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quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Julietinha e o oficial do vapor - 13

Paulo Gomes , o irmão ,  era pessoa forjada na dureza de muitos  acasos e adversidades  .  Pituca , seu pai , trocou quase que totalmente a criação de ovelhas pelo gado . Tudo porque logo depois da guerra a invenção e vulgarização de fibras sintéticas , o nylon ,  arrasaram com o preço da lã . Agora , ovelha para tosquiar era pouca .  Quase nada .  O forte mesmo era a produção de gado de corte .  Mesmo  antes de comprar  as terras da fazenda Curunilha  , os pais de Pituca  já tinham uma charqueada na Hulha, que  agora definhava . Tudo porque a conservação da carne com sal  , que vinha de 1860 ,  quase que chegara ao fim de seu ciclo .  Atualmente , a carne  agora poderia ser vendida  enlatada com o nome de corned beef ;  ou , no idioma local : presuntada .   Grande parte dela , também , era  frigorificada seguindo por estrada de ferro até o porto do Rio Grande  e daí  para os mais distantes lugares .  A frigorificação ficou sendo possível por causa  de uma usina elétrica movida a óleo de petróleo .  Assim  era a vida de  Paulo ,  ainda quase um menino - mas  já participante  do dia a dia da propriedade .  Forjava-se  o caráter  da criança ,  dentro dos limites que a vida pastoril  permitiam .  Quando fez dezoito anos Pituca mandou-o para a capital , matriculando-o  num  bem afamado colégio  .  Paulo nunca deu maior atenção aos estudos , variando  entre  aproveitamentos  escolares  medíocres  e outros  ainda piores do que esta classificação  . Desentendeu-se logo com os familiares  -  um tio distante -  que Pituca  pediu  para com eles morarem ,  e logo procurou um lugar totalmente diferente  onde podia respirar - ainda que cedo demais - os ares da independência .  Buscou  com cuidado um lugar para morar  , já demonstrando  -  desde aquela idade -  que  tinha algum  conhecimento de  negociação .  A  dona da casa , de nome Flora , Dona Flora ,  caiu  na história  do menino :   "  vim  desde a fronteira estudar aqui na capital , posso adiantar uns dois meses de aluguel  desde que a senhora me dê  um bom desconto ,  meu pai me manda dinheiro todos os meses , vem pelo ônibus , a senhora pode ficar tranquila " .  O quartinho era nos altos da casa  numa  rua mal afamada ;  duas pessoas , em dois  pequenos  - mas independentes -  cubículos  dividindo  um pequeno banheiro .  O  quarto do  Paulo  era o do  lado do banheiro e surpreendeu-se com o bom estado de sua  limpeza .  Como o contrato  fosse sem  mobília ,  comprou  ali  por perto  uma  cama  com  colchão  e um guarda roupa . Tudo sem gastar  muito da boa  mesada  que Pituca mandava  religiosamente.  Já estava na segunda noite que dormia no quartinho e não aparecera o vizinho do quarto ao lado .  A noite fechava-se a chave , mas na última  ouviu por mais de uma vez alguém subindo  e descendo a escada . Na verdade  subiam duas pessoas , para depois  descer  uma só.  Na manhã do terceiro dia ,  por acaso  ou curiosidade , deixara  entre-aberta a porta de seu quarto , que era no pequeníssimo - uns dois passos -  corredor   .  Dava mais de dez horas da manhã quando ouviu os passos  como  pés quase saltitando.  Vinha  do vizinho  a  visão  que o fez tremer muito , da cabeça aos pés :  mas não era vizinho não , era  sim uma vizinha ,  loira bem alta ; muito ,  muito jovem ,  cabelo meio cor de fogo ,  que  passara  para o banheiro vestida apenas de uma camisa  de  pijama  bege,  para voltar daí a poucos minutos .  O menino  rescém chegado da fronteira nunca tivera - nem de longe - uma visão como aquela  e não sabia o que fazer . Se corria para o quarto dela ( mas ela poderia ser casada e só ter saído com o casaco do pijama por um descuido , eis que Paulo só estava ali há dois dias ) .    O melhor , o mais sensato era fechar a porta  , respirar bem fundo  e dedicar-se de corpo e alma a única alternativa a qual poderia  se  entregar  num momento daqueles  .



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