Paulo Gomes , o irmão , era pessoa forjada na dureza de muitos acasos e adversidades . Pituca , seu pai , trocou quase que totalmente a criação de ovelhas pelo gado . Tudo porque logo depois da guerra a invenção e vulgarização de fibras sintéticas , o nylon , arrasaram com o preço da lã . Agora , ovelha para tosquiar era pouca . Quase nada . O forte mesmo era a produção de gado de corte . Mesmo antes de comprar as terras da fazenda Curunilha , os pais de Pituca já tinham uma charqueada na Hulha, que agora definhava . Tudo porque a conservação da carne com sal , que vinha de 1860 , quase que chegara ao fim de seu ciclo . Atualmente , a carne agora poderia ser vendida enlatada com o nome de corned beef ; ou , no idioma local : presuntada . Grande parte dela , também , era frigorificada seguindo por estrada de ferro até o porto do Rio Grande e daí para os mais distantes lugares . A frigorificação ficou sendo possível por causa de uma usina elétrica movida a óleo de petróleo . Assim era a vida de Paulo , ainda quase um menino - mas já participante do dia a dia da propriedade . Forjava-se o caráter da criança , dentro dos limites que a vida pastoril permitiam . Quando fez dezoito anos Pituca mandou-o para a capital , matriculando-o num bem afamado colégio . Paulo nunca deu maior atenção aos estudos , variando entre aproveitamentos escolares medíocres e outros ainda piores do que esta classificação . Desentendeu-se logo com os familiares - um tio distante - que Pituca pediu para com eles morarem , e logo procurou um lugar totalmente diferente onde podia respirar - ainda que cedo demais - os ares da independência . Buscou com cuidado um lugar para morar , já demonstrando - desde aquela idade - que tinha algum conhecimento de negociação . A dona da casa , de nome Flora , Dona Flora , caiu na história do menino : " vim desde a fronteira estudar aqui na capital , posso adiantar uns dois meses de aluguel desde que a senhora me dê um bom desconto , meu pai me manda dinheiro todos os meses , vem pelo ônibus , a senhora pode ficar tranquila " . O quartinho era nos altos da casa numa rua mal afamada ; duas pessoas , em dois pequenos - mas independentes - cubículos dividindo um pequeno banheiro . O quarto do Paulo era o do lado do banheiro e surpreendeu-se com o bom estado de sua limpeza . Como o contrato fosse sem mobília , comprou ali por perto uma cama com colchão e um guarda roupa . Tudo sem gastar muito da boa mesada que Pituca mandava religiosamente. Já estava na segunda noite que dormia no quartinho e não aparecera o vizinho do quarto ao lado . A noite fechava-se a chave , mas na última ouviu por mais de uma vez alguém subindo e descendo a escada . Na verdade subiam duas pessoas , para depois descer uma só. Na manhã do terceiro dia , por acaso ou curiosidade , deixara entre-aberta a porta de seu quarto , que era no pequeníssimo - uns dois passos - corredor . Dava mais de dez horas da manhã quando ouviu os passos como pés quase saltitando. Vinha do vizinho a visão que o fez tremer muito , da cabeça aos pés : mas não era vizinho não , era sim uma vizinha , loira bem alta ; muito , muito jovem , cabelo meio cor de fogo , que passara para o banheiro vestida apenas de uma camisa de pijama bege, para voltar daí a poucos minutos . O menino rescém chegado da fronteira nunca tivera - nem de longe - uma visão como aquela e não sabia o que fazer . Se corria para o quarto dela ( mas ela poderia ser casada e só ter saído com o casaco do pijama por um descuido , eis que Paulo só estava ali há dois dias ) . O melhor , o mais sensato era fechar a porta , respirar bem fundo e dedicar-se de corpo e alma a única alternativa a qual poderia se entregar num momento daqueles .
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Marcadores
abriram
acariciavam-se
acaso
Adhemar
África
ajoelhar-se
alcance
Alegrete.
alemão
alma
Almerinda
amizades
amor
anônima
antítese
apartamento
apresentação
Aramis
arataca
Argentina
argumentos
arranjado
asas
Athos
atracar
atrevimento
Austrália
autor
aviso
aziaga
balzaquiana
banco
bandido
Banho
barrigas-verdes
Becerra
Becerras
Bicicleta
bienvenidos
binóculo
biógrafo
blusa
Boca de Ouro
Boca do Monte
Bóldedalma
Boleto
bolso
borbotões
bordel
Brasília
Brown Cow Bank
bruxuleante
Bubi
cabaret
cabeça
cabelos
Caçapava
cachorro
cadeado
cadeia
calado
calça de baixo
cama
campeia
canalha
capa-e-espada
capa-pretas
capital
capítulo 1
capítulo 12
capítulo 13
capítulo 14
capítulo 15
capítulo 16
capítulo 17
capítulo 18 A
capítulo 18 B
capítulo 19
capítulo 2
capítulo 20
capítulo 21
capítulo 22
capítulo 23
capítulo 24
capítulo 3
capítulo 4
capítulo 47
capítulo 48
capítulo 49
capítulo 5
capítulo 50
capítulo 51
capítulo 52
capítulo 53
capítulo 54
capítulo 55
capítulo 55 R2
capítulo 56
capítulo 57
capítulo 58
capítulo 59
capítulo 6
capítulo 60
capítulo 62
capítulo 63
capítulo 64
capítulo 65
capítulo 66
capítulo 67
capítulo 68
capítulo 69
capítulo 70
capítulo 71
capítulo 72
capítulo 73
capítulo 74
capítulo 75
capítulo 76
capítulo 77
capítulo 78
capítulo 79
capítulo 80
capítulo 81
capítulo 82
capítulo 94
capítulo 95
capítulo 96
capítulo 97
carancho
Carlão
Carlos Gardel
Carmem
casamento
casariam-se
castrava
Caverá
cerveja
cervejaria
champanhe
Chatô
chefatura de polícia
cidadezinha
ciências humanas
classe
Claudia Cardinalle
Colcabamba
Com Chaveco
complacente
comportadamente
confidenciou
confraria
confusão
consumaria
Coração
corazón
corredor
Correio do Norte
crise.
Curunilha
cusco
D ´Artagnan
D´Artagnan
D´Orsay
datilografia
declama
dedicação
democraticamente
desculpa
desembarque
destino
determinar
detetive
Deus
devastação
diário de bordo
dinheirama
dinheiro
Dionísio
Dirceu
disfarçou
Dona Almerinda
Dona Flora
Dona Julietinha
Dona Marica
Dotô
Doutor
Elizabeth Taylor
Emagrecido
embolsar
empreitada
Encargo
enganando
enrodilharam
equívoco
Ernesto
ERP
esbaforida
escolha
escritos
escuridão
espalhar
esquerdo
estafermo
estância
estancieiro
este blog
estudos
Eunuco ou Hermafrodita?
Europa
evidente
F100
fazendeiros
fechadura
Federal
ficção
filosófico
fim
final B
fineza
fita
flores
fofocas
fortuna
Fortunas
frigorificação
fronteira
fronteiriço
furgão
futuro
galena
gaudério
Gauguin
gente
ghost writer
Gian
Giancarlo
Giancarlo Petrucci
gran- puta
grávida
gritando
Gualter
Guapos da Fronteira
guarda-chuva
Guilain
guri
herança
hipotesis
História
honra
horizonte
Hulha
imaginação
independentes
índio maula
intensamente
internacionales
interrupção
Ipanema
irmandade
italiano
J. Proudhon
Joaquim
jogos de Eros
Jorge Luis Borges
jornalista
José Amaral
Judas
Julietinha
junção
ladrão
Lagoa da música
lágrimas
Lampião
lembrar
Leonel
liberação
lições
Lisboa
literária
Livro
lógica
lolitas
Londres
Lotto
Lua de Mel
madrugada
madura
mafiosos
Maranhão
marido
Mastroiani
matador
Mecenas
Mediterrâneo
memórias
menino
Mercedes
mesa
Milczarek
missão
moça
moças
molestado
molhados
monastério
Mosqueteira
Mosqueteiro
mosqueteiros
mulher
mundo
naba
Namorada
namorado
navio
negócio
nosotros
novo-rico
novos mosqueteiros
NRBZ
nudez
O Cruzeiro
Oficial
oficial italiano
Old Parr
olvidastes
Oriental
Pá
pagos
paixão
palavra
Paniagua
Paraguai.
parente
Paris
pastor
patrimônio
Paulo
Paulo Becerra
pecuniárias
Pedro
pentear
pernambucano
perseguição
Pio XII
Pipoquinha
pistoleiro
Pituca
plagas
plata
platônica
Polaquinha
polaquinha.
portão
Porthos
Porto Alegre
português
Portunhol
povo assassino.
prazo
Prendoca
primeira
Professor Pery
promessa
propriedade
pulgas
Pulo Becerra
Punta del Leste
quadradinha
quebra-cabeças
quéra
Quita
raça
raros
rataca
Recife
relógio
remessas
Renguiá
República Oriental
reunião
Rio
Rio de Janeiro
Rio Grande
roleta
Roma
RPGS
Rússia
Salustiano
San Martin
Santa Maria
Sapiran
segredos
segurança
Sem Chaveco
Serra
sessões
Seu Salim
Severino
Sevilha
silêncio
Silvério
sonhar
Sul
Taquarembó
Tchê
te amo
tenente
teorias
tesouro
Thaiti
Toscana
traído
trampa
tranquila
transposto
travesseiro
Três Mosqueteiros
única
urdida
urso-panda
Uruguay
Valéria
Vaticano
Velho Testamento
verdade
vereador
viagem
Vigo
Vinícius de Morais
Vinicius Gullar
Violão
Vira-Latas
vitória
Zé Manél
Nenhum comentário:
Postar um comentário