mais uma gargalhada..






sexta-feira, 11 de julho de 2014

O premio - 47


Entrada do Instituto Norueguês do Premio Nobel da Paz - Em Oslo .  Foto tirada por  Ildefonso de Alencar .


A viagem de caminhão até Oslo correu tranquila. Os dois primeiros dias foram para conhecer a cidade. Quanto à reunião para a "Exposição de motivos sobre a falta da outorga do Prêmio Nobel da Paz para a Sra. Zilda Arns"  - este o título dado pela  Srta. Kari Kristiansen à audiência requerida por Brzil - ela foi marcada para  a terça-feira, às 4:00 p.m.  Na oportunidade, mas en passent, Brzil  também mencionaria outros nomes - como o dos Irmãos Villas Bôas; e também o nome do Marechal Rondon, que dizia  - contrariando o General Custer, por exemplo  -  que "morreria se preciso fosse; mas matar um índio, jamais ".         "E mesmo assim, nunca teve um Prêmio Nobel"  ... pensou o Ildefonso.  "  Sim, foram muitos os brasileiros; que foram desprezados ... "

Brzil, apesar de respeitar a premiação do Sr. Barack Obama,  perguntava-se ... ". E Dona Zilda Arns, que deixou  a vida cuidando de cidadãos haitianos no próprio território centro-americano , depois de ter entregue boa parte da sua existência em cuidados aos pobres brasileiros ... ? "

Aliás, até agora Brzil não sabia os motivos do prêmio da paz ser entregue à Barack Obama, no momento em que foi . " Este é um exemplo de que, quando a premiação vai para alguém menos merecedor do que outrem, nestes casos o Instituto do Nobel tem que reparar o que aconteceu por ação dos lobbys. " Refletiu Ildefonso .   

Às duas e meia saiu do hotel, que fica na Saint Olavs gate 26; e foi  andando no sentido oeste , do Instituto onde seria recebido. 

Muitas eram as dúvidas, as incertezas no seu espírito ; embora que respirar os novos ares da Noruega fizessem-lhe um bem enorme ; mesmo assim nunca esquecia de que - até agora - só conseguira confirmar os mesmos indícios com os quais desembarcara há meses na Escandinávia. De certo, de realidade mesmo, do que relativo  às  diversas linhas de investigação ... nada se confirmara   - além, é claro -  das desconfianças que há tanto lhe atormentavam.

Enquanto caminhava, os pensamentos borboleteavam na cabeça.  Passavam agora pela insegurança que sempre marcou a sua vida.

"se os nórdicos têm suas existências  protegidas pelo Estado; eu, como clandestino, fico  ao largo de quaisquer  regalias escandinavas."    " comigo é no osso do peito".  O que queria dizer-lhe , é  que tinha mesmo de suportar toda a carestia daqueles países somente com um sub-emprego no IFK Varnamo. Mas não se apavorava  ... tinha certeza que um dia a vitória chegaria para compensar  todos os sacrifícios que vinha enfrentando desde que saíra do Brasil.  " Quem sabe ... ? "

Chegou com meia hora de antecipação ao Instituto Norueguês para o Nobel da Paz, onde  tudo  já estava organizado para a audição. Foi recebido pela Srta. Kristiansen, e logo percebeu que o pessoal -  dentre eles os três Conselheiros que compunham a banca  do "The Norwigan Nobel Institute" -  foi-lhe bem  menos reverente do que o da Academia de Ciências da Suécia. E também menos atenciosos ;  no estrito sentido que o termo pode ter: o de alguém dedicar-se a perceber o outro .

Não só a Srta. Kari Kristiansen, mas também a própria Comissão, estiveram  sempre distantes, formais ... impessoais. 

Mas Brzil  não quis impressionar-se negativamente com isto. "Deve ser o jeito de ser deste pessoal do Instituto do Nobel da Paz. "

Mesmo assim desconfiou: " Pode ser que isto aqui seja  só para cumprir tabela".   Ildefonso usava o  "só para cumprir tabela"  para aqueles jogos de futebol de final de campeonato , quando nenhum dos times têm chance alguma de algo melhorar  na classificação final do campeonato ;  por isto,  os futebolistas jogavam sem qualquer empenho ou ambição futura e entravam no campo de jogo só pela honra da firma ; por serem filiados da Federação de Futebol.  "Só para cumprir a tabela", repetiu . 

Sim ,  a  palestra no Instituto do Nobel da Paz fora  marcada tão somente para cumprir a agenda solicitada por Björn B  à Senhorita Kristiansen.  Foi quando concluiu que aquele dia passou em branco para o seu plano: "a vinda à Noruega  foi em vão ..."

Mas logo depois arrependeu-se:  " ... não é bem assim ! Se um dos meus objetivos era poder gravar nas paredes do Instituto, com a voz do brasileiro que sou, a nossa irresignação  ... se assim eu fiz, Deus do céu; como posso dizer que este  dia foi perdido ?
Por isto tenho mais é que festejar  !  Festejar por ter dado mais um passo  !  "

Mesmo com a missão do dia cumprida, a  jornada reservaria emoções bem mais intensas .  É que algo estranho aconteceu .
Brzil, depois que saiu do prédio do Nobel da Paz , notou, pelo rabo do olho, que um homem seguia-lhe como se quisesse abordá-lo.

Apressou o passo, no que foi copiado pelo perseguidor , que ficou   lado a lado  com ele; mas quando já  estava  prestes a dar-lhe o bote Brzil decidiu surpreende-lo. 

"Pronto ! ; mesmo tendo chegado de caminhão à Oslo, ainda assim, a Imigração me achou. Égua, caralho ... , puta que pariu ...  !! ". Pensou, e repetiu;   - baixinho - mas aflito. O certo é que tais perorações Ildefonso só brandia em momentos extremos. E era o máximo a que se admitia. 

Não podendo andar mais rápido do que já fazia, Brzil estancou de repente; e num misto de medo e coragem gritou ameaçadoramente; mas em Português ? : "O que você quer comigo, seu filho da puta !"

Na mesma hora que falava, pensou: " Meu grito vai afugentá-lo, principalmente porque não deve falar uma só palavra de português."  

Já tivera experiência semelhante na Austrália quando, prestes a ser agredido por um maluco, gritou bem alto uma série de palavrões em Português, o que fez com que o seu quase agressor estancasse. Muito possivelmente pelo exotismo dos sons do português. O maluco deveria ter pensado: "este cara está prestes a me cravar uma faca ". E o deixou em paz.

Só que na Noruega enganou-se totalmente, porque o filho da puta não só compreendeu o que falava , como - também -  respondeu num Espanhol bem razoável: " Se o senhor quer mesmo ganhar um Prêmio Nobel para o Brasil , siga-me agora ! "

Tais palavras caíram como um raio na cabeça de Brzil. Mas o instinto de investigador vindo da leitura dos fascículos do Sherlock Holmes, falou mais alto. Ildefonso não recuou.  Pelo contrário, mudou completamente de ânimo,  passando a abrir um sorriso de zoreia a zoreia, como diziam seus velhos amigos: " É claro que eu quero o Nobel para o meu país ... mas como você descobriu isso ? "

O falso espanhol titubeou, mas o brasileiro não deixou a bola tocar no chão ... e  foi  para o tudo ou nada:  "A propósito, meu chapa; o que devo fazer para alcançar a honraria  ?  "

" basta que me sigas;  me acompanhando tudo estará resolvido para você. Se topar a parada, o seu país tropical abençoado por Deus agora vai ter um Prêmio Nobel  ... ! " 

"E esta agora ? " - pensou  Brzil ... ", ainda por cima o cara vem com versos de Jorge Ben ...  "país  tropical abençoado por Deus "   ... .  Bom ...   perdido por um, perdido por dez  ...  vou dar mais linha pro peixe  ... "    Continuou pensando.  

"  aonde você for eu vou ! " disse Brzil; com um sorriso aberto para o desconhecido. E assim foram , até chegar ao cais de Oslo .  


sábado, 28 de junho de 2014

O premio - 46

Subiu os degraus do Scania e abancou-se na cabina. No começo quase não podia comunicar-se com Karlson; mas, com as poucas palavras que lhes eram comuns, conseguiram dizer o essencial. Na beira da estrada, que finalmente o levaria à Oslo, a vegetação era principalmente de coníferas, com folhas verde escuro.    

Quanto à Brzil , ele apressava-se a pagar as tarifas do pedágio , como prometera à Johan Sven . 

As seis horas previstas para a viagem custavam a passar. Sem saber bem porque, o pensamento de Brzil foi para algo que sempre o instigara: a renúncia. Sim, o ato de renunciar a algo desejado. Ora, ainda que nada de profundo tivesse lido sobre o que fosse a renúncia , era evidente que o termo compreendia o abandono de um sonho, de um plano, de um amor, enfim - de algo que o sujeito queria muito que acontecesse .

Daí a simular a ideia de abandonar os seus planos na Escandinávia foi um pulo. " E se eu deixasse isto para lá ? Sim, porque se esta luta pelo Nobel é a minha tentativa de realizar um grande feito; renunciar a grandeza deste projeto só daria mais e mais importância à minha hipotética renúncia.  Sim ; porque ,  parece ser óbvio que quanto maior o sonho , quanto maior a paixão , quanto maior a encanação ... mais valorosa será a renúncia . "

O caminhão atravessava as planícies em boa velocidade; com Ildefonso meditando profundamente sobre a possibilidade de abandonar o plano de descobrir o porquê da falta das premiações ao Brasil  ...

A  resposta  a tal indagação  - " ... em nome de que eu abandonaria agora o meu sonho ? "      " Bela pergunta ." Pensou; para logo depois responder-se: "Renunciar  ...  talvez, em nome de evitar a  vergonha de sair expulso de um país do primeiro mundo; o que certamente se espalharia pelos quatro ventos; e, principalmente, para os serviços secretos do mundo todo . "

"Renunciar ... para deixar de ser visto como um lunático" ... que era  como vinha sendo olhado por todos nos últimos meses. Pouco a pouco aqueles rabos de olho, os tais olhares de soslaio, iam  minando a resistência que sempre afirmara: de não dar a mínima importância de ser apontado como um maluco. Só que chegava uma hora que isto começava a pesar desproporcionalmente em suas costas. "

Enquanto pensava isto, Karl foi fechado por um automóvel ...  "certamente dirigido por um dos muitos espíritos de porco que infestam as estradas pelo mundo afora". Aproveitou para trocar umas poucas palavras com Karl, para logo depois entregar-se de novo às próprias encucações. Ainda bem que a lucidez  que Brizl pensava dispor  ( ainda que isto fosse por muitos maliciosamente contestado )  já  fora demonstrada quando ao  ter assumido o time  infanto/juvenil do IFK Varnamo na oitava colocação,  trazendo-o para sagrar-se  lídimo campeão da temporada de 2014 . Mas, ainda que ele enfatizasse mentalmente a conquista esportiva como  prova de que ele não era louco,  o seu alter-ego  exigia que  aceitasse como possível  - provável mesmo -  que todas as pessoas pelo menos  tivessem -  como as  moedas - :  duas caras , uma  louca , e a outra certa.  

Embora não se achasse - nem de longe - um maluco ( e sorriu ao pensar assim : "mas qual o maluco que se acha maluco, Meu Deus ? ") ; e ,  menos ainda aquilo que chamam agora de bipolar; ainda assim ele, para ser verdadeiro como queria ,  não  tirava  a razão dos que lhe chamavam de biruta : sim, ele aos olhos dos outros, poderia ser tido como louco  por assumir uma causa - para dizer o mínimo - estranhável :   tentar comprovar que a escolha do Prêmio Nobel não é um acontecimento isento de esquemas.

Sacudiu-se rapidamente para os lados, assim como os cachorros fazem quando saem da chuva.  A sacudida serviu  para tirar da cabeça os pensamentos negativos ; ao mesmo tempo que exclamava :  "  Sarava, mi zifio ! "  repetindo  o dito que sua mãe e tias que ,  com bom humor , costumavam repetir  o pregão dos escravos africanos  trazidos para o Brasil , e cuja tradução livre poderia ser : " Me salve disto, minha divindade "   

Neste momento notou que a estrada , que tinha um traçado bem regular voltou-se abruptamente para a direita . Na verdade eles entraram no enorme posto de beira do caminho ,  em que Karlson costumava almoçar .

Um abraço ao Iraque .

Prezados Leitores !

Constatei que este blog recebeu a visita de um leitor do Iraque .  Seguem aqui meus votos de que meus escritos levem um pouquinho de diversão a alguém neste momento de aflição que vive àquela histórica região do planeta .

Amigo , um abraço !

José Amaral

quinta-feira, 26 de junho de 2014

O premio - 45

Chegou o seu dia na Academia Sueca de Ciências. Brzil foi até lá de taxi, sendo recebido à porta pelo doutor Björn B, que acompanhou-o até o interior da Casa; quanto ao alfaiate, ele já deixara no vestiário as vestes talares a serem usadas por Ildefonso que, na hora prevista, entrou  no salão acompanhado de Björn. Feita uma breve apresentação do convidado;  Brzil começou por olhar detidamente as estantes de livros centenários que circundavam o salão, enfatizando a circunstância do lugar. Os onze membros da Turma, indicada pela alta direção do Nobel, já aguardavam-lhe sentados em seus lugares. Depois do seu anúncio e estando presentes todos os componentes da "Alta Comissão para Análise dos Argumentos do Sr. Ildefonso de Alencar"; começou a defesa oral do brasileiro.  Preparado ele estava, desde o Brasil, vinha organizando dois tipos de defesas orais. A primeira era o que chamava de "via plena", pela qual faria uma defesa extensiva de suas teses. A outra só aconteceria se percebesse que a plateia não tinha condições, ou em verdade não queria, acompanhar uma dissertação extensa. Ao perceber que a maioria dos Conselheiros mostrava  desinteresse, decidiu pelo que já tinha chamado de "via rápida", sintética mesmo, mas que apesar de resumida, não deixava escapar nada da essência da obra de cada um dos representados.

Começou comparando  tacitamente  o trabalho premiado no  Nobel de Economia do ano de 1993 , com  o que - a seu ver -  deveria ter ganhado ,  afirmando ser uma " desconsideração incompreensível o prêmio não ter ido para os economistas que criaram o plano econômico que estabilizou a economia brasileira . Aquele que ,   segundo Ildefonso  -  "  resolveu o problema , que foi para o Brasil, a maior inflação da história humana". E prosseguiu : " Doutores,  desconheço o resultado futuro destas minhas solicitações , ou mesmo se elas vão resultar em algo de bom , de justo .  Mas ; ainda que só venha a restar desta minha oração os sons de minha voz cravados nestas paredes, a clamar por justiça aos criadores da verdadeira moeda brasileira : André ,  Clovis ,Edmar , Gustavo , Pedro , Persio  e Winston ;  mesmo  assim  peço-lhes  que reflitam sobre a feliz possibilidade de ainda  estarmos no  tempo natural ,  dentro das estipulações do Doutor Alfred Nobel , de que somente pessoas vivas  recebessem a láurea.  Convenhamos que, se um desagravo tardio  é  lamentável, o que jamais chega  é muito pior do que  todas as afrontas juntas . Sendo assim, sugiro que  Vossas Excelências, a qualquer tempo, desde que a tempo ,  busquem a  reparação do lamentável lapso: aproveitem a sorte de todos os honoráveis estarem aptos - e muito aptos - a  cumprir a estipulação do fundador ,  para conferir-lhes a honra maior outorgada por  suas pátrias !  . Mãos a obra , Doutores ! "

Logo a seguir passou a examinar as  obras  dos diversos literatos anteriormente mencionados por ele à Björn B.

Foi neste instante que ouviu o ronco de um dos membros da mesa. Até agora Brzil tem certeza de que o homem não dormia, só roncava para diminuí-lo, para depreciá-lo. Mas ele não se intimidou. Foi em frente.  E estava tão atento que ouviu claramente o arroto de um dos examinadores. Mas, "graças a Deus" ( pensou )  que contrapondo-se à grosseria, notou que tinham dois ouvintes  que torciam por ele. O primeiro era o doutor Björn B, que com meneios de cabeça aprovava tudo o que o seu amigo brasileiro dizia.  O outro era o doutor Dag Hammar que, totalmente voltado para o brasileiro,  acompanhava toda a fala, chegando a -  de vez em quando - conferir  as  citações de Brzil  com os textos que Ildefonso trouxera do Brasil para a Academia . Assim, Brzil falava como aquele músico que, ao tocar para uma plateia desatenta, ou mesmo hostil, descobre no auditório uma pessoa curtindo a sua arte; passando a apresentar-se tão somente para o ouvinte que o reconhece, suprimindo do cérebro as pessoas que lhe são adversárias .

" ..  pelo menos estou conseguindo ser ouvido por alguém. "  Festejava  Brzil .    

Ainda que sua defesa  não estivesse sendo um sucesso de público  -  alguns dormiam solenemente - Brzil continuou firme, e sempre obstinado. A seguir, falou longamente sobre os escritores brasileiros que, a seu entender, foram esquecidos pela premiação do Nobel .

Foi quando um dos Conselheiros aparteou :

"Apesar de estarmos muito honrados com vossa presença, Doutor Ildefonso;  apesar disto, devo informá-lo que a escolha do prêmio Nobel é feita por um comitê independente, denominado de "Comitê do Nobel"; ou seja, quase inexiste responsabilidade nossa, sobre os resultados, eis que a pré-eleição é feita - como eu disse - por um comitê independente . "

"Excelência, informo também conhecer o iter da premiação, mas  posso dar-lhe a minha certeza de que o fato do raio não cair duas vezes no mesmo lugar torna  lógico que ele deva - em algum tempo bem razoável; eu diria, num tempo relativo -  cair, ainda que aleatoriamente, pelo menos uma vez em todos os rincões. Mormente porque não é pequena a quantidade de raios que cai anualmente . O que venho aqui instar-lhes, é que já é passada a hora de Vossas Excelências explicarem por quê vosso raio nunca caiu no Brasil. Senhores, pelo que me é dado a saber, as triagens são finalizadas a cada mês de Agosto, gerando uma lista dos candidatos que é submetida ao voto do Comitê do Nobel, tendo este a missão de apontar os vencedores . Donde se pode concluir que , é  do Comitê do Nobel  o  condão de apontar o lídimo vencedor. Por isto,  prepondera sim - Excelências -  a vontade desta Casa na escolha do Prêmio Nobel. "

Neste momento o conselheiro que dormia, acordou: " Pelo que eu ouvi , o senhor esqueceu do Paulo Coelho . "

"Não foi esquecimento, Ilustre Doutor. É que o rol aqui trazido originou-se em um sorteio feito pela minha própria pessoa com a finalidade de limitar  ao razoável a imensa relação de  notáveis , selecionados por mim , como merecedores do prêmio."

"Veja, então, que o seu raio nunca acertou o Paulo Coelho . "

Neste momento, como que se contrapondo ao que ouvira , Dag  Hammar, aquele conselheiro atento,  levantou a voz . 

"Preclaro Dr. Alencar, vou formular uma pergunta ; a qual , desde já aviso , não está dentre os assuntos da pauta proposta por Vossa Excelência ... "

" O que este cara foi descobrir de mim , meu Deus ?"  ;   mas ficou calado, esperançoso de que o que viesse de Dag fosse algo sem maior importância .

"Doutor Alencar; o senhor conhece o livro " Obrigado por não ter dito adeus ? ". Foi quando todos os Conselheiros acordaram, surpreendidos que foram  pelo inusitado da pergunta. E levantaram os olhos diretamente para Brzil.  Mas, entre os que mais se admiraram foi Björn, que se voltou todo para o amigo com  um golpe seco de pescoço; mas logo aquietando-se, quase que enrodilhando-se no assento, para exteriorizar que queria  permanecer calado para assim expressar sua  falsa tranquilidade quanto ao resultado da inquisição .

Quanto  a Ildefonso,  ele permaneceu calado , olhando para o chão próximo  e sem responder .
 
"Ilustre Convidado, sou obrigado a repetir minha pergunta ... "  disse o conselheiro, passando a levantar a voz, e marcando os esses e erres de sua fala:  "...  o senhor conhece o livro " "Obrigado por não ter dito adeus"  ? "

E Brzil ,  com as feições hígidas,  respondeu :  " Desculpe-me ,  Excelência , mas este tema não está dentre os que eu me propus  a dissertar ... "

"Talvez infelizmente, mas eu necessito agora lembrar-lhe de uma das particularidades do nosso regulamento é que todo aquele que pede para ser ouvido por esta Casa deve estar preparado para responder a todas as questões  - ainda que não diretamente ligadas ao tema principal - desde que não sejam de cunho pessoal possam, ser livremente  perguntadas por quaisquer dos Conselheiros. Enfim, tudo que possa conduzir-nos a avaliar o que for necessário, e na maior amplitude possível, para o conhecimento não só do que é reclamado; mas, também sobre a que vem o reclamante. É por assim estar no artigo 128 do regulamento criado pelo próprio fundador  desta Casa; o Ilustríssimo Doutor Alfred Nobel. Por isso, e com as vênias de estilo, pergunto-lhe pela terceira vez : " O senhor conhece o livro  Obrigado por não ter dito adeus ? "  

A pequena plateia estava paralisada.  "Qual importância poderia ter aquele livro dentre os muitos milhares de originais já trazido às Comissões do Nobel de Literatura nestes cem anos ? " 

Brzil, naquele momento, só fazia pensar. Na verdade procurava ganhar tempo, para achar uma saída. " Creio que este velho quer que eu repita São Pedro. Quer que eu negue por três vezes a resposta pela qual anseia. Não vou chegar a tanto ... vou contra-atacar com uma negativa geral ...  "

E quebrou o seu silêncio: "Mas isto foi a tanto tempo ... lembro-me que foi na época da guerra das Malvinas, eu era muito jovem ... eu tinha só vinte e dois anos, mas lembro que já era uma pessoa preocupada com a posteridade ... "

" Agradeço por ter confirmado ser o  autor  de  " Obrigado por não ter dito adeus", Senhor Ildefonso Alencar.  "

"Sim  ... Excelência ... fui eu quem o escreveu ... Ilustre Conselheiro ...  Fiz pretendendo diminuir  minha culpa , por não ter  tido um filho - e por já saber que nunca viria a tê-lo ;  e também porque  - apesar de ter plantado algumas árvores - elas não chegaram a prosperar. Talvez  por não as ter regado ou porque, 
tampouco, pus o adubo necessário, a tempo de pegarem. O certo é que todas elas acabaram morrendo. Com o livro pretendi diminuir meu remorso. Foi por isto que o escrevi . "  

Seu devaneio foi quebrado pela volta da voz gutural do bom conselheiro: " Pois saiba que eu fazia parte da Comissão de escolha em 1983 -  ano em que seu livro foi indicado ao Nobel; e o senhor teve em mim um dos seus poucos votos. Permita-me uma pergunta, para mim esclarecedora do seu íntimo, Doutor Ildefonso. E o  apotegma ?   Sim qual era o apotegma com que abriu sua importante obra ? "

Brzil gelou, ao mesmo tempo em que se regozijava por ter feito o retiro espiritual no Zu Lai, e por ter praticado incansavelmente nos quartos  dos hotéis onde dormia  agora o "método de limitação forçada de exteriorização de sentimentos emotivos" .  Sim !  Os céus fariam com que  conseguisse permanecer altivo ,  superior aos seus inquisidores ,  afinal - ali ele era o Brasil. "Sem tremer ou chorar seu  ... seu ... seu Ildefonso! E com cara alegre, seu bosta ! "  falou consigo mesmo .

Tais pensamentos serviram, pontualmente, para reforçar a autoestima de Brzil ;  descontraindo suas  feições. Mas foi  por pouco tempo; voltando  logo a falar tão baixo que alguns conselheiros tiveram que botar  as mãos em concha nos ouvidos na tentativa de decifrarem o que dizia .

" Sou muito grato pelo seu voto para  que eu viesse a vencer o Nobel , doutor Dag !  Lembro-me ,  ainda, o que o meu personagem afirmava sobre a ética :  Que segundo ele ;  a partir de algum momento histórico  futuro e próximo - e estamos agora no ano de 1972  ,  o termo ética não mais poderia ser expressado  em sua  forma  até  então conhecida como natural .  Ou seja ,  dissociada  de um complemento  para que , então ,  pudesse  levar uma ideia  possível de ser entendida pelo receptor dela ... "

"É isto ... é isto mesmo !  ... lembro-me que seu personagem dava exemplos do termo ética, que - segundo ele - a partir de um tempo que aconteceria brevemente, só poderia ser entendido quando associado a um complemento, um outro significante, algo como" ética relativa "  ...     "ética possível ". Uma que não esqueci era a ética  boomerang; que seria aquela que depois de um breve voo volta-se  contra os interesse do  praticante. Mas o que o personagem queria mesmo marcar é que tal era a dureza desses tempos que de agora em diante uma parte só poderia ser ética na medida em que o outro lado  também fosse; sem o que não conseguiria sobreviver em qualquer ambiente, fosse ele o de um pequeno nicho, ou o do universo inteiro."  Festejou o Conselheiro Dag .  

Foi quando o próprio Dag Hammar, interrompeu  a sua  explanação, para continuar batendo na mesma tecla:

"Doutor Ildefonso é comum, quando escolhemos um apotegma para a abertura de uma nova obra ... é  comum  que o saibamos de cor. Isto posto, solicito-lhe que  - se  souber de cor -  declame-o para esta Comissão as breves palavras de abertura de seu livro ? "

Brzil pensou: " E esta agora ?   Onde este anão de jardim quer chegar ? "   Mas seu pensamento foi logo interrompido por Dag Hammar :

"Por favor, Doutor Ildefonso, não nos faça esperar. Aproveito para avisar-lhe de que não deixar perguntas sem respostas pesará a seu favor em todos os momentos que, estou certo, estão por vir. Declame o apotegma, Doutor  Ildefonso !!  " disse, levantando a voz .

" ... Enquanto caminhava pelo deserto, um homem encontrou uma mulher solitária, parada, de olhos voltados para o chão , e lhe perguntou: " Quem é você ? "   E ela: " A Verdade ".  " E por que motivo deixou a cidade e está morando no deserto ? ", tornou ele .  Ela respondeu: " É que , em tempos passados, a mentira era companheira de poucas pessoas, mas hoje, sempre que você quer falar ou ouvir alguma coisa , ela está com todos os homens . "

Trata-se de uma fábula de Esopo -  " O viandante e a Verdade " que muito me impressionou , Doutor Dag Hammar . "

" E Sua  Excelência  teria algo a mais a nos informar sobre o seu livro ?  "  

" Também recordo-me que o meu personagem principal , de Obrigado por não ter dito adeus, negava a possibilidade de que -  em qualquer tempo -  alguém pudesse segurar duas bandeiras  que contivessem ideias antagônicas, conflitantes mesmo; e, ainda assim, ser considerada uma pessoa proba . "

Neste momento pigarreou, para logo depois, ainda falando quase que imperceptivelmente, recompor-se : " Sim , mais uma vez confirmo que fui eu quem redigiu tal escrito. Mas, logo depois de publicá-lo arrependi-me por tal criação. E passei a tomar todas as providências para retira-lo de venda. Comprei , em todos  os pontos onde os encontrasse a venda, todos os exemplares. Sim, todos os que estavam em comércio. "

Neste ponto suas feições fecharam-se  mais , como se isto ainda fosse possível . 

"Só restaram - pelo que sei - os de um sebo de Nova Iorque, porque o valor pedido pelo livreiro era alto demais para o meu bolso. "     

Dag aparteou :

"É isto !  É isto mesmo !   seu personagem dava o exemplo de que  o termo ética, dali para frente, só poderia vir adjetivado ,  ou com um aposto que permitisse, enfim, a possibilidade de sua compreensão, como  ética relativa, por exemplo. Ou melhor,  o que o senhor queria passar  é que, dali para frente, as pessoas só podiam ser éticas na razão direta do quão ético fosse o seu concorrente. "

Disse o Conselheiro Doutor, quase que festejando o fato de estar a pouco de decifrar a obra do brasileiro.  Mas foi ele, Ildefonso, quem voltou a falar.

"Sim, reitero que fui eu mesmo quem redigiu tal escrito ;  e , logo depois de publicá-lo me arrependi de tal criação. E tomei muitas providências para purgar meu erro, dentre elas a de excluir da internet todas as referências a tal manuscrito; a outra foi tentar recomprar os livros, por onde os encontrasse a venda.  Cegamente eu os recomprava  - para serem incinerados logo a seguir - . E com  grande satisfação queimei todos os exemplares que achei disponíveis e pude adquirir. Só não consegui os de um sebo de Nova Iorque, porque a quantia estava muito além de minhas possibilidades.  Talvez porque era um momento em que a moeda brasileira estava muito desvalorizada . Sei lá ...  "

Voltando-se para o Conselheiro Dag Hammar: " Aproveito para  confessar  , Ilustre Doutor  Hammar , que  eu teria uma grande  alegria  , inesquecível mesmo ,  caso o senhor aceitasse vender-me o exemplar que, penso, ainda está em seu poder. "

Dag respondeu com voz extremamente educada: " Doutor  Ildefonso , sinto muitíssimo , mas meu exemplar não está a venda.   Aproveito para informar-lhe  que eu ingressarei com o recurso cabível junto à Comissão do Nobel  para que sua obra seja reexaminada pela Academia. E quase concluo minhas manifestações  com mais uma pergunta que; -  como sempre -, o senhor responderá se quiser: " Qual o motivo do senhor renegar com tanta determinação a sua bela obra Obrigado por não ter dito adeus;  Doutor Alencar ? "  

Neste momento as faces de Brzil ruborizaram-se; para, então, com voz ainda menos audível, balbuciar: "É que ... é que ... em tal livro - na verdade uma quase ficção - eu relatei o envolvimento profundo do personagem principal com uma senhora ilustre da alta sociedade de um país escandinavo. Mas tal personagem, é claro que fictícia,  era casada . Com o passar do tempo , certas semelhanças foram aflorando ; e foram estas  mesmas  coincidências que  trouxeram-me remorsos que, só diminuem quando  eu consigo  retirar das livrarias mais exemplares do opúsculo , e - tão imediatamente quanto possível - queimá-los. De 3000  já queimei ...   "    neste momento pegou uma pequeníssima agenda negra do bolso ...  "sim, já queimei 2.973 exemplares . "Mas, desgraçadamente 27 ainda estão por aí, mundo afora, ainda que eu tenha jurado solenemente que resgataria.  Todos. "

" Quantos estão em Nova Iorque ,  doutor Ildefonso ? "

"Bom, até quando pude acompanhar , 18  estão no livreiro de lá . "

"E o senhor poderia pormenorizar  o motivo , provavelmente  o fator econômico  que o levou a não adquirir os quase últimos  18 exemplares fora de suas mãos;  e em poder  do livreiro americano ,  preclaro Doutor ? "

"Foi o meu olhar ... sim, foi pelo meu olhar que perdi a chance .. " 

Os conselheiros miraram-se como  se tivessem dizendo: " E essa agora ? "

Com a voz cada vez  menos intensa, Dag Hammar interferiu novamente: " O que poderia ter a ver o seu olhar com a impossibilidade de resgatar,  das mãos do livreiro , os 18 exemplares que ele detém, doutor  Ildefonso ? "

"Sim ,  ...  veja, quando voltei para o Brasil, restou  aquele espinho fincado em minha garganta: Por que o comerciante cobrou  o estratosférico preço de 439 dólares por exemplar , meu Deus ?   Por que ? "                       "  Por isso tive, tão prontamente quanto me foi possível, de  voltar à Nova Iorque: para perguntar-lhe sobre o motivo  do preço enlouquecido ;  "

"E daí Doutor  De  Alencar ??   O que o seu olhar tem a ver com tais 439 dólares por exemplar, homem de Deus ? ? " 
Atacou Dag Hammar , como se fosse uma caninana .

"Perguntei-lhe ... e ele me respondeu: "percebi que eras um novato ... senhor ...  porque, quando os meus clientes mais antigos -  os que já me conhecem - desejavam muito um determinado livro, tentavam enganar-me sobre seus mais profundos desejos ao misturarem o exemplar  ambicionado entre diversos outros exemplares que me apresentavam; estes, sem qualquer importância para tais compradores. Tudo isso  na tentativa de camuflar a compra,  impossibilitando-me de valorizar o livro na razão direta de suas necessidades. Sim ! queriam que eu confundisse qual, dentre tantos exemplares, seria aquele o seu real objeto de desejo. Daí eu ter tomado, dentre outras, a providência de proibir que pessoas entrassem com óculos de sol em minha loja. É que os  tais 
óculos de sol, impediam que eu percebesse os seus olhares. Andaram dizendo que esta teria sido uma medida ditatorial da minha parte, e talvez o fosse mesmo. Mas ela muito ajudou-me a que conseguisse - pelo brilho nos olhos - perceber qual era o livro ansiado; para - assim -  valoriza-lo na razão direta do interesse do comprador  ... tudo porque, quando chegava a vez do livro perseguido, seus olhos brilham muito mais intensamente do que para  os demais volumes  ...  . " E concluiu sua fala afirmando que, com o advento dos e.books ele, o mercador de livros , sentia muito, inclusive pela perda de importância  de  certas técnicas aperfeiçoadas através dos séculos.  "Foi quando respondi  ao esperto:  Mas e comigo, que quis adquirir  somente livros verdadeiramente pretendidos ... ,  que não misturei  exemplar algum aos que eu de fato quero  comprar  ?  Se não havia qualquer diferenciação nos meus olhos, por que aumentar o preço de cada exemplar para 439 dólares .

"Com o senhor  ... foi o olhar. Foi o seu olhar, cavalheiro.  Assim é que, mesmo tendo percorrido somente a metade do processo , mesmo assim  o seu olhar foi como uma aurora boreal numa noite de inverno, serpenteando selvagemente por todos os 18 exemplares ...  e, pela escala de  fulgor que mantenho catalogada, tal brilho  mostrava a quase infinita vontade de o senhor obter todos os exemplares, todos eles em suas mãos ...  o que pela mesma classificação, chegava a 439 dólares por exemplar. Tenho certeza de que por este preço; mais dia, menos dia, o senhor pagará  mesmo os 439  dólares.  E comprará todos os que eu não tiver vendido . "

E Brzil arrematou entre dentes: " É o que eu tenho a dizer.Agradeço a atenção de tão ilustre plateia,  dando  por concluída a minha intervenção . "

Foi quando o presidente da mesa encerrou a audiência: " Senhores Conselheiros, ao declarar encerrada esta seção prometo ao ilustre visitante que suas solicitações - todas elas - serão levadas ao nosso Colegiado Maior, que é o tribunal competente para decidir sobre tais indagações. A Seção está terminada ."

Os ouvintes ainda estavam atônitos quando Björn B foi quase que  catapultado de sua cadeira ; mas só para abraçar o amigo: "Por que você nunca me contou do livro ? "

" Foi como ter confessado um crime ."   Respondeu Brzil .
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